MEADOS DA DÉCADA
DE 1950 – NOSSO COTIDIANO
A vida social, artística e romântica de juventude
que não volta mais
Esta
Terra, pelo seu isolamento geográfico, criou uma
gama de sentimentos que raramente se encontra em outros
lugares. É bem verdade, que as cidadezinhas de todo
interior, tanto brasileiros, em especial na região
de nossa campanha da Metade Sul, no Uruguai, Argentina,
nossos vizinhos mais próximos, também, são
assim, mas Santa Vitória do Palmar, Chuí e
as proximidades faziam que a idiossincrasia do povo estivesse
diferenciada dos grandes centros urbanos e de outras regiões
do mundo.
Fomos, por muito tempo, uma ilha de diferenças que
levamos até hoje, os mais velhos, homens e mulheres,
dentro do coração para sempre, mesmo que agora
o contato rápido com todos os pólos do planeta
estejam ao alcance de nossos conhecimentos e contato físico
numa rapidez que assombra e preocupa.
O progresso é assim e ninguém pode mudar a
rota da Terra e de sua evolução.
Estamos em meados de 50! Nossa vida pacata, distantemente
colocada no oeste extremos que aprendemos a viver e amar.
A cidadezinha “onde a gente estava sempre a se encontrar”,
era de uma precariedade enorme, como a querida, então
Vila do Chuí, os balneários da Barra do Chuí,
As Maravilhas e o Hermenegildo, que possuíam vida
efêmera durante os curtos verões destes lados
do sul.
A praça General Andréa era o epicentro de
toda sociabilidade de nossa gente onde havia o hábito,
como em outras plagas, o passeio em volta dela, já
que as calçadas estavam bem cuidadas e todos podiam
transitar por elas num movimento de encontro ou desencontros:
Os velhos procuravam “esticar as pernas”, quando
ainda não era necessário os desesperados arranques
de caminhar ou correr para compensar a nossa imobilidade
pelo conforto do modernismo.
Na região referida encontravam-se os locais mais
desejados de todos, principalmente, os jovens, que faziam
dele, um ponto de reunião.
As exceções estavam no Grupo Escolar Manoel
Vicente do Amaral que ficava posicionado, ao leste, em quatro
quadras de distância e os campos de futebol do Vitoriense,
Rio Branco, Santa Cruz e Brasil, sem falar no local de corridas
de cavalos, o Jockey Club, lá para os lados do cemitério,
a famosa Pastoril.
Nesta vetusta praça, encontrava-se a Igreja Matriz,
símbolo de fé de toda gente, mas ao mesmo
tempo, de reuniões, principalmente à noite,
quando as mocinhas acompanhadas das mães ou “titias”,
chegavam para seu exercício de fé e ao mesmo
tempo, com as esperanças cravadas no amor, talvez,
num milagre... pode ser...
O Ginásio de Santa Vitória, distanciado numa
quadra, na rua Mirapalhete, em frente a Prefeitura Municipal,
no local cedido pelos pecuaristas conterrâneos, o
edifício recém construído, a Casa Rural,
onde fazia recreio ai.
Depois, vinha o Clube Comercial e o Caixeiral, no prédio
que pertence a associação das rédeas.
O primeiro, como centro da juventude que nos fins de tarde,
mas principalmente depois do futebol, lá estavam
para jogar “ping-pong”, esporte que tantas vezes
proporcionava disputas ferrenhas e romances de ocasião,
quando se jogava “camarada”, entre um rapaz
e aquela moça quando sobressaia uma atração
amorosa mútua. A “eletrola”, um radio
potente, como um “toca-disco”, onde as músicas
da moda eram executadas para todos dançarem, após,
o matinée.
O Cine Theatro Independência, era o ponto fundamental
da gurizada, da mocidade e por que não, dos habitantes
mais velhos desta pequenina urbe. Os adultos vendo filmes
emocionantes, principalmente os mexicanos da Palmex, que
tantas lágrimas provocavam nos freqüentadores,
mas a mais ativa concentração era nas sessões
da tarde aos domingos onde os pequenos sentavam nas primeiras
filas para torcer para o mocinho contra o bandido, os mais
taludinhos mais atrás para namorar, aos 12 ou 16
e os taludinhos ficavam nos camarotes para romanticamente
praticar o primeiro beijo.
Justiça seja feita às Galerias, onde a classe
menos provida de recursos lá estava com poucas comodidades,
às vezes completada com a turma de estudantes para
assistir um filme italiano ou francês, “impróprio
para menores de dezoito anos”, onde a Gina Lolobrígida,
Silvana Mangano, Sofia Loren, espécies robustas da
arte italiana e a esquia Brigit Bardot, francesa de tradição
e atitudes, sem falar nas americanas de seios fartos e as
vedetes brasileiras. Foram as nossas grandes paixões
de adolescentes.
Mas a praça constantemente visitada por todos para
brincar entre seus canteiros, correndo e jogando de “pegar”,
passeando nas poucas bicicletas e por fim, nos bancos antigos,
formando pares de meninos e meninas numa conversa sem futuro,
mas altamente esperançosa e de grande impacto amoroso.
Disse-me um amigo, historiador bageense, hoje radicado em
Camaquã, João Máximo Lopes, que éramos
uma geração triste. Mas como vivíamos
felizes até as primeiras desilusões da madurez!
Triste sim, mas líricos, quando cantávamos
nossos sentimentos com as músicas plantinas, mexicanas
e brasileiras e os versos de nossos poetas maiores e também...
fazíamos poemas e este colocado no final da crônica
retrata o cotidiano de uma fase, que procuramos evocá-la,
de nossa vida e que não retorna jamais... mas, é
assim...
Troca
Recebo tua carta impositiva
Como tantas que mandaste nesta vida
E na escrita lacônica tu pedes que:
Envies cousas que me trocaste e que agora,
Não servem mais para nós dois.
E aqui estou atendendo a tua ordem,
Como, aliás, foi sempre o meu costume:
Vai um folheto com a propaganda de Festival
Que aconteceria no cinema;
Um pedaço de galho que uma árvore
Deixou cair em nosso primeiro encontro;
Um caderno de Latim com todas as declinações
Para as provas e que tu me fizeste;
Um foto “três x quatro” onde sorrias
E com dedicatória,
Que já não deves lembrar mais.
Estas mechas de cabelos, que ao que parece, são
tuas,
Um guardanapo de papel, algo raro naquele tempo,
Com a marca do baton que selou o nosso primeiro beijo.
Todas as tuas cartas cheias de carinho,
Prevendo um futuro risonho
Como eram nossas vidas juvenis de estudantes.
Tudo isso eu te mando e se algo esqueci,
Fica por conta de tempo que apaga tudo,
Aliás, quase tudo...
Mas duas trocas que me pedes não poderei
fazer:
Te mandar o perfume que ficou de teus pertences
E este imenso amor que jamais sairá de mim...
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Praça
Geneneral Andréa e Clube Comercial |
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Theatro
Independência |
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Clube
Caixeiral |
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Praça
Geneneral Andréa |
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Igreja
Matriz |
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