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UM MATO-GROSSENSE NAS PLAGAS DO EXTREMO SUL DO BRASIL
Ascendino Borges Maciel - Entre o Antigo e o Moderno

O médico em questão, chegou por estes lados, em meados dos anos 40, incentivado por seu irmão bel. José Antonio Borges Maciel que aqui estava atuando como juiz de Direito e que tantos serviços prestou à nossa comunidade marcando fundo quando, derrotada a ditadura de Vargas, ocupou interinamente o Poder Executivo até a transição democrática, no momento em que foi eleito Prefeito Municipal, Osmarino de Oliveira Terra.
O Dr. Ascendino, como era conhecido, deveria ter nascido na cidade fronteiriça de Livramento, mas seu pai, político influente, teve que exilar-se no estado do centro-oeste por culpa da Ditadura. Depois de uma longa estada naquelas regiões voltou para a cidade gaúcha de......................... onde completou seus estudos e de lá foi para a capital de nosso estado formando-se em medicina.
Chegando aqui, tendo como companheiro de profissão o jovem cirurgião conterrâneo Flor Amaral, passou a clinicar e fazer a sua vida profissional e familiar, já que encantou-se com uma jovem e bela lourinha da família oriunda dos imigrantes italianos, os De Marco, grandes estancieiros da região.
Esta professorinha recém saída dos bancos escolares do São José, normalista na cidade de Pelotas, assistia sua passagem para o trabalho e daí começou uma empatia que terminou em namoro, mas somente após desfazer um breve compromisso amoroso com um jovem que conheceu na cidade Princesa do Sul, ligou-se a ele para desenvolver um elo familiar que resultou no nascimento de João Amintas, atual Vice-Prefeito de nosso município, Maria do Carmo, ruralista local e o malogrado caçula Francisco, falecido prematuramente.
Dona Léa De Marco Maciel, informante deste trabalho, ainda hoje se enternece quando relembra a sua posição na janela de uma casa na rua Conde de Porto Alegre, quase esquina da Praça Marechal Andréa que pertencia a sua amiga Ocirema Rodrigues, esposa do folclórico Peri Castelan, quando todas as tarde ali se postava para com outras companheiras, aprender trabalhos manuais de costura e bordado, fato fundamental numa moça de então.
A mesma conta que, por intermédio de uma colega que morava em frente, este jovem profissional da cura impressionando-se com a estampa da mergulhoninha de cabelos dourados e olhos azuis, fez o contato que os levaria até a casa paterna da jovem e de lá, realizariam o desejo de noivado e matrimônio.
Uma curiosidade da vida profissional desse varão que tanto serviu a nossa comunidade, foi aquela em que ele chegado em nossa terra, numa noite invernosa, com chuva e frio, foi chamado a um lar muito pobre lá pra os lados do “campo da Aviação” num “sulk”, partiu para a missão que lhe havia sido designada no momento para atender a uma aflitiva circunstancia que derivava de uma gravidez prematura. Chegando lá, vendo a pobreza enorme do lar que se envolvia por tão dolorosa situação, o médico, não só passou a noite ao lado da senhora, a fim de dar-lhe o amparo necessário para que esse ser de sete meses viesse ao mundo com segurança, como o fez graciosamente. Acontecido o difícil parto e não havendo recurso algum para que a frágil criaturinha fosse mantida aquecida, o inteligente e dedicado profissional, optou pelo recurso que poderia ter em mãos e solucionar o caso. Fez os familiares colocar tijolos dentro do fogão e depois de quentes fazer uma moldura em volta do menino que havia nascido e daí, renovando o sistema, conseguiu manter uma temperatura amena, por vários dias, solucionando o problema. Não se sabe se a estratégia foi a primeira usada, mas que a mesma resolveu a situação desse ente prematuro, isso foi certo.
Outro momento da vida médica do Dr. Ascendino e que ele, depois da guerra(39-45) quando a “pinicilina” começou a ser a esperança para os grandes males infecciosos da humanidade, os jovens esculápios, como o seu companheiro Flor, passaram a fazer uso dos mesmos e que hoje conhecemos como os antibióticos que revolucionaram a arte de curar, principalmente a cruel e devastadora tuberculose.
Ascendino Borges Maciel foi figura importante dentro da comunidade em que viveu por aqui. Caçador e pescador fanático, possuía amigos fiéis como taxista Lino Canha, vivia recorrendo os banhados para praticar a sua paixão esportiva.
Político, sendo guindado a vereador pela UDN(União Democrática Nacional) e partícipes das rodas de jogos carteados no Comercial e Jockey Clube e envolveu-se em grandes brincadeiras entre seus pares, já que era dado as “molecagens” nas reuniões, como dar a um companheiro um Sonrisal sem água para tomar ou apagar a luz da peça quando outro ficava a dormitar em volta da mesa. Suas façanhas são ainda contadas e provocam grandes gargalhadas em todos.
O médico tornou-se professor de biologia em 1956 quando o Ginásio de Santa Vitória passou para o Estado e foi passível de falta de mestres para exercer o trabalho docente. Nessa situação evitando o fechamento do educandário um grupo de abnegados profissionais de nível universitários assumiram cadeiras carentes de seus condutores, fato que a comunidade relembra com gratidão.
Torcedor do Rio Branco, talvez pela influência da família da esposa e veranista constante da Barra do Chuí, o Dr. Ascendino partiu de nosso meio quando os filhos estavam em idade escolar de freqüentar os bancos das nossas universidades. Foi para Porto Alegre onde passou a clinicar em muitos locais quando seus serviços eram requisitados, vindo a falecer em plena capacidade do desenvolvimento humano, aos 62 anos.
Proprietário de grande gleba de campo em nosso município passava os verões à beira mar e só deixou de chegar até aqui por razão de seu passamento.
Ascendino Borges Maciel foi uma dessas figuras que uniu na sua profissão o humanitarismo do médico, como o participante da vida santa-vitoriense, deixando-nos um legado de simpatia, amor a tantas cousas que fazia e uma fecunda família que povoa este rincão do sul do Brasil.

 

Ascendino e sua esposa Léa acompanhados pelos filhos João Amintas (o menor) e Maria do Carmo.
Umas das últimas fotos do cidadão benemérito retratado na crônica.
Dr. Ascendino rodeado por amigos principalmente oriundos da UDN (União Democrática Nacional) e demais cidadãos da terra.

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br