A ESCOLA DE JOÃO
GOMES
Dario Hernandez – Um exemplo a ser seguido
Flora Alice Hernandez Mespaque – Heroína dos
confins do município
A
presente crônica semanal será de uma maneira
distinta! Ao invés de trabalho costumeiro do autor,
o mesmo será narrado por uma protagonista, que atuando
nestas paragens bonitas da zona de João Gomes, fez
do magistério a sua fé de vida, onde teve
o exemplo paterno e materno reafirmando que somente pela
Educação faremos um Brasil Grande.
Fico orgulhoso, sobremaneira, quando tenho que escrever
sobre pessoas que deixam uma estela de trabalho, amor e
esperança no futuro da sociedade em que vivem.
Flora Alice Hernandez Mespaque, representa a força
da mulher santa-vitoriense e é dela que vamos assistir
a trajetória desta tão querida escola municipal
que marcou um instante, a vida educacional, numa área
tão precária.
Sintamos a narrativa, sua maneira simples de ver a vida
e de passar por todos os obstáculos que o mister
lhe apresentou nesses anos felizes que até aqui desfruta
cercada de carinho e de respeito.
Vamos acompanhar a professora Alice:
Escola Municipal João Gomes, este foi seu nome até
que deu lugar a Escola Rural Dr. Francisco Osvaldo Anselmi.
A escola João Gomes foi fundada mais ou menos no
ano de 1945 e sua 1ª Professora foi Santina Cava Pio.
Durante sua existência, na Escola João Gomes,
passaram por ela muitas professoras. A todas, indistintamente
meu pai, Dario Hernandez, dava-lhes hospedagem gratuita
e colaborava em tudo o que pudesse fazer para elas, se sentirem
bem, tal era o valor, o respeito e o entusiasmo ao sentir-se
cercado de crianças e adolescentes que ali estavam
para estudar. Apesar de ser pessoa sem estudo, ou talvez
por isso mesmo, ele reconhecia o valor do saber e não
exitava em buscar crianças mais pobres do que ele,
para juntar a seus oito filhos e morarem com ele que só
recebia em troca a alegria de servir e de em cada professora
ganhar uma amiga para toda a sua vida, pois ainda hoje,
aquelas que por ali passaram, o recordam com carinho, gratidão
e testemunham o que ainda foi dito: Joaninha Ivone, Marlene
Machado, Judite Vives já falecida, Madel Correa e
tantas outras.
Conversando com o professor Homero
Professor Homero:
Com alegrias te ouvi citar e, merecidamente, homenagear
a professora “Quitita”, como alguém que
sob as condições possíveis de seu tempo,
desempenhou com dedicação, amor e responsabilidade,
a missão a que se propôs e, respeitadas as
dificuldades da época, deu sua parcela de contribuição
cívica no empenho de abrir horizontes a uma infância
tão carente quanto isolada.
Como faço parte daquele tempo, que já amarelou
meus livros, também me senti elogiada ao ouvir de
uma pessoa de sua estatura cultural e moral, valorizar o
trabalho de uma classe que, por não ser normalista,
era, por vezes, discriminada “as professorinhas”
“as leigas” para não dizer algo mais
pejorativo.
Salvo erro ou desconhecimento de minha parte, qualquer ser
humano, após alfabetizado, pode aprender muito. Adquirir
conhecimentos.
Basta querer. Conforme a professora Suraia, “Olhar
não é o mesmo que ver”, eu diria que
também: “ler não é o mesmo que
entender”.
Nós, as leigas, recebíamos e deveríamos,
provar conhecimento, relativo mais ou menos a admissão
ao ginásio. Cabia a nós buscar onde, como
e com quem ou quem nos ajudasse a “entender”
o que deveríamos transmitir as crianças e
adolescentes das isoladas e, por vezes inacessíveis
campanhas de nosso município, situação
tanto nossa como da clientela escolar.
Durante todo o ano letivo, não recebíamos
visita das autoridades escolares, se as estradas eram intransponíveis
para nós, também o eram para os inspetores
e nenhuma normalista aceitaria enfrentar... Não tínhamos
diretoras, supervisoras, fiscais, coordenadora, enfim, não
havia quem nos ajudasse ou nos criticasse.
A escola estava em nossas mãos, desde a conservação
do espaço físico, disciplina, etc, etc...
Tudo dependia do “amor a farda”, respeito pela
criança, do bom relacionamento com todos os moradores,
independente de ser pai ou mãe de aluno, tolerância
e compreensão com os menos esclarecidos, reconhecer
nossas limitações, ter a humildade de bater
a porta de quem possa lhe ajudar a transmitir conhecimentos,
tanto os programáticos, quanto os que a vida ensina
ao trafegar por ela.
Talvez por tanta dificuldade que as crianças sofriam
para aprender o básico, ao chegarem a adolescência
e conseguirem um balcão de loja, sentiam-se os “maiores”,
valorizados, fortes e não rejeitavam trabalho, orgulhosos
por sentirem-se gente.
Esse mesmo orgulho afaga o coração das leigas
por termos colaborados com essas crianças, senão
“doutores”, pelo menos iniciados de como caminhar
na vida. E uma certeza nós temos: Nosso trabalho,
para a parcela de uma geração de brasileiros,
não foi o que mereciam, mas no mínimo, melhor
que ser analfabeto.
Flora Alice Hernandez Mespaque.
31 de janeiro de 2008.
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