OS CAFÉS DA RUA TREZE
Em quase
todas as cidadezinhas do interior era comum em tempos atrás,
os homens se reunirem nesses estabelecimentos num encontro
após o almoço e ao entardecer, para colocarem
as novidades em dia e quando anoitecia a reunião
era nos clubes recreativos para praticarem os jogos noturnos
e conversarem sobre negócios, política e mesmo
futebol.
A nossa não foi diferente e para tanto possuíamos
dois locais na rua principal que se chamava TREZE DE MAIO
e que depois passou a possuir como patrono, o Barão
do Rio Branco, que além de ser nosso principal diplomata,
em 1910, graças a sua interferência, estabeleceu-se
o Tratado de Petrópolis que doava ao Uruguai uma
parte da Lagoa Mirim dando parceria aos vizinhos em tão
importante curso d’água.
O CAFÉ TUPI localizado nessa via pública e
com esquina Mirapalhete, onde agora está estabelecida
a farmácia SANTA RITA, era de propriedade de Amadeu
Exequiel e, mais tarde na sociedade com Rosemiro Cardoso
de Brum, o Cardosinho, além de Aldo Silveira tendo
como atendente o jovem, solícito e conhecido conterrâneo,
grande figura humana, Reinolde Corrêa, o Amarelinho
ou também, Nono. Nele se davam os encontros acima
referidos e além da aglutinação diária,
fazia-se aí as compras de bilhetes para as corridas
de cavalos, quando nas noites de sexta-feira, a freguesia
aumentava consideravelmente.
Na outra quadra da arenosa Rua 13, entre a Mirapalhete e
a 7 de Setembro, ficava o CAFÉ CENTRAL, mais conhecido
pelo nome do seu proprietário, o árabe Elias
Squeff, com sua companheira Rosa, que eram os atendentes,
acompanhados pelo jovem funcionário, Lourenço,
também, estampa querida entre os freqüentadores,
por sua simpatia, carinho e modo jocoso de se manifestar,
sempre havendo uma piada em suas intervenções.
Hoje, este comércio tão popular deu lugar
para a galeria do Chico’s e fica somente, com o primeiro,
em nossa recordação.
Curiosidades existiam nesses estabelecimentos, principalmente
no modo de trajar dos freqüentadores da década
de 30 e 40. Todos estavam “a caráter”,
de casaco e gravata. A gurizada somente chegava em seus
salões quando de um recado aos mais velhos ou para
comprar os famosos chocolates com figurinhas de aviões
das guerras,das balas Joãozinho ou tantas outras
guloseimas.
No CAFÉ CENTRAL em determinadas ocasiões eram
apresentadas várias atrações como músicos,
mágicos, cantores e orquestras de outras localidades,
principalmente de Pelotas e Rio Grande, através de
executantes saídos das fileiras militares dos quartéis
dali, mas foi de Jaguarão que fez chegar ao nosso
meio o mestre Carmelito e seu jovem filho, quase menino,
o mestre do Sax, que foi o Caxias e ainda a bateria de João
Botto.
Por largos anos essas casas de recepção da
sociedade foram a base para o deslocamento das famílias
para assistirem os espetáculos artísticos.
Eram, também, trampolim, como já dissemos
para o deslocamento rumo ao Cine Theatro Independência
e para as caminhadas na rua e na praça, os famosos
“footing”, expressão inglesa trazida
ao nosso vocabulário pela nova influência dos
americanos, vencedores da 2 Guerra Mundial,praticado pelas
moças e rapazes.
Com a mudança de hábitos, já no inicio
dos anos 50, o CAFÉ TUPY fechou suas portas e o CAFÉ
CENTRAL, ou o DO ELIAS, desapareceu quando seus donos se
transferiram para a Barra do Chuí, onde passaram
a dirigir o Hotel Atlântico. Estas presenças
somaram muito na sociedade santa-vitoriense, provocando
encontros, dirigindo discussões cotidianas e fazendo
um pouco da História que esta Terra se acostumou
a ver e sentir, e muito mais ainda, deixou uma réstia
de lembranças desde os mais velhos até os
meninos de “calças curtas” que perpetuaram
a compostura de um grande sociedade nestes confins sulinos
do Brasil.
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