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UMA FORMA ATRAENTE DE LAZER
AS AGUADAS DOS ARREDORES DA CIDADEZINHA

“A distância do tempo é tão curta como a rapidez do pensamento.” (Sérgio Oliveira Gonzales)

Este não foi um motivo exclusivo entre nós, somente. Em todos os lugares, por mais secos que fossem, onde havia uma poça d’agua, sanga, arroio, banhado ou mesmo um riacho, a atração para a meninada era constante e quando o tempo permitia, lá íamos escondidos dos maiores a buscar uma mergulhada, uma elegante braçada nas águas, quase sempre barrentas desses locais hídricos.
Mesmo estando rodeados por elas, não nos era facilitado o uso de tão desejada prática, a natação. O mar, nas décadas anteriores a 1950, estava muito longe e somente durante os meses de estio, a transumância se fazia e lá, entre riachos, a água salgada e potente esse esporto, aliás, o melhor de todos, era praticado pela gente.
A lagoa Mirim ficava longe e imaginem os leitores mais jovens, apenas 5km daqui, mas as dificuldades da estrada eram tão grandes, que o percurso até lá, demandava em mais de duas horas e “uma carona” nem sempre surgia, embora as carroças do Vitor, do Viana, Zebito e tantos outros, se deslocavam para o porto, afim de, trazer as mercadorias que chegavam no “vapor” e nos iates.
A bicicleta da gurizada, nem sempre em boas condições de uso, somente passaram a ser um veículo de deslocamento para mais longe, quando a “faixa de cimento” chegou até o Demetro ou na praça Marechal Andréa.
Por isso, recorríamos aos poucos locais banháveis que existiam – as Aguadas -.
Com a vinda do arroz certos nomes locais tiveram outra maneira de dizê-los, como açude, canal (do Zanetti) e as marachas, mas o velho riacho e as aguadas nunca deixaram de existir dentro do ideário popular, principalmente dos meninos, que quase sempre até os anos de 50, desfrutavam de tão importante exercício físico e por isso, essa geração que agora, passando dos 70, está ilustrando esta crônica, como o Ari(Ducha), Edgar (Massinha), Mario Maragalhoni e o autor da crônica, todos sabiam nadar e mergulhar muito bem.
Esta nossa “áfrica” como se dizia, era feita principalmente depois do almoço e ai residia a falta de fiscalização para que a turminha de bandidos não entrassem na água com a barriga cheia. Os mais velhos genitores e responsáveis pela meninada, estavam a essa hora, dormindo a reparadora sesta ou ouvindo, as mulheres, a novela da rádio Carve, do Uruguai ou da Farroupilha, de Porto Alegre.
Outro detalhe que sempre causa curiosidade nos jovens de hoje. Todos tomavam banho nús! Por que? Nada mais que era para chegar em casa, por volta das duas da tarde, roupas limpas, sequinhos e o cabelo ao vento, nas condições normais.
Assim fazíamos essas peraltices e não havia época para tal, embora, desde setembro, como agora, até abril, quando o calor chegava para a felicidade de todos.
Nesta primeira semana, recém terminadas as festividades da Semana da Pátria, o grupo citado, embora existissem tantos que gostariam de estar nessa aventura, fomos, acompanhados pela lente extraordinária de Sérgio Oliveira Gonzales, o fotógrafo da Foto Color, recorrer algumas “Aguadas”, que por ventura ainda existam nas redondezas e qual foi a nossa surpresa, mesmo passado tantos anos, as mais importantes para nós, localizadas nos mais diversos pontos dos arredores citadinos, estão lá e ficaram gravadas nessas fotos estampadas aqui.
Vimos, no norte da cidade, a Aguada dos Donatos, situada na rua Jalisco entre 13 de Maio e Osvaldo Anselmi, que foi feita para servir de alimento líquido para os animais e dar cuidado aos cavalos de corrida do Arnaldo Donato, filho da região; depois, passamos para a do Jockei Club e na mesma condição da anterior, provocou lembranças muito sentidas da turma. A da Pastoril, tão recordada pelo Faustino Valdi Munhoz, o Dico, freguês dela, não está mais, porque o progresso do parque fê-la desaparecer, como dos Patella e tantas outras. O Riacho, por ser o esgoto da povoação devia ser escolhido nos locais mais afastados das ruas centrais, mas com a lembrança do menino, Elci Milano, técnico em eletrônica que nomeou a avenida Bento Gonçalves, quase no portão do Jockei, como o Bacião do Capurra ou da Turfe.
Mas, de todas elas, a que mais impacto causou na turma foi a “Aguada da Maria José”, nome este, devido a que o campo onde a mesma está localizada pertencia a sra. Maria José do Amaral, irmã do grande conterrâneo Manuel Vicente. Estava cravada no meio do terreno que lindava entre a rua Andradas, quase na confrontação da Don Diogo de Souza e Conrado Alves Guimarães, quase 50 metros, da estrada de Curral de Arroios no local conhecido por “chácara do dr. Floriano”.
Embora distante, por estar num descampado, servia claramente para o controle dessa gentinha miúda que para lá se deslocavam e alguns pais que residiam nas imediações, como o Ari Pinto de Oliveira, Demetro Maragalhoni e tantos outros, encarregavam ao malévolo soldado “Caburé”, de triste memória entre todos, para nos enxotar de tão grato momento e de tão perigosa atividade. Imaginem!
Quantas vezes este homem odiado por nós, atravessou os campos escondendo-se entre as macegas e como castigo, roubava-nos as roupas deixadas nas margens, fazendo com que tivéssemos que voltar “pelados”, quando não, contávamos com a ajuda de um companheiro que residia nas imediações, para alcançar-nos um traje para que não chegássemos em casa em tão triste apresentação.
No lado norte existia o soldado “Zeca”, figura diferente. Fiscalizador, mas mais humano que o anterior e que, por isso, ainda é recordado com carinho.
O calor está chegando. Os momentos passados afloram em nossos pensamentos e quantos guris de ontem não estarão desejando voltar ao passado, nesta terra de tão gratas recordações.

 

Aguada Maria José vendo-se ao fundo a cidade
Peripecias dos guris de hoje ao chegar na Aguada Maria José
Aguada dos Donatos na rua Jalisco
 
Aguada da turfe

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br