Navegação
na Mirim - o barco que nunca chegou aqui
O isolamento sempre foi uma tragédia e, ao mesmo
tempo, um fator de importância para a nossa brasilidade.
Estávamos a grandes distâncias pelas dificuldades
de transpor mais de 200km para chegarmos às cidades
brasileiras mais no norte.
Desde o barco que trouxe o Mal. Andréa para contatar
com os uruguaios, a fim de demarcar nossas fronteiras e
resultar na fundação de um isolado povoado
distante 5 km da água da lagoa (que viria a ser o
fator de nacionalidade nestas regiões austrais, marco
da cidadania para um povo orgulhoso de sua origem e razão
de ser) até chegar a era dos barcos a motor, as dificuldades
eram imensas.
As sumacas, os iates à vela e os vapores constituíram
uma fonte de progresso para nossa comunicação
e, mais do que isso, o elo comercial com as frentes de intercâmbio
com a nação vizinha.
Várias firmas de transportes se fizeram presentes
nestas águas que delimitam esta porção
de fronteira, desde Jaguarão, Pelotas, Rio Grande
e até Uruguaiana. Eram navios do porte do "América",
"Juncal", "Mirim" e o último,
que foi a vapor "Rio Grande" (pertencente ao Loid
Brasileiro). Além destes, havia o castelhano "Laguna
Merin", cuja rota principal vinha desde o arroio São
Miguel, costeando o lado ocidental desse curso d'água,
chegando às vezes até o atracadouro na enseada
das Capivaras ou Capinchas, onde o desembarque de carga
e passageiros era feito através de botes pequenos
que vinham encontrar-se com carroças ou diligências
num trabalho difícil, principalmente quando o tempo
era ruim.
A partir de 1938, Getúlio Vargas, atendendo a um
pedido levado pelo juiz de Direito Carneiro e do conterrâneo
ilustre bel. Manuel Vicente do Amaral começou a ser
construído o porto de Santa Vitória do Palmar,
que muitos insistem em chamar Pindorama, nome que nunca
teve oficialmente.
Os trabalhos de construção duraram 12 anos.
Quando terminou a obra, a navegação já
não tinha mais sentido por causa da abertura da BR-471
e o último vapor, o "Rio Grande", não
mais exercia sua atividade. Em sua derradeira viagem foi
contratado por um grupo de católicos que, em 1950,
se transladaram a um Congresso Eucarístico realizado
na pujante Porto Alegre. O barco em questão terminou
seus dias navegando como chata de carga entre as jazidas
de calcário da firma Matarazzo no canal de São
Gonçalo, tendo como ponto de estadia na vila de Santa
Isabel. Triste sina para uma embarcação que
serviu tantas gerações que demandavam nestas
plagas!
Suspenso o trânsito do vapor, a comunidade, ressentida
desse meio de transporte, solicitou ao deputado federal
e amigo desta terra, Fernando Ferrari, que interviesse junto
às autoridades da área para que fosse construída
uma moderna embarcação, e conseqüentemente,
reatasse esse tipo de transporte tão necessário,
haja vista a precariedade de nossas estradas e os perigos
que elas produzem.
O jovem legislador, falecido prematuramente num acidente
de avião, conseguiu que se construísse o navio
desejado por todos e pediu que lhe colocassem o nome de
"VITÓRIA DOS PALMARES" para servir esta
região. No entanto, abandonados os transportes aquáticos
e ferroviários, este veículo, que era nossa
esperança, foi levado para carregar café nas
imensas águas do rio Amazonas.
Na gestão do ministro Eliseu Padilha, a pedido da
comunidade santa-vitoriense, juntamente com Jaguarão,
Pelotas e o lado leste do Uruguai, houve tratativas para
a reativação dessa atividade. Foi feita, então,
a dragagem do Sangradouro, local onde o canal de São
Gonçalo desemboca na Mirim e que por seus enormes
baixos, dificulta a navegação, desde os tempos
primitivos, quando por aqui andou o brigadeiro José
da Silva Paes, em 1737.
Desse modo, as esperanças se renovam para que tenhamos
mais uma fonte de comunicação entre esta zona
e o resto do Brasil, tornando realidade os sonhos de todos
os conterrâneos interessados por nosso desenvolvimento
e fazendo justiça a esse homem público gaúcho,
o "político de mãos limpas", que
não viu o "VITÓRIA DOS PALMARES"
sulcar as plácidas águas da nossa eterna lagoa
Mirim.
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"Vapor
Rio Grande": transporte de carga e passageiros
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O "Vitória
dos Palmares" sendo construído num estaleiro
no Rio de Janeiro
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O navio uruguaio
"Laguna Merin", ancorado na ponte próxima
à Fortaleza de São Miguel, no arroio
de mesmo nome
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