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BRASIL RODRIGUES – O 7 BOLINHAS
Um dos maiores músicos que nossa terra acompanhou na expressão de sua arte

Em diversos tempos estas crônicas registraram a passagem, por estes lados, de figuras que pontificaram nos diversos rumos da arte.
Nossos palcos puderam assistir os filhos da terra luzirem-se nas manifestações das mais variadas, tanto nas artes cênicas, pintura, escultura, literatura e principalmente, no canto e na execução instrumental.
É bem verdade que sempre possuímos locais que facilitaram as apresentações citadas, como também, uma paisagem inspiratória de lindos campos, palmeiras, um litoral lacustre e oceânico, sem falar nesta planície verdejante que emoldura tantos sentimentos.
O isolamento geográfico fez com que tivéssemos que, por conta própria, realizar as demonstrações de nossas aptidões, sem falar na alma emocionada dos mergulhões que provocaram uma simbiose com tudo apontado, para extrair e emoção que vai dentro de cada um de nós.
Brasil Rodrigues, o 7 Bolinhas foi um expoente máximo na maneira de executar o violão, bandolim e cavaquinho, mas ainda, cantar músicas do cancioneiro nacional e plantino e também, ser um pródigo compositor de peças musicais, em especial, de gênero carnavalesco.
Por quê esse nosso conterrâneo, teve como apelido, 7 Bolinhas?
Vai a explicação contada pelo mesmo, amigos que fomos desde a juventude até quando precocemente deixou este mundo, sendo aliás, foi uma irreparável perda.
Brasil Rodrigues vindo da família Sousa-Rodrigues, oriunda provavelmente, das lonjuras de Curral Alto, com muitos irmãos, desde cedo, teve a incumbência de ajudar no orçamento da casa, principalmente depois do falecimento de seu pai, Acelino Rodrigues.
Um dos primeiros momentos profissionais foi na oficina do grande e habilidoso homem dessa região que foi Nardi Azevedo. Como sempre acontecia aos novatos, eram colocados a fazer serviços menores, como arrumar as peças, lavá-las, para que fossem de serventia para colocar em próximos consertos.
Numa determinada ocasião, recém chegado ao ambiente, foi o mesmo, orientado pelo velho mecânico, que providenciasse na manipulação de uns rolamentos que por ser nosso solo arenoso e barrento seguidamente estavam em péssimas condições de uso.
Brasil Rodrigues, dá-se por inteiro ao trabalho e quando encontrou um aberto e com as esferas caídas no chão, juntando-as na palma da mão, veio curioso ao mestre e perguntou-lhe, num misto de zelo, curiosidade e mais do que isso, vontade de ficar com elas, parecendo-lhe ser um brinquedo muito procurado pela gurizada de pouca idade como ele, em especial para “jogar bolinha”, para que servem estas 7 Bolinhas”?
Estava consagrado na veia cômica de seu Nardi, a expressão 7 Bolinhas, que ele mesmo encarregou-se de expalhar entre todos nós.
Mas, 7 Bolinhas, foi muito mais do que isso. Tocava o violão com uma grande maestria, inclinando-se logo para cavaquinho e o bandolim, principalmente porque no “Serviço de Auto-falantes Vitoriense”, colocado com suas cornetas que por estas bandas, devido a influência castelhana, eram chamadas de “parlantes, tocavam as músicas de Jacob do Bandolim, mas principalmente, os emocionantes choros de Waldir de Azevedo, destacando-se o Brasileirinho, e Pedacinho do Céu, mais o baião Delicado, do mestre Luiz Gonzaga.
Como cantor, eram favoritas as canções interpretadas pelo gaúcho Nelson Gonçalves, como Boemia e tantas outras.
Brasil Rodrigues, o 7 Bolinhas, trabalhou até a sua aposentadoria no ramo da mecânica como motorista de táxi e finalmente, quando aposentou-se, dirigindo os carros da Prefeitura Municipal que na maioria das vezes, servia ao gabinete do Prefeito Municipal, pois, sua presença alegre, musical, fazia melhores as longas e difíceis travessias, cantando, assoviando e executando o seu instrumento de preferência, o “requinto”, tão em modo nos anos iniciais de 50 e, para depois, enveredar para a linha do acordeón.
Fez parte da roda seleta de nossos músicos e freqüentou os grupos orquestrais desta cidade, entre eles, de Darci Blotta, Selo e Lua Nova, além de acompanhar cantores em grandes festivais.
Lá pelos idos de 52 ou 3, chegou até nossa terra um dos mais famosos “conjuntos vocais do Rio de Janeiro, os Anjos do Inferno e aqui recepcionado pelos moços locais, na famosa agremiação chamada de BANDARY, de inspiração do grande professor Simões foram hospedados na chácara, do também moço, Floriano Corrêa onde receberam uma atenção de gala.
Esse grupo apresentou-se no Cine Theatro Independência e depois, no Clube Comercial e já conhecendo o artista falado, o convidaram para participar de suas apresentações e ele teve uma honra inusitada que contava com orgulho para todos, dizendo que havia sido secundado em suas músicas por tão importante aglomerado de gente vinda da capital federal.
Brasil Rodrigues – O 7 Bolinhas mudou-se com sua família para Pelotas quando de sua aposentadoria, levando a colega Marize Corrêa, sua esposa e filhos.
Este homem da vida breve foi um ponto quase incomparável dentro da arte de cantar, compor e executar instrumentos de cordas, que tanta sonoridade esparramaram sobre os ares de nossa terra, mais uma vez, pontificando o jeito de sermos destacados no concerto da vida cultural que nos rodeia.
Seu Nardi, para que servem estas 7 Bolinhas?
E nós ficamos pensando, os amigos e fãs do grande músico, que talvez fosse para estreitar mais os laços de nossa comunidade na função artística, mas principalmente, dar um apelido carinhoso de um dos maiores companheiros dos jovens de sua geração e marcar uma presença que jamais será esquecida, principalmente neste momento da historia onde a mediocridade eletrônica destaca vultos que jamais chegarão aos pés do Brasil Rodrigues, e nosso 7 Bolinhas ... que na expressão popular era simples chamado de 7 Bolinha.

 

Foto e colaboração do sobrinho Sergio e do irmão Acilino Rodrigues, o Beca.

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br