OUTRA “LINHA”
DE ONIBUS PARA O INTERIOR
A CUMPARSITA
Já foram retratados neste espaço,
anteriormente, as tentativas de dotar nosso interior de
uma empresa de coletivos que fizesse a ligação
de nossa cidade com as mais longínquas plagas do
município.
A mais importante foi a firma de Atanagildo Bonfim com o
seu Expresso Bonfim que ligou Curral Alto à região
sul e mais tarde, ao iniciar-se a década de 50, fazendo
chegar até Rio Grande e Pelotas, transpondo o famoso
banhado do Taim.
Mas esta gente santa-vitoriense não poderia percorrer
os seus ínvios caminhos, que na realidade, eram corredores
carroçáveis que faziam com as coletivas diligências,
viagens de mais de três dias para percorrer nosso
território e quando, procurávamos outras fronteiras,
o tempo era quase de uma semana.
Curral Alto foi um dos pontos em que mais se necessitava
produzir uma companhia que mais rápida e segura,
principalmente com carros a motor, pudesse interligar os
extremos numa epopéia de dificultosas estradas, na
maioria das vezes, transpondo banhados e arroios, quase
sempre cobertos por lodaçais quase intransponíveis
onde os carros deviam contar com a ajuda da vizinhança,
com seus cavalos e bois para que, saindo do atoleiro, chegassem
ao seu destino.
OLAVO CUNHA, moço dinâmico, de tradicional
família destes lados, depois de várias tentativas
comerciais, inclusive, sendo em um determinado momento,
arrendatário da Taça de Ouro, que já
foi tema nestas crônicas, transformou um velho caminhão
em um ônibus, feito pela habilidade do Paulo Guerra,
que propiciou que aparecesse este veículo que nos
conduzia pelos terríveis espaços, principalmente,
nos períodos de chuvas, qualquer estação
do ano, mais duramente, ligados ao inverno, de geadas, temporais
onde aumentavam as dificuldades de locomoção.
Este automóvel que servia ao transporte conjunto
e que saia de Santa Vitória do Palmar em direção
ao norte, chegando, após peripécias apresentadas,
no fundo do distrito citado, no grande “banhadal”
que nos separa do Rio Grande, para depois voltar e estacionar
na Casa Anselmi, ponto de referência na vida da região
e que tanto serviu e continua sendo um pólo de referência
aos moradores ou viajantes por tão lonjuras de nosso
torrão natal.
O carro era chamado de A CUMPARSITA, mostrando o gosto de
seu proprietário pelas músicas de tango dos
paises irmãos do Prata e homenageando o “hino
tanqueiro” que ainda é a imortal composição
de Matos Rodrigues e Contursi, que se refere aos grupos
carnavalescos platinos.
Estava pintado de um amarelo chamativo e como na época,
possuía uma bagageira em seu alto, onde se fazia
a subida por uma escada, tão comum naqueles tempos,
inclusive na foto estampada vemos malas e engradados, e
também, onde se levava animais, principalmente aves.
Não possuía vidros nas janelas e sim umas
cortinas conhecidas por “sanefas”, de lonas.
Assim eram os próprios anteriores a 1940.
O nome CUMPARSITA vinha escrito no “para choque”
frontal e que muitos diziam “apara choque” e
pela sua coloração se distinguia ao longe,
além do ruído do motor e da poeira que levantava,
quando das estações secas.
O tempo de duração da viagem que agora era
feita sem pousos nas vendas do caminho, nunca acontecia
ser exato. Podia ser de 12 a 15 horas ou então, chegar
ao destino, um dia depois da saída.
Cousas da época e mais importante do que isso, os
passageiros estavam acostumados e possuíam uma paciência
de Jô, já que se preparavam para tão
dificultuosa travessia.
Mas o quê mais caracterizava as viagens longas da
CUMPARSITA, estava no fato de que seu proprietário-condutor
possuía uma potente voz, como acontecia com os grandes
cantores de então, e o OLAVO CUNHA era um deles,
dentre tantos que nossa terra deu-nos, como Elias Suaya,
Humberto Torino, seu irmão Dudu, mais modernamente,
Armando Cava, Arci Rodrigues, Cloris Brayer, 7 Bolinhos
(Brasil Rodrigues) e muitos mais.
Esse motorista da máquina de transporte saia cantando
e chegava interpretando músicas argentinas e uruguaias,
mais, as canções de serestas e os sambas bem
brasileiros, tão ao gosto dos ouvintes daquele tempo.
Somente silenciava sua voz quando os atoleiros e as aguadas
faziam com que este misto de “chouffer-cantor”,
faziam com que redobrasse sua atenção.
A linha de ônibus desta cidadezinha até os
confins de Curral Alto teve pouca duração,
mas serviu tanta gente, que ainda se lembram dos benefícios
de tão importante firma.
E é gostoso recordar que naqueles tempos, de tão
precários benefícios eletrônicos, OLAVO
ACUNHA com sua querida CUMPARSITA estava introduzindo este
novo entretenimento aos usuários quando faziam uma
tão precária trajetória nos difíceis
caminhos de nossa terra, mesmo sem imaginar, o som ambiente,
companheiro da viagem. Que hoje está em tão
alto e sofisticado uso.
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Ônibus
A CUMPARSITA, numa parada no caminho, quando a família
de Arcílio Souza e seu filho Genior Vitelbo,
acompanhado, da direita para esquerda: Da. Elisa (Chinica)
Amparo Carmen, Vitelbo e Aurelino – Aganhados,
de boné, Olavo, mais Isis, Justino. (Gentileza
da família apresentada acima). |
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