Quem somos
Coberturas
Notícias
Revista
Entrevistas
Enquetes
Arquivo
José Golgerci
Políbio Braga
Colaboradores
Zero Hora
Correio do Povo
Diário Popular
O Globo
Gazeta Esportiva
Clima Tempo
Weather Channel
UFPel
Tempo Agora
Banco do Brasil
Banrisul
Bradesco
Caixa Federal
Santander
Secretaria Fazenda RS
Receita Federal
Proc. Geral da União
TRT
TRE
INSS
Detran-RS
Consulta CEP
Lista Telefônica
 
 

OUTRA “LINHA” DE ONIBUS PARA O INTERIOR
A CUMPARSITA

Já foram retratados neste espaço, anteriormente, as tentativas de dotar nosso interior de uma empresa de coletivos que fizesse a ligação de nossa cidade com as mais longínquas plagas do município.
A mais importante foi a firma de Atanagildo Bonfim com o seu Expresso Bonfim que ligou Curral Alto à região sul e mais tarde, ao iniciar-se a década de 50, fazendo chegar até Rio Grande e Pelotas, transpondo o famoso banhado do Taim.
Mas esta gente santa-vitoriense não poderia percorrer os seus ínvios caminhos, que na realidade, eram corredores carroçáveis que faziam com as coletivas diligências, viagens de mais de três dias para percorrer nosso território e quando, procurávamos outras fronteiras, o tempo era quase de uma semana.
Curral Alto foi um dos pontos em que mais se necessitava produzir uma companhia que mais rápida e segura, principalmente com carros a motor, pudesse interligar os extremos numa epopéia de dificultosas estradas, na maioria das vezes, transpondo banhados e arroios, quase sempre cobertos por lodaçais quase intransponíveis onde os carros deviam contar com a ajuda da vizinhança, com seus cavalos e bois para que, saindo do atoleiro, chegassem ao seu destino.
OLAVO CUNHA, moço dinâmico, de tradicional família destes lados, depois de várias tentativas comerciais, inclusive, sendo em um determinado momento, arrendatário da Taça de Ouro, que já foi tema nestas crônicas, transformou um velho caminhão em um ônibus, feito pela habilidade do Paulo Guerra, que propiciou que aparecesse este veículo que nos conduzia pelos terríveis espaços, principalmente, nos períodos de chuvas, qualquer estação do ano, mais duramente, ligados ao inverno, de geadas, temporais onde aumentavam as dificuldades de locomoção.
Este automóvel que servia ao transporte conjunto e que saia de Santa Vitória do Palmar em direção ao norte, chegando, após peripécias apresentadas, no fundo do distrito citado, no grande “banhadal” que nos separa do Rio Grande, para depois voltar e estacionar na Casa Anselmi, ponto de referência na vida da região e que tanto serviu e continua sendo um pólo de referência aos moradores ou viajantes por tão lonjuras de nosso torrão natal.
O carro era chamado de A CUMPARSITA, mostrando o gosto de seu proprietário pelas músicas de tango dos paises irmãos do Prata e homenageando o “hino tanqueiro” que ainda é a imortal composição de Matos Rodrigues e Contursi, que se refere aos grupos carnavalescos platinos.
Estava pintado de um amarelo chamativo e como na época, possuía uma bagageira em seu alto, onde se fazia a subida por uma escada, tão comum naqueles tempos, inclusive na foto estampada vemos malas e engradados, e também, onde se levava animais, principalmente aves. Não possuía vidros nas janelas e sim umas cortinas conhecidas por “sanefas”, de lonas. Assim eram os próprios anteriores a 1940.
O nome CUMPARSITA vinha escrito no “para choque” frontal e que muitos diziam “apara choque” e pela sua coloração se distinguia ao longe, além do ruído do motor e da poeira que levantava, quando das estações secas.
O tempo de duração da viagem que agora era feita sem pousos nas vendas do caminho, nunca acontecia ser exato. Podia ser de 12 a 15 horas ou então, chegar ao destino, um dia depois da saída.
Cousas da época e mais importante do que isso, os passageiros estavam acostumados e possuíam uma paciência de Jô, já que se preparavam para tão dificultuosa travessia.
Mas o quê mais caracterizava as viagens longas da CUMPARSITA, estava no fato de que seu proprietário-condutor possuía uma potente voz, como acontecia com os grandes cantores de então, e o OLAVO CUNHA era um deles, dentre tantos que nossa terra deu-nos, como Elias Suaya, Humberto Torino, seu irmão Dudu, mais modernamente, Armando Cava, Arci Rodrigues, Cloris Brayer, 7 Bolinhos (Brasil Rodrigues) e muitos mais.
Esse motorista da máquina de transporte saia cantando e chegava interpretando músicas argentinas e uruguaias, mais, as canções de serestas e os sambas bem brasileiros, tão ao gosto dos ouvintes daquele tempo. Somente silenciava sua voz quando os atoleiros e as aguadas faziam com que este misto de “chouffer-cantor”, faziam com que redobrasse sua atenção.
A linha de ônibus desta cidadezinha até os confins de Curral Alto teve pouca duração, mas serviu tanta gente, que ainda se lembram dos benefícios de tão importante firma.
E é gostoso recordar que naqueles tempos, de tão precários benefícios eletrônicos, OLAVO ACUNHA com sua querida CUMPARSITA estava introduzindo este novo entretenimento aos usuários quando faziam uma tão precária trajetória nos difíceis caminhos de nossa terra, mesmo sem imaginar, o som ambiente, companheiro da viagem. Que hoje está em tão alto e sofisticado uso.

Ônibus A CUMPARSITA, numa parada no caminho, quando a família de Arcílio Souza e seu filho Genior Vitelbo, acompanhado, da direita para esquerda: Da. Elisa (Chinica) Amparo Carmen, Vitelbo e Aurelino – Aganhados, de boné, Olavo, mais Isis, Justino. (Gentileza da família apresentada acima).

 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br