1930 - Nova Era cultural
com o Cine Theatro Independência
Numa comunidade nos anos de 1929, quando a crise econômica
era brutal em todo o mundo e que viria modificar os rumos
do planeta, um grupo de santa-vitorienses pode, por fim,
entregar ao povo, magnífica obra que perdura até
hoje, sendo um dos mais festejados locais da arte e cultura
no Brasil.
A comissão organizadora, de tal empreendimento,
era formada por Osmarino de Oliveira Terra, Túlio
Orlando Patella, Humberto Amadeu Russumano e Atílio
Patella que deu ao público este próprio particular,
vinculado a um seleto número de acionistas que possibilitaram
a execução dele. Um relatório foi fornecido
aos membros colaboradores e divulgado através de
um encarte, com o título de Teatro Independência
- Relatório da Comissão Pró-construção
do Teatro. Isto foi feito em 25 de novembro, mais de um
anos do funcionamento do mesmo. Era a garantia dos fundos
aplicados e do surgimento deste marco da vida do extremo
sul.
O referido documento apresenta as despesas, receita e finalidades
da instituição, como também, as demarches
para que além de teatro, um cinema sonoro fosse colocado
nele. Esta melhoria surgiu graças ao primeiro arrendatário
Pedro Venturini, empresário do ramo havendo possuído
outras casas do gênero e de Mario Martins.
Ainda há uma alusão muito sentida ao construtor
inicial Joaquim Lino de Sousa e a seu filho, continuador
do trabalho, Adolfo Lino de Sousa, já apresentados
na crônica anterior deste espaço.
Em 21 de agosto de 1930 foi inaugurada a Casa com uma sessão
memorável, como transcreve o relatório e no
dia seguinte apresentou-se a maior companhia brasileira,
que era chamado Companhia Nacional de Comédia Jaime
Costa e Lígia Sarmento. Este grupo artístico
do Rio de Janeiro proporcionou um impacto na comunidade
pequenina de nossa cidade e do Uruguai que, atraídas
pelo cartaz do elenco, lotaram todas as localidades do edifício.
Nesse ínterim, surge um fato inusitado para a Companhia
e que viria a beneficiar a todos os munícipes, que
nunca mais puderam assistir tal momento: Jaime Costa, Ligia
Sarmento, e seu elenco chegaram até Santa Vitória
do Palmar no “vapor” Rio Grande que, saindo
de Porto Alegre, pelo Guaíba, passando pela lagoa
dos Patos e canal de São Gonçalo, entrava
na Mirim, via Jaguarão, até chegar em nosso
porto. Acontece que, como já sabemos por crônicas
neste espaço, do navio, os passageiros e carga passavam
para um pequeno bote movido a remos e chegavam até
a costa e daí, passavam para carroças a deligências,
para depois, dirigirem-se à cidade. É de dizer
que as damas da “troupe” sofreram muito nessa
travessia, mas principalmente no desembarque. Foi um grande
alvoroço. Chegando aqui, a mesma teve que enfrentar
um terrível temporal de nordeste e depois uma viração
sul, que fez com que, o retorno para o paquete Rio Grande
ficasse por demais perigoso, mas principalmente as mulheres
não quizeram assumir tão severo risco e foram
ficando em nossa humilde urbe, molhada e enlameada. Para
a Companhia não ter prejuízo, durante a estada
e mais, por ter algo para fazer em tão minúscula
comodidade, o grupo se apresentava pela manhã, tarde
e principalmente à noite cobrando preços populares.
Foi um acontecimento nunca apreciado nas cidades do sul
dos pais e dessa situação, surgiu um contato
entre todos e muitos enlevos aconteceram.
Quando a Companhia Nacional de Comédia de Jaime
Costa e Lígia Sarmento, desapareceu nas águas
da lagoa, em seu retorno, nossa pequina povoação
jamais foi a mesma.
Como complemento, fui testemunha junto ao ator Jaime Costa
32 anos depois, ao vê-lo representar na capital a
peça “A morte do Caixeira Viajante”,
e um grupo de professores e estudantes fomos ao seu camarim
e ele, ao saber que eu era desta terra, narrou o acontecido
e disse: “moço, você sabe que eu me apresentei
na inauguração do Teatro Independência?
E depois minhas afirmativa ele para todos ouviram disse-me
que nossa casa de espetáculos era, depois do Teatro
São Pedro, onde estava se apresentando e do 7 de
Abril de Pelotas, o melhor que ele havia trabalhado, no
Rio Grande do Sul”.
O Cine Theatro Independência aqui está em
pé, muito bem cuidado e restaurado, servindo à
nossa gente, demonstrando qualidades artísticas e
cívicas e elevando perante as demais comunidades,
o nosso fervor de sulinos, amantes do saber, mas muito mais
do que isso, a grande força dos mergulhões,
num momento de crise que assolava o planeta.
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Foto do interior do
Theatro Independência no momento
que antecedeu à sua inauguração
feita pela grande
artista Francisco Gomes de Almeida e hoje do
acervo da Foto Collor, de Sérgio Oliveira |
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Relatório apresentado aos
acionistas e ao público
pela Comissão Pró Construção
do Teatro |
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