BIBIANA ELISA SÓRIA
- A moça que gostava de estar na janela
“A vida passou na janela só a mocinha não
viu” - Chico Buarque de Holanda
São
tantas as personalidades que, a sua maneira, caracterizaram
a vida em nossa cidade, que levaríamos largos momentos
a descrevê-las no passar do tempo.
A história reflete os grandes instantes que marcaram
a passagem na importância do desenvolvimento de uma
comunidade e Santa Vitória do Palmar não poderia
ser diferente.
Dos mais destacados, tendo suas vidas passadas a limpo e
que orgulharam os seus convivas, marcando a vida por estes
rincões com lembranças das mais importantes
para que sempre fôssemos adiante. Políticos,
intelectuais, progressistas homens de negócios, mulheres
que foram fonte de reconhecimento por suas atitudes, principalmente
na área da Educação, são o exemplo.
Não podemos deixar de nomear, que também,
por estas bandas, apareceram ou daqui saíram, indivíduos
que, se já quase não mais são lembrados,
os relatos se diluem no tempo porque os viventes em torno,
procuram diluir a participação deles por tão
maus atuantes entre nossa comunidade. É bom falar,
recordar e escrever sobre pessoas que marcaram, por tudo
aquilo que deixaram de bom a todos. Os que foram negativos,
que sirvam de exemplos para as gerações futuras
na esperança que esses nunca mais sirvam como parâmetro
a seguir.
Bibiana Elisa Sória, por esse pomposo nome, talvez,
não se lembrem dela, mas essa personagem, tenho certeza,
voltara à lembrança de muitos com um tênue
e carinhoso recordar de suas simples atitudes, comportamento
sereno e até em muitas ocasiões, infantis.
Bibiana chegou do Uruguai, da cidade de Minas juntamente
com seus pais para trabalhar na estância do médico
e depois, Prefeito Municipal, Mario Teixeira de Mello e
quando de seu crescimento, com a morte dos familiares e
do patrão, essa moça veio para a cidade e
foi dada à gente do Clã dos Patella indo abrigar-se
na residência do casal Artur Pinto e Palmira, que
foram destaque em nosso meio. Daí nunca mais saiu.
Tinha uma conduta serena, embora, parecesse, as vezes, que
apresentava alguma deficiência, mas mesmo assim, a
sua personalidade era de fazer-se querer bem por todos que
a cercavam.
Criou os rebentos daqueles que citamos e foi companheira
das filhas mais velhas como a agora sra. Ena, as falecidas
Clara, Ármia (Lola) e a caçula Elba, grande
figura do nosso meio social e artístico, que a cuidou
com desvelo maternal e a acompanhou por toda a vida.
Ficou tão integrada familiarmente a esta última
que o seu filho, Francisco, por gratidão e amor,
quando nasceu a sua filha, colocou-lhe o nome de Bibiana,
como para perpetuar essa figura tão achegada a eles.
Já disse de Bibiana algumas cousas, mas quero destacar
suas maneiras que a tornaram uma personalidade reconhecida
entre todos. Morava com seus beneméritos, já
que havia ficado sozinha no mundo, na rua Osório
quase esquina Conde de Porto Alegre e em muitas ocasiões
era vista nos seus locais preferidos como a porta e a janela
da residência Patella Pinto, por isso lembrei acima
dos magistrais versos do Chico Buarque de Hollanda. De um
asseio corporal a toda prova, encantava-se com um perfume
e por isso, estava sempre cheirosa e tinha suas funções,
quase sempre mecânicas, terminadas ou prestes a desenvolver,
principalmente cuidar da menina Elba, quando vinha da escola,
do matinée ou depois, nos bailes que gostava tanto
e mais ainda, nas noites frias de nossa terra, quando insone,
postava-se para esperar o final dos ensaios do grupo de
teatro Francisco Gomes de Almeida onde sua protegida era
a mocinha das grandes peças levadas no Cine Theatro
Independência.
Gostava de revistas, embora pouco soubesse ler e outra paixão
era “escutar rádio”, com músicas
de sua gente, lá do outro lado da fronteira.
Seus agora parentes, amigos e tantos outros que faziam da
sua companhia momentos de trabalho ou aconchego, não
souberam explicar se teve algum amor na vida. Se aconteceu,
guardou para si!
Quando a Elba casou com o popularíssimo Chico do
Paco, Francisco Rodrigues Corrêa e foi morar no Hermenegildo,
para lá partiu Bibiana, companheira fiel e assistiu
o nascimento do Chiquinho e da Rosane, mais tarde, passando
a viver com eles em Pelotas,onde faleceu.
Esta foi a Bibiana Elisa Sória, que marcou sua passagem
da mesma maneira que sempre viveu: calma, solícita,
mas profundamente humana, cuidada pelos que estiveram em
volta dela numa redoma de saudade e gratidão.
Bibiana sempre com um humilde sorriso nos lábios
atendia cortesmente a todos e deixava-se ficar à
porta vendo o trânsito de nossas calçadas estreitas
e ruas arenosas, mas quem sabe, debruçada numa janela,
não foi como tantas personalidades simples, uma das
que inspiraram Chico Buarque quando disse que...
“A vida passou na janela, só Bibiana não
viu”.
Ela foi e será uma carinhosa lembrança de
respeito, gratidão e amor.
Sinto que o Luis Alberto, Maria Helena, Regina, também,
possuem a Bibiana no coração.
Não é verdade?
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