VIOLETA, SIMPLESMENTE, VIOLETA
UMA PASSAGEM LÂNGUIDA E CARINHOSA POR NOSSAS RUAS
Violeta
nasceu em Rio Grande por um desses acasos do destino, mas
sempre esteve vivendo na cidade do extremo sul. Foi criada
pela avó dedicada que a cuidou por todo o sempre.
Violeta, talvez, Corrêa, não possuía
registro, não era dona de uma cidadania legal e somente
foi organizar a sua situação dentro das normas
que a ordem exige, quase no fim da vida, quando, graças
ao carinho e generosidade da Srª. Iracema Auch Azambuja,
pode receber os proventos de uma pequena aposentadoria,
que creio, quase nada lhe iria somar em suas precárias
posses.
Era possuidora de uma casinha na rua Julio de Castilhos,
quase esquina Campos Neutrais que herdou de sua progenitora,
onde se abrigou por tantos anos.
Na realidade, a vida da Violeta era sempre um trafegar pelas
ruas, antes arenosas e barrentas deste local e depois, com
maior comodidade, pavimentada. Saia, pela manhã e
ia transitar serena, calma e praticamente sem falar, indo
em busca do contato que para ela era tão necessário,
com outras criaturas humanas.
Nunca pediu esmola! No entanto, foi passível da caridade
de seus concidadãos que lhe entregavam produtos de
suas produções, como ovos, verduras, frutas,
para que ela, ao distribuí-los, fosse fazendo a sua
faina diária e lhe dava o que comer.
Em dias de chuva a Violeta, abrigava-se dentro de um casacão
surrado e uma sombrinha desgastada, a maneira de sua amiga
e companheira, a “Saraivinha”, com sua característica
figura. Não lhe atacava o frio cortante desse ambiente
que ela recorria todos os dias.
Quase nada falava, sempre com um sorriso manso, demonstrava
uma bonomia constante e todos queriam bem essa mulher santa-vitoriense,
embora tenha nascido na cidade marítima.
Era muito procurada para servir de companhia às pessoas
doentes, mais como figura de mandar e prestimosa sempre,
nunca faltava a nenhum compromisso, como afirma a jovem
Idaetel Torino, relembrando com saudade os momentos em que
a Violeta era contratada para acompanhar as crianças
em noites de festas, velórios, etc, quando os adultos
deveriam sair de casa, hábito comum, principalmente,
durante os períodos noturnos das visitas amistosas.
Possuía esta figura uma respeitabilidade tal, que
sempre era distinguida com carinho e solicitude, nunca sendo
motivo de brincadeiras principalmente da molecada das ruas.
Tratava as pessoas, com quem privava, com respeito e amabilidade
e quando perguntada respondia com as mesuras tão
comuns na época que não volta mais. Sempre
uma palavra amistosa cordura e simpatia, embora sem cultura
e analfabeta.
Sua figura pequena, cabelo crespo, roupas surradas, mas
limpas, era uma constante em nosso meio e quando a mesma
não surgia, calma e banbolhante em seu caminhar,
algo estava acontecendo ou ela estava doente e não
poderia sair ou se encontrava à beira de uma cama
cuidando e confortando um enfermo ou então servindo
de companhia para crianças que deveriam ser reparadas
em tão grave momento.
Violeta, sempre andava com um pacote na mão, sinal
que estava fazendo seu trabalho de vendedora ou então
de “mandalete” para todos que necessitavam,
dos seus serviços.
Numa determinada ocasião a Violeta sofreu um acidente
que lhe provocou quebraduras graves e teve na figura do
médico Luis Carlos Scherer, as irmãs da Santa
Casa e por que não, da comunidade, um cuidado especial,
inclusive das senhoras da sociedade local que fazem hábito
de benemerência aos necessitados.
Teve como respaldo em seus momentos finais a figura de Iracema,
já aqui citada, de Péricles, que lhe deu abrigo
nos momentos de imobilidade, quando não poderia fazer
os trabalhos domésticos e dos filhos da casa, a profª.
Maria Hylma Castro e do Bel. Marcus Auch Azambuja e tanta
gente mais.
Num dia azarado, depois de uma breve dolência, a nossa
Violeta, partiu para sempre sendo recolhida a um mausoléo
da família de Osman Azambuja onde descansa para a
eternidade.
Esta mulher pequenina e frágil veio a falecer com
muita idade, partindo de nosso convívio, mas deixando
a sua casinha humilde lá para os lados da pracinha
dos Donatos, onde no dizer de Iracema, era seu desejo, que
a mesma se transformasse num local para recebimento de pessoas
como ela, que precisam agora de ajuda e que, por inspiração
dessa senhora a entidade deveria chamar-se Recanto das Violetas,
ajudando a todas as mulheres que perambulam por nossa cidade
precisando de abrigo e conforto.
|