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QUANDO O CAMPO SE ORGANIZA PARA PRESERVAR A PRODUÇÃO
Cooperativa de Lãs de Santa Vitória do Palmar

A produção básica da economia de nossa terra centrava-se na criação de gado bovino e ovino, que trazia aos nossos cofres o numerário que desenvolvia a grande riqueza do local, como o entorno do Rio Grande do Sul e Uruguai.
As férteis campinas aliadas à grandes extensões de propriedades que vinham desde os tempos das Sesmarias, criaram grandes potentados cujas fortunas foram sendo feitas desde o século XVIII e principalmente no tempo seguinte, quando a paz começou a reinar pelos acordos internacionais de divisas e surgiram povoados, como a nossa cidade e a presença da autoridade militar e policial fez o Estado estar presente. Terminaram-se as corrias dos bandoleiros, gaudérios e gaúchos com a forte atuação da lei e com o extermínio dos animais ferozes, principalmente os cachorros vadios que atacavam os grandes rebanhos.
A grande primeira tentativa de destaque para arregimentar os nossos estancieiros mais abastados e os pequenos produtores, foi a criação em 1911, no dia 2 de janeiro da Sociedade Pastoril, Agrícola e Industrial que veio desembocar na Associação Rural e hoje o Sindicato Patronal, (tema já apontado neste espaço).
Esta entidade foi o marco da organização produtiva em Santa Vitória do Palmar e que grandes frutos produziu, até que a era do cooperativismo se esparramou por todos os cantos do planeta e ficou marcado o fato de que, sem a associatividade, os grupos econômicos e sociais não poderiam progredir.
Nossa gente que vivia dos resultados da pecuária principalmente começou, a modo de outros municípios próximos, pensar em juntar as suas forças e tentar, desse modo, estabelecer nestas lonjuras, as bases para que uma cooperativa viesse suprir tão grande lacuna para poder vencer distâncias e assegurar os preços da carne, couro, lãs e marcar presença no meio comercial de nosso Estado.
Com o apoio logístico dos governos federais, estaduais e mesmo o municipal, aproveitando o sonho e a dinâmica de muitos conterrâneos, foi criada a COOPERATIVA DE LÃS.
No dia 17 de fevereiro de 1952 na Sede do Sindicato Rural que há dois anos, já tendo espaço na rua Coronel Dedeus, lá para os lados do cemitério, construiu um espaço na rua Mirapalhete esquina Neyta Ramos, que serviu para aglutinar os pecuaristas da região fundou a instituição que viria servir, por largo tempo, de orientação para o desenvolvimento de nossas grandes potencialidades econômicas.
Sob o comando entusiasta de um proprietário rural, Rutilio Russomano, foi estabelecida a fundação de nova entidade numa assembléia geral que ditou as normas para a associação organizar-se e transformar-se na pujante referência para a economia desta parte sulina da nação brasileira.
Na reunião inicial, o sr. Rutilio que começava os trabalhos na assembléia geral dos interessados, passou a presidência da mesma ao Técnico Público da Sociedade Agrícola do Estado do Rio Grande do Sul, ao sr. José Montserrat, que para cá deslocou-se a fim de provocar a criação dessa sociedade de ajuda mútua.
Na ocasião, então, foi delegada a presidência da Cooperativa de Lãs, ao companheiro Rutilio Russomano que passou a dirigir a entidade por largos anos de profícua existência, até que a saúde abalada pela idade avançada, o mesmo, passou o comando da mesma, sem antes proporcionar o grande desenvolvimento dela.
A Cooperativa de Lãs, começou a funcionar timidamente numa acanhada casa nos fundos da Igreja Matriz, pertencente a um dos associados, o grande homem de negócios Francisco Flório, para depois, instalar-se, no local onde funcionou a grande “venda dos Rottas”, empório localizado no norte da cidade e que por largos anos foi o referencial do comércio no varejo e na compra de frutos rurais. Sua atividade contabilística teve no comando o jovem economista Washington Bacelo que, além da direção segura dos trabalhos, ajudou a forjar muitos dos nossos conterrâneos nos trabalhos da contabilidade, onde que muitos ainda exercitam essa importante atividade dos números.
O progresso da instituição era cada vez mais forte e por causa disso, foi construindo um próprio na avenida Getúlio Vargas, a “Faixa do Porto”, quando esta desviava-se para o norte para chegar na praça Marechal Andréa.
Ai desenvolveu-se o trabalho na matéria-prima em questão e foi criado um curtume, depois, diversificou-se, no arroz e um armazém abastecia os cooperados que pagavam com os seus produtos que chegavam até ai defendidos pela corporação feita para esse fim.
Esta instituição cooperativa, depois do “falso milagre brasileiro” que provocou uma enorme inflação e uma guinada para facilitar a chegada de grandes firmas multinacionais no campo, começou a definhar, como tantas por este Brasil.
Hoje é triste ver essa grande área construída fechada ou algumas de suas dependências alugadas para outros fins e mesmo quando os nossos rebanhos ovinos foram violentamente diminuídos, como também, o arroz, teve uma baixa espetacular, tentando recuperar-se agora voltar a ditar os caminhos do desenvolvimento de nossa economia.
Este fato não é exclusivo de nossas cooperativas, mas da conjuntura nacional, que infelizmente fomos arrastados de roldão, mas a fé e o trabalho desta gente do campo, ainda pode, num esforço supremo, voltar a funcionar, reascendendo o sonho de Rutilio Russomano.
Nota: Este trabalho contou com a segura informação do contabilista Dinarte Oliveira, o Nato que está na presidência da instituição e da diligente funcionária Nali Correa Mirapalhete.

 

Complexo da Cooperativa de Lãs
Funcionário selecionando a lã
Rutilio Russomano
 
Washington Bacelo
Primeiro local da instalação da Cooperativa de lãs (nos fundos da Igreja Matriz)
Segundo local do estabelecimento cooperado. Antiga “venda dos Rottas” (esquina rua General Osório com a João Telles)

Fotos de Sergio oliveira (Foto Color)

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br