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CONCEITOS DE MORALIDADE PÓS GUERRA – 1945-1949

Em 24 de janeiro de 1949 o delegado de polícia de nosso município, Gaspar Velasco Molina, recebeu do Chefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul, Dagoberto Gonçalves uma correspondência para ser observada, com todo o rigor, nas estações balneáreas de toada a costa gaúcha e outras no interior, durante o veraneio do ano corrente.

PORTARIA

O Chefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul, no uso de suas atribuições legais;
considerando que o “uso de certas vestimentas” em nossas praias de banho, tem degenerado em imoralidade importunando de modo o pudor público;
considerando que muitos banhistas comparecem com tais trajes aos cafés e bares junto a praia num verdadeiro ultraje à moral pública;
considerando o que se impunha, sejam tomadas medidas para reprimir esses atentados contra os costumes,

DETERMINA:

A Delegacia Especial de Costumes e as autoridades policiais promovam os competentes inquéritos para punição dos contraventores na forma do preceituado do art. 61 da Lei de Contravenções Penais.

ass: Ten. Cel. Dagoberto Gonçalves
Chefe de Polícia

Acabamos de ler um teor legal da época onde os considerados “Atentado à Moral e Bons Costumes” eram punidos rigorosamente, já de uma forma transcrita em lei, pois a evolução desta situação, remota aos fins do século XIX e início quando em nossa terra, mais precisamente no Hermenegildo, um fato com consequências mais rigorosas aconteceu tendo como protagonistas a esposa do criador do balneário, José Antônio Fontes, da. Cecília e o próspero estancieiro Cecílio Pereira.
Este fato já foi narrado nestas páginas mostrando que sendo proibido o banho de mar conjunto, mulheres e homens, estes deveriam retirar-se para os ranchos, no momento em que as damas iam às águas para o seu refrigério com seus “trajes de banho” que lhes chegavam até os pés e com mangas compridas e sem deixar ver o colo.
Este cidadão sendo descoberto “fresteando” tão lúdico momento, foi execrado pela população feminina da “Estação” e como consequência imediata, deveria ser expulso da localidade.
O fato não foi consumado pela intervenção de alguns indivíduos (claro que homens!) que propuzeram ao aflito indivíduo que construisse um “ranchão” de pau a pique, para que todos estivessem naquele momento sob sua sombra e do olhar da matrona do Acampamento. Assim teria surgido o primeiro club do Hermenegildo que talvez levasse o nome de Esperança.
Retornemos aos anos de 45 – 49. Depois que as americanas revolucionaram o comportamento feminino como guiar automóvel, fumar em público e usar esses escandalosos “trajes de banho”.
Lembro-me das beldades do mar como a jovem Dorina já acompanhada pelo futuro esposo, também, com trajes audasiosos, as gurias do Juca Torino, a Leda, Idaete, Cota e Quelita, as do Antônio Donato, a Iara e Sara, do sr. Pedro Leonetti, a Cota, a Dalva Sanches, a Dilva rebenta do Alcides Cardoso. As mais velhas e as guriazinhas de então, ficavam com inveja porque tinham que vestir as roupas compradas no London-Paris, “de marca Foca”.
Os rapazes faziam, por sua vez, o uso das hoje conhecidas por sungas e modelos dos nadadores olímpicos dos EUA e são lembrados o Niceu, Heródoto, Élbio Graña, Bonifácio Estrela e tantos outros, metidos “a Tarzan ou alterofilistas do cinema”.
Os rigores dos costumes estavam ainda latentes e recém saídos de uma ditadura que se importava com essas particularidades e faziam com rigor militar e policialesco cuja era estava findando.
Agora os hábitos estão mudados, embora, os mais velhos sejam críticos ferrenhos do comportamento dos mais jovens, aliás, uma inclinação socilógica entre o velho e o novo.
Nossa terra passou por todas nuances e a Barra do Chuí as Maravilhas e o Hermenegildo, sem falar nas tépidas e doces águas da Mirim contribuíram para essa agitação e no caso das “roupas de banho”, acredito que a lei não foi observada para o deleite de muitos e a raiva de poucos, nos tempos idos do verão santa-vitoriense, que daquela maneira, não voltam mais.
Saudade e História se complementam sempre. São o apanágio da vivência íntima dos seres humanos e em nossa terrinha de 150 anos não poderiam ser diferentes.

Bonifácio Estrela e Idaete Torino nos combros do Hermenegildo (do acervo de Idaete Torino)
Os jóvens noivos Orison Azevedo e Vera Torino na costa do Hermenegildo (cortesia de Vera Torino)
Jóvens na casta da Barra do Chuí (gentileza de Vera Elena e Rudá)

 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br