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DOIS POLÍTICOS, JORNALISTAS E POETAS, DE CAMINHOS DIFERENTES
ACY DE AZEVEDO E WATERLOO CAMEJO

Estas figuras percorreram caminhos iguais, embora de filosofias diferentes e assim mesmo, glorificaram a cultura de nossa Terra, valorizando esta gente sulina.
Acy de Azevedo, mais cronista do que poeta, era filho de Jaguarão, concluiu o curso universitário de Humanidades em Montevidéo (ROU) especializando-se em Literatura Hispano-Americana e foi um de seus grandes cultores em nosso meio.
Arrebatado e pletórico, punha emoção e gestos teatrais em tudo o quê fazia e tanto orava em português, como no espanhol, língua que adorava. Originário de família de intelectuais, desenvolveu sua pena nos jornais locais, principalmente no Liberal, que encarnava a linha filosófica do seu partido político, o Partido Libertador.
Era sintomático o seu lirismo quando usava a pena para retratar figuras da cena cotidiana de nossa gente. Emociona a descrição do Velho Tassistro, italiano que para cá veio e tornou-se uma figura folclórica, vendendo bilhetes de loteria e o popular “jogo do bicho”.
Quando de seu passamento, numa crônica memorável, descreveu em breves pinceladas a sua personalidade, de onde foram extraídos alguns trechos que são aqui transcritos:

O velho Tassistro
“São tantas e variadas opiniões em torno da vida de Adolfo Tassistro que, em realidade, não sabemos, se lamentar o desaparecimento de um homem bom que inspira piedade ou contar com um cadáver mais que se foi”......
“Outros, também, como tu, velho vendedor da sorte, sofrem angústias escondidas, nervosas esperas, amargos desenganos, sem alcançar nunca o prêmio grande da felicidade no bilhete furta-côr da vida”.......

Acy de Azevedo tinha como pseudônimo Jacques de Azevedo ou Cododácio Prato e foi boêmio, formador de grande frases e expressões de efeito, como o eterno....”Que pena que eu vou morrer”....
Este homem, de nosso cotidiano partiu cedo, mas ficaram gravadas as suas histórias e repentes, além de uma obra monumental transcrita em versos e artigos, além de seus discursos inflamados, tanto políticos como de saudação ou homenagens.
Teve uma trajetória ímpar este jaguarense que aqui se radicou e não saiu mais....”QUE PENA QUE EU VOU MORRER”, disse numa tarde de verão, cálida e calma, quando assistia um daqueles pôr-de-sóis de nosso Hermenegildo. Acy de Azevedo...que pena...
Waterloo Camejo, conterrâneo, nascido no interior do município, saído do clã dos Camejos onde representaram-no várias gerações de poetas.
Foi vereador pelo Partido Social Democrático e desenvolveu suas potencialidades, mais pelo verso e jornalismo, do que em crônicas onde também era mestre. Sua atuação deu-se principalmente no jornal Sul do Estado.
Seu apelido artístico, tão comum naqueles tempos, era o de Leovatro, principalmente quando fazia seus comentários esportivos. Acy de Azevedo era santa-cruzense e Waterloo, rio-branquista, chegando à presidência do clube.
Da corrente partidária dos Anselmi, Osvaldo e Mario, atuou em vários momentos da vida municipal desde trinta até meados cinqüenta, quando se estabeleceu na capital do Estado.
Possui livros editados, principalmente os de maior sucesso como, Pelos Corredores da Vida e o mais solicitado, Cinzas do meu Fogão, que teve como prefácio, um momento magistral do repentista gaúcho Jaime Caetano Braun que dos seus versos disse assim:

“o vento não chora mais
seus lamentos de amargura
já se foi a noite escura
e a luz nos Campos Neutrais,
Mas, Waterloo - - são iguais
As CINZAS DO TEU FOGÃO
aquelas cinzas - - que vão
nas madrugadas da vida
cobrindo a brasa escondida
nas cinzas do coração”....

Este homem da Terra foi polêmico, direito, amigo e nunca se furtou das refregas com sua pena contundente e por isso, tornou-se paciente de um processo político que incandeceu toda esta gente gaúcha dos confins meridionais.
No seu livro “CINZAS DO MEU FOGÃO” ele espelha o sentimento por uma parte física de sua vivência que é a TAPERA, quando diz:

“Ao enxergá-la de longe
junto aos umbu reclinada
Já sem teto, esburacada,
entre ramagens bagualas,
parece, estendida na coxilha
velho poncho farroupilha
todo furado de balas.

Leovatro assistiu a morte de Jacques de Azevedo ou Cododácio Prato e embora, estando separados na amizade por rugas político-partidárias, foi o velho homem de letras, Waterloo, que diante do falecimento do seu desafeto que usou a sua pena para homenagear o amigo que agora partia, como querendo repetir o seu verso a Tapera, onde dizia-...”pareces estendido na coxilha”, para saudar ao colega que se afastava da vida, lembrando que na beira da costa o mesmo repetia agitado...”que pena que eu vou morrer....que pena que eu vou morrer”....
Como dizia o mestre poeta Carlos Drumond de Andrade, “o poeta é um ressentido...o resto, são nuvens”....
Acy de Azevedo e Waterloo Camejo, foram separados ideologicamente. Pelo imponderável, ficaram entrelaçados, o quê fizeram relembrar um verso que ambos tanto admiravam e que dizia sobre os poetas:

“O POETA
Francisco de Paula Lessa

O poeta sofre tanto neste mundo
Tantas penas, meu Deus, carrega em si,
que quando nasce um poeta ou nasce um santo,
toca um sino no céu - - eu sempre ouvi!
Na vida, dizem não ter fim meu pranto,
porque um sino tocou quando eu nasci”....

 

Waterloo Camejo(a direita) acompanhado de Rodolfo Rota, Adrovando Silveira, Nelson Vasques Rodrigues, Adroaldo Silveira e Paulo Argondizzo (foto do Autor)
Destacamos a gentileza da sra. Dinorah Silveira Munhoz.
Acy de Azevedo, do acervo particular de sua filha Nancy de Azevedo
Poema de Acy de Azevedo de Waterloo Camejo, da coleção do Jornal Liberal.

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br