VAMOS AO CINEMA NA GALERIA
Local de muitas lembranças no Independência
Nossa
cidade teve muitos cinemas desde o tempo do Cinema Mudo
e a sétima arte foi sempre um atrativo para os moradores
desta região, como em todo o planeta.
O movimento das imagens, mesmo sem som, sendo este acalentado
por orquestras ou pianistas que passavam toda a função
dando a sua virtuosidade, tanto em músicas clássicas,
populares, e em alguns casos, com artistas mais ousados
ou destacados, faziam o acompanhamento das cenas, ora de
amor ou tragédia, variando a modulação
nos momentos do filme.
Ainda, sentimos, em conversas saudosas em alguns veteranos,
apreciadores do cinema mudo, restos de melodias que, mesmo
passado tanto tempo, ainda servem de lembranças acalentadoras
ou mesmo, críticas, quando os mesmos dizem ainda
que, artistas e filmes eram os do tempo quando não
havia sonorização no celulóide.
O Cine Theatro Independência com seu modernismo, mas,
principalmente com a grande capacidade acústica e
o conforto, chegando ao ponto de Jaime Costa, um dos maiores
artistas de teatro do país nas décadas de
20, 30, até 60, referiu-se ao autor desta crônica,
em 1961 no São Pedro, o maior centro de espetáculos
de palco do Rio Grande do Sul, que na época, em 1930
quando ele inaugurou esta nossa casa cultural, haviam os
três maiores no Estado, onde ele estava se apresentando
com uma grande companhia, o 7 de abril em Pelotas e o nosso,
que ele teve a honra de inaugurar em agosto de 1930 cuja
ápice artística deu-se no dia7 de setembro
e que por isso, teve nome.
Os camarotes localizados na zona intermediária do
prédio, eram o local para a classe mais abastada
que podia comprar “Permanentes” para todo o
ano e também usado pela diretoria de posse desfilavam
os seus trajes de gala com chapéus e véus,
casacos de pele e também, as meninas passeavam enquanto
não começava a sessão.
Mas, a parte superior onde o espectador assistia os trabalhos
de um ângulo mais acima do palco e da tela, que provocava
um desconforto principalmente nos olhos.
Ai é que ocupava a camada mais pobre da população
citadina que chegando lá por uma escada íngreme
se acotuvelava em bancos incômodos de madeira para
acompanhar a função, inclusive com muitos
desfrutando da proximidade da “Casinha da Máquina”,
onde estava o projetor que serviu por muito tempo e que
passou depois a ter um companheiro ao lado e daí
em diante, não foi preciso acender a luz para trocar
de rolo do filme.
Mas a Galeria, Galinheiro ou pulgueiro, também se
prestava para que a gurizada perseguida pela justiça,
através do “Juízes de menores”,
cáusticos servidores que não deixavam os menores
entrar e que, muitas vezes, usando mais regulamento do que
o bom senso, faziam com que a turma ficasse de fora. Era
um martírio e que grandes dificuldades passávamos
para burlar tão intransponível barreira. Na
maioria das vezes, ajudados pelos bilheteiros ou funcionários
do teatro, mais a cumplicidade de algum bom soldado, como
o seu Zeca, de tão saudosa memória, era uma
conquista ver os filmes que passavam, principalmente os
franceses considerados impróprios para menores de
18 anos. Sinal dos tempos!
Mas a grande aventura estava quando passavam, raramente
filmes somente para homens, os hoje ditos pornográficos,
com cenas de sexo que nos dias atuais poderiam “até
passar em conventos ou escolas de freiras”, como era
o jargão da época.
Ai é que as dificuldades aumentavam porque a fiscalização
se redobrava, inclusive pelo Ju7iz de Direito, Promotor
Público e o Delegado de Polícia, mas mesmo
assim, chegando um pouco tarde, muitas vezes conseguíamos
ver tão pecaminosos películas.
Hoje isso tudo passou: o teatro abdicou do cinema, não
são passados mais filmes, já que a televisão
o desbancou; muita classe não precisa desfilar nesta
passarela e os encontros amorosos desde a tenra idade são
feitos no próprio lar das nubentes.
Uma grande evolução na sociedade, talvez,
para melhor.
O corredor de platéia não está mais!
Os camarotes não são o referencial para riqueza
e as aparências na sociedade da região, mas
a saudade dos espetáculos de teatro, as fugas para
os filmes da Brigit Bardot, Silvana Mangana, etc., os eróticos
ingleses e suecos e os pornográficos (?) para homens
depois das dez da noite, ainda estão na memória
de tantos guris que hoje, já em ida de avançada
não se preocupam com essa atração e
mais, muitos, não possuem condições
físicas para enfrentar a escada da querida e desejada
Galeria de nosso cinema, que não desaparecerá
no esquecimento, enquanto houver moleca lírico ou
libidinos lá passando dos 60...
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