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RENI OLIVEIRA – O FRANKSTEIN – UM EXEMPLO DE VIDA

 

Nascido no interior do município de Santa Vitória do Palmar, como tantos outros, foi chegando para a periferia da cidade, onde seus pais adquiriram uma chácara.
Era, então, uma maneira de dar estudos aos filhos, principalmente quando dois deles apresentavam um grave problema de visão.
Aos dezesseis anos, Reni começou a sentir que este importante dom da natureza biológica começava a falhar e depois de procurar recursos em Pelotas, recebeu a triste e grave sentença dos especialistas: começaria a perder a visão progressivamente, o que realmente aconteceu aos dezoito anos, ficando totalmente cego.
Este triste fato não o abalou e Reni, o Ceguinho, como ele gosta ser chamado, começou uma trajetória que poderia ser triste, mas que na realidade, foi se acomodando com o seu modo de vida. Meteu-se no trabalho como uma grande terapia que deu certo e além de ser carpinteiro, pedreiro, eletricista e até em serviços de encanador, passou a preocupar-se com os dotes que lhe vinham na alma, o de poeta e músico.
Começou a versejar, tocar uma gaita de oito baixos e encantou as platéias com a sua inspiração e sensibilidade.
Muito namorador, procurou na companhia do belo sexo, compensar sua deficiência e provocou rumorosos casos de amor, cortejando lindas moças (que eles as sentia assim, pelo tato), mas ao mesmo tempo, envolveu-se em cada encrenca amorosa, já que os parentes das damas, como ele afirma, não anteviam futuro nos amores com o CEGUINHO.
Lembra com um misto de saudade e “molecagem”, o contato que teve na fronteira, com uma viúva, que perdeu-se de amores por ele, mas que devido ao fato que vai contando no poema abaixo, o mesmo, sorrateiramente saiu, lá do sul e nunca mais voltou ao contato com ela.
Casou-se com da. Maria Ozônia, que caiu de paixão por ele, já que o achava bonito, embora, ainda narrado por ele, o seu protetor nos primeiros anos de cegueira, o dono da Padaria Progresso, Abílio Rota, ter-lhe dado o nome do personagem da ficção narrada em livros e no cinema.
A sua companheira afirmou, em sua frente, que resolveu tomar a atitude do consórcio, porque gostava muito dele e viu que essa presença ao seu lado, lhe daria segurança, afeição e sonhos. Assim aconteceu e desse encontro surgiram seis filhos que são a alegria familiar. (um falecido)
Poucas vezes conheci um casal com tanta harmonia, carinho e fé e o respeito que suas filhas, professores lhe dedicam constantemente, e uma demonstração disso, é que elas conhecem sua produção lítero-musical e o ajudam a lembrar-se dela quando esquece.
Grande felicidade foi conhecer essa gente.
Ao fim, perguntei a RENI OLIVEIRA – o CEGUINHO, apelidado de Frankstein, se o mesmo não levava mágoa de sua aparente desdita, o que prontamente me respondeu: “aprendi a ler e escrever durante o estágio progressivo de minha perda de visão e depois, fui aperfeiçoando as minhas qualidades, mas o maior dom que recebi, além do incentivo da minha gente, dos meus amigos, algumas, figuras de destaque na comunidade, foi a grande fé em Deus, que acompanha os meus passos”.
Levo comigo a gratidão de poder suplantar a condição de cego e poder servir a todos os que precisam de mim. Sou um ser feliz. Nada mais desejo!
As festas do interior, nos CTGs, as serenatas ao som da gaita desse homem e seus versos jocosos ou merencórios, mais do que isso, sua presença no lar ou andando num triciclo construindo graças a sua habilidade e inteligência, onde a esposa Maria Osônia, servia de condutora e mais do que isso, no exemplo que este homen pratica na comunidade em que vive é que servirá de satisfação e guia para seus demais conterrâneos, quando fazemos tão bem vividos 150 anos.
RENI DE OLIVEIRA, Frankstein, o Ceguinho, cidadão que nos enche de orgulho por tê-lo, como um mergulhão, destas plagas do sul.

A Viúva

Poema do Reni Oliveira-o Franskstein

Eu vou lhes contar um causo
Que por mim foi sucedido
Namorei uma viúva,
O qual fui correspondido.

Então, essa viúva,
Ficou de esperança
E saiu logo em seguida
Dizendo pra vizinhança.

Participou a sua comadre
E também a o Joãozinho
E dizia pra o seu Pedro:
“me caso com o Ceguinho”

Eu que andava desconfiado
que ela fosse esperta,
encilhei bem o meu pingo
estava sempre em alerta.

E passando alguns dias
E era um lindo domingo
Peguei, então, minhas garras,
Encilhei bem o meu pingo .

Botei um laço nos tentos
E o meu chapéu mangueira
E sai galopeando em direção à fronteira.

Quando cheguei em casa dela
Não pude ficar mais quieto
Ela tinha quinze filhos
E tinha sete netos.

Aquela turma de crianças
Me viram e ficaram inquietos
E ainda tinha um velho
arrinconado num canto.

Ai, eu disse pra ela:
Nessa corrida eu não vou
Eu ainda sou criança
Para eu entrar de vovô.
E vim pela estrada afora
No meu pingo galopando
Ouvi uma voz quen me dizia:
--te escapa, que estão pegando!

Versos de sua autoria intitulados - A VIÚVA
Reni e Maria Osônia, com uma das suas filhas na sua formatura de professora
Foto antiga da Família de Reni e Maria Osônia com seus 6 filhos



 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br