FELICIANO POSADAS –
UMA REFERÊNCIA NA REGIÃO DE JOÃO GOMES
“Lá
vem o Carreteiro chegando,
de muito longe tocando,sua boiada,
dizendo..eira...eira...boi da ponta” |
CARRETEIRO
(de Piratini e Caco Velho) |
Feliciano
Posadas que aqui foi conhecido por Posada, nascido nas areias
da Coronilha (ROU), chegou ainda mocinho em nosso município
em meados dos anos vinte, trazido junto com sua família,
por seu pai. , com a finalidade de escapar da grande agitação
no país vizinho, revolucionado por constantes lutas
fratricidas e como os filhos varões já estavam
em idade de servir ao exército de lá.
Os Posadas se instalaram na zona de João Gomes nas
imediações do arroio Chuí, próximo
ao hoje conhecido como Corredor dos Vianas.Ai começa
a vida do jovem Feliciano que logo se encanta com a graça
de uma mocinha da terra, Martimiana Rodrigues e numa pequena
gleba passa a desenvolver o seu grupo familiar que viu crescer
em número de quinze rebentos que povoaram aqueles
campos e fizeram a alegria e o orgulho do casal.
Feliciano e Martimiana transformaram o solo fértil
daquela zona num recanto de progresso e muito trabalho vendo
os filhos crescerem no bulício da infância
e na conduta, depois, dos adolescentes. A pequena chácara
começou a produzir para o sustento de todos e mais,
comerciar a messe que a natureza dá.
Feliciano Posadas, em busca de um maior rendimento para
prover o sustento de todos enveredou por uma outra atividade
que ele conhecia desde menino, o trabalho de carreteiro.Para
isso, amansou alguns bois tendo como pioneiros os seus mimados
Cara Branca e Primavera e comprou uma carreta e daí
passou a desenvolver tão difícil serviço
carregando produtos da sua fazendola e da redondeza.Para
Feliciano não existiam distâncias, principalmente
na área leste, como Geribatu, Médanos e Curral
Alto, transitando vagarosamente nessas andanças pelos
nossos campos.
Era conhecido por ser um homem sem medo, aliás, os
indivíduos justos não se assustam com as assombrações,
animais ferozes e os bandidos que diziam rondar os caminhos
tortuosos de nosso interior.Muitas vezes ao ser pego pela
noite, nas proximidades da vila Anselmi, não lhe
agradava descansar no povoado e sim dentro do antigo cemitério
quando, jocosamente dizia que, ali estavam todos seguros
vigiados pelas almas boas, ”donde paza de largo el
finao” e as cargas transportadas, os animais,o veículo
e a própria vida dos membros da caravana ficavam
seguras.
Pela proximidade com o balneário do Hermenegildo,
onde possuía uma casa bem na beira do mar, levava
a sua família para a estação de veraneio
e quando a turma chegava era uma grande festa principalmente
pelo número de buliçosos jovens que faziam
a alegria da “Estação”.Nesse período
insetava outra atividade que era de mercar com os frutos
produzidos no grande pomar de sua propriedade e era agradável
vê-lo chegar em sua carrocinha puxada por dois fogosos
cavalos, tendo a companhia de Piloto e Tupi, seus inseparáveis
cães.
Homem de folguedos, nunca deixava a de comparecer com todos,
aos bailes do Clube Recreio dos Veranistas e em brincadeiras
nos dias de semana, mesmo tendo que ir para a campanha no
dia seguinte e enfrentar o trabalho duro de todos os dias.
Assim a vida deste campeiro de nosso interior chegou ao
ponto final de sua carreira de trabalhador incansável,
quando se transformou no agente de deslocamento das mudanças
dos veranistas, tanto no início, como no fim do período
de estio.Era contratado em momentos organizados, e aí,
o Velho Posado, já com seus filhos mocinhos acampava,
no dia anterior combinado, no Campo do Sarapico para na
madrugada seguinte chegar na residência nomeada e
lá pelas quatro horas transportar os móveis,
comestíveis, animais domésticos e tantos outros
trastes necessários para a estada prolongada de mais
de dois meses.
Nunca houve notícias que a carreta do Velho Posadas
falhou ao encontro entabulado ,mas ao começar a década
de 50,com a chegada do caminhão do José Plá
dos Santos e depois de tantos outros ,o serviço pelas
areias , deixou de existir.
O Tempo que a ninguém perdoa começou a fazer
estragos na vida de Feliciano Posadas e o mesmo teve que
se refugiar na cidade junto a seus filhos, para esperar
o cumprimento de sua tarefa nesta terra e os seus bois não
estavam mais, os cães deixaram de fazer-lhe companhia,
mas o respeito e admiração a este grande Ser
Humano manteve-se por todos os lados onde,os que o conheceram,transitam.
Sua propriedade em João Gomes, pela inspiração
do bacharel Dílson Mespaque, seu novo dono, passou
a chamar-se Fazenda do Gorro Branco, numa alusão
ao inseparável boné de marinheiro que levava
posto.Mais tarde, coma nova troca de dono, essa lembrança
deixou de existir, mas um novo advogado, Anderson Pereira
de Ávila retornou com aquele nome que tanto o enternecia.Cousas
do lirismo destes moços ligados às tarefas
Jurídicas.A História de nossa gente nunca
esquecerá deste gesto!
Mas, a maior contribuição que este Homem do
Campo deu à nossa comunidade, a meta, aliás,
a maior de toda a sua existência, foi o compromisso
de que todos os seus filhos fossem alfabetizados e tivessem,
pelo menos, os primeiros e rudimentares atributos do saber
e nas pequeninas escolas da zona levou aquela gente miúda
para aprender e um dia servirem com honra a Terra onde nasceram.
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