CLUBE COMERCIAL –
A DELICADEZA DOS BAILES
As Luzes e o Salão Cor de Rosa que enfeitavam uma
sociedade do interior
Em todas as comunidades grandes ou pequenas,
a vida social desde muito tempo, era tida e desenvolvida
nos salões dos clubes recreativos.
Outras entidades, como a do “Turfe e o Futebol”,
também aconteciam, principalmente o último,
já nos fins do século XX, marcando a presença
conjunta dos habitantes dos lugares. A maneira mais franca
e divertida de mostrar as pessoas em suas qualidades físicas,
artísticas e principalmente, no posicionamento do
valor econômico de cada um.
Até o começo do ano de 1980, essas sociedades
privadas, conforme os locais onde se instalavam, também,
demonstravam além da união, uma forma de separação
das pessoas que habitavam as localidades, fossem interior
ou nas cidades.
Santa Vitória do Palmar, fundada numa região
de pecuária, com forte demarcação social,
inclusive uma brutal distinção racial e de
riquezas, proporcionava, nitidamente essas tal situação.
Ao terminar os anos 80, a comunidade local criava grande
exemplo disso, chegando até nós, os clubes
Comercial e depois o Caixeiral, em cujos nomes se atestava
a qualidade de seus membros.
Rigorosa seleção por berço e dinheiro
distinguia as pessoas, nem sempre, demonstrando a realidade
do comportamento dos indivíduos na vivência
em grupo.
Felizmente hoje são cousas do passado e a miscigenação
abrange quase todos, onde o dinheiro abria as portas de
tão fechadas entidades de ontem.
O Clube Comercial, objeto desta crônica, foi o grande
local que abrigava a nata da população santa-vitoriense,
principalmente dos ricos pecuaristas e comerciantes locais.
A procura em pertencê-lo era muito grande e conforme
a mobilidade social que se fazia de baixo para cima, os
indivíduos iam galgando postos pertencendo, a esse
grupo tão procurado e as vezes, porque não,
odiado, diante da segregação, dura e injusta.
O Comercial era o centro das festas de nossa gente, pontificando
casamentos, bailes, saraus e encontros da juventude, nos
amplos próprios da associação.
As bailantas eram raras, mas, ao mesmo tempo, suntuosas
e apreciadas, fazendo com que, todas as pessoas que pertenciam
a essa destacada crei recreativa, gozassem por vários
tempos, a preparação das festas, incluindo
os bailes do dia 31 de janeiro, de gala, com orquestra de
fora, principalmente de Rio Grande, Pelotas, raras, de Porto
Alegre e ainda as fantásticas “orquestras típicas,
do Uruguai e algumas da Argentina, tão ao gosto da
população meridional. Esta festa, no dizer
do grande escritor conterrâneo, José Vitor
Centeno Rodrigues, era o momento mais deslumbrante de todos...”
o Baile de Gala do 31, no Clube Comercial”.
Havia o encontro infantil de Natal, os dois dias de Carnaval
e o famoso festejo do dia 7 de julho, a festa de aniversário.
Luxo, animação e esperanças de encontros
nos momentos mais destacados e é por isso, que apresento
um instante que, ao meu juízo, demonstrava a sensibilidade
desta gente que vivia em grupos festivos, nestes lados do
sul do Brasil.
Era comum, a diretoria entregar às moças,
um convite, conforme vai retratado nesta página,
para anunciar-lhes tão importante momento, que fazia
com que se transformasse em gratas lembranças que
até hoje, guardadas no cofre mais esconso dos baús
de donzelas, cheios de lembranças e de saudades.
A história dos mesmos, contada por mocinhas como
as belas Rosinha González, Deza Argondizzo, ano de
1942, festa em homenagem ao embaixador brasileiro no Uruguai,
Batista Luzardo, grande amigo desta terra e outro em 1952,
por ocasião do encerramento das atividades do Grêmio
dos Estudantes Santa-Vitorienses, extinto após a
criação do Ginásio de Santa Vitória
que fez diminuir os componentes do Grupo, já que
a maioria dos moços não mais iam em grande
quantidade estudar fora, aliás, que ficou na memória
de muitos, a expressão... “os estudantes de
fora”...
O falado convite trazia em seu interior uma relação
de tipos de música que as jovens marcavam e entregavam
aos seus pretendentes com a finalidade de, aquelas “marcas”
serem dançadas por eles.
Quantos romances surgiram por causa do oferecimento de tão
simples e sentido cartãozinho, impresso na tipografia
do Sul do Estado.
Outra informação, mas apresenta poucas provas
de sua veracidade, era que, quando as jovens presentes nos
bailes em questão, por serem menores e não
estarem acompanhadas dos pais, estes marcavam na relação
das peças bailáveis, o tipo de ritmo que as
mesmas poderia participar.
Foram-se os bailes de antanho, as orquestras não
passam mais por nossa cidade, a iluminação
deixou de ser farta e brilhante, não se destinguindo
a cor rosa da pista e muito menos das pessoas em volta do
salão. Tudo hoje está diferente, pois, somente,
na cidade temos o velho Comercial, já que querido
Caixeiral, o velho “Caxa”, vendeu o seu prédio,
mas o convite sempre ficará guardado nos pertences
das mocinhas românticas e dos jovens ansiosos, elas
com seus vestidos de gala e eles, com suas roupas de gala
com “gravata de tope”, pontificando no ambiente.
Sob administração firme o profícuas,
lembramos em 42 dos presidentes do Clube Comercial, Bolívar
Barberena e Anselmo Amaral e no de 52, Osvaldo Anselmi,
dando grande contribuição à nossa sociedade,
onde tantos se encontravam e muitos traziam nas mãos,
um simples “convite de baile” que até
agora emociona seus donos e todos aqueles que assistiram
passar, no prédio vetuso, a ânsia e o amor
que sempre perdurou entre por passadas gerações.
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