O DOCE E SAUDOSO SORVETE
DO VALDEMAR
Corriam os anos 40, em seu fim e nossa
cidade, embora isto já esteja registrado noutra crônica,
possuía o benefício da fabricação
de gelo. Primeiro na Usina Municipal, para depois, ser produzido
na Fábrica de Gelo da firma Anselmi e Cia, localizada
na rua 7 de setembro, quase esquina da Conde de Porto Alegre.
Lembranças correm para nós, dos pedaços
do produto em natura, saídos das máquinas
que transformavam a água líquida, em sólida.
Foi motivo de lembrança que essa nossa experiência
manufatureira, serviu, além, do uso na rede de açougues
da empresa que eram chamados de Modelo e também,
exportando para a fronteira nas duas vilas do Chuí
de então e mais, para a cidade de Castilhos.
Mas, neste momento, quero relembrar os famosos sorvetes
do Valdemar Salomão.
Quem era este homem que fazia o encanto da gurizada quando
proporcionava tão deliciosa iguaria que somente a
víamos nas revistas brasileiras e uruguaias ou então,
pelos comentários dos colegas que viajavam para o
exterior ou ao centro do pais.
Este homem era de origem árabe, já o sobrenome
o identifica, vindo de Jaguarão tempos atrás
e que aqui se estabeleceu na rua 13 de maio, depois, mudado
o nome para Barão do Rio Branco e a partir de 1952,
teve seu apelido firmado de “Faixa”, por obra
cimentada que vinha do porto e cortava a nossa via principal.
Era ali entre as ruas 7 e Osório, onde hoje esta
a casa de móveis RC.
Fanático dono de uma fruteira que, na realidade,
vendia de tudo, mas, de vez em quando nos oferecia maçãs
argentinas e bananas nacionais, fora de época e mais,
os abacaxis que eram muito procurados e que aqui não
se encontravam por causa do clima.
Valdemar Salomão possuía, também, um
pequeno caminhão Chevrolet, ao estilo das caminhonetes
de agora e fazia fretes, em especial desde o Campo de Aviação,
quando da chegada do avião ou então, trazendo
mercadorias do porto.
Era um “turco afável”, de um grande círculo
de amizades em todas as esferas da comunidade, inclusive
no interior, onde se deslocava para vender os produtos do
seu mercado e mais, não negando a raça, de
roupas e quinquilharias.
Mas o que mais impactava no turco Valdemar era a sua máquina
de fazer sorvete com seus ingredientes especiais para produzir
tão procurado produto que contava com grande procura.
A máquina sorveteira era composta de uma diminuta
barrica de mais ou menos, 40 centímetros de altura
e possuía na parte de cima, que era aberta, uma tampa
de latão que se encaixava nela e possuindo uma manivela,
fazia com que os conteúdos colocados ali se transformassem
em tão esperada guloseima.
E como era formado por 70% de gelo picado, uns pedaços
de frutas da época de verão (dezembro a março)
ou os mais caros, com partes de abacaxi em poções
e um pouco de suco de groselha que lhe dava o sabor característico.
Como o espaço era diminuto no recipiente, o Valdemar
tinha que fazer um esforço para atender a meninada
e alguns mais íntimos, ajudavam no ato de “dar
manivela” em tão importante peça desse
revolucionário aparelho.
Custava “cem réis” o copo, isto mesmo!
O copo, pois, deveríamos levá-lo de casa porque
o comerciante não o fornecia.
Terminada a estação de calor, o gelo não
era mais produzido e por essa razão, acabava-se a
procura dos sorvetes. Tínhamos que esperar para o
ano seguinte.
Com a criação do Bar Tabajara em 1951 seus
proprietários introduziram no negócio uma
potente máquina de fazer sorvete, elétrica,
ficando o mesmo igual aos de outros centros maiores.
Por esse motivo, acabou a era do “Sorvete do Valdemar”
que também, já velho, voltou para sua terra
natal, onde faleceu.
A fruteira do Valdemar não esta mais e o seu sorvete
foi substituído pelos modernos doces gelados, mas
a sua figura continua viva, pelo menos, nos guris daquela
época, que ainda sentem a lembrança de pegar
uma carona no caminhãozinho do Valdemar e muito mais
do que isso, degustar afoitos, o esperado, demorado, mas
gostoso, Sorvete do Valdemar que, para cá veio e
deu a sua grande contribuição no desenvolvimento
de Santa Vitória do Palmar.
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A
faixa onde se vê o Banco do Brasil da época
e ao lado esquerdo a fruteira do Valdemar com o caminhãozinho
em frente. |
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Rara
foto do “turco” Valdemar Salomão
vestido com uma camiseta de futebol de um time veterano
da cidade. |
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