UM "TURCO" NA
POLÍTICA MUNICIPAL
Como
já foi explicado em uma de minhas crônicas,
os árabes que inicialmente chegaram ao nosso rincão
eram chamados de “turcos”, porque quando deu-se
a imigração desde o Oriente Próximo
para a América, principalmente no período
entre a 1° Guerra Mundial (1914-18) as áreas
do outro lado do Atlântico e Mediterrâneo estavam
sob o domínio dos Otomanos, conhecidos por “Turcos”
e para sair de lá, os passaportes desses viajantes,
ao invés de registrar nacionalidade libanesa, Síria,
etc, dizia ser turca.
Ibrahin Boabaid foi um dos tantos imigrantes que chegaram
em nossa cidade numa política de povoar estas regiões
mais longínquas com trabalhadores rurais, mas é
sabido que essa gente originária dos fenícios,
para esse trabalho não se dedicavam e sim ao comércio
de mascate por todo o interior brasileiro, levando mercadorias
pelos mais distintos meios de transportes e sendo um elo
de ligação entre as populações
isoladas com o mundo das grandes cidades.
Este homem aqui chegou e depois do costumeiro trabalho de
comunicador entre a nossa campanha e a cidade e juntando
algum capital, estabeleceu-se em nossa rua central, bem
na esquina do prédio de Duque de Auch, que primeiramente
serviu de um grande hotel, nas esquinas da rua Sete de Setembro
com a Treze de Maio e conhecida como a do bar Tabajara.
Fez fortuna, pois, além de grande comerciante, dedicou-se
ao setor empresarial com a compra de terrenos e fez da Barra
do Chuí um ponto de comércio na futurosa estação
balnear.
Foi um grande destaque, tornou-se um dos “Turcos”
ricos e envolveu-se na vida social da comunidade, participando
de quase todas atividades que aqui fluíam: homens
dos jogos de cartas, carreiras de cavalos, torcedor e benemérito
do E. C. Rio Branco, sem falar na benemerência que
praticou com denodo, sendo um ponto referencial da ajuda
e provocando empregos nos seus balcões de Casa Brasil
no local já comentado.
Quando estava entrando nos anos fez da política uma
de suas grandes preferência, pois, a redemocratização
de 1945 foi encontrá-lo na luta para que seu partido
político, o Partido Social Democrático, o
PSD, das figuras de destaque como Mario e Osvaldo Anselmi.
Quando terminou o mandato de Osmarino Terra, foi feita uma
coligação para mudar a situação
de mando “udenista”, e o mesmo compôs
a chapa vencedora com o bel. João de Oliveira Rodrigues,
entre o Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB e o seu PSD.
A atuação, primeiro como vereador no período
anterior e depois com a nomeada “dobradinha”,
Ibrahin Boabaid foi o companheiro ideal do prefeito Joca
e dedicou-se, com os parcos recursos de então, a
preocupar-se com o setor de obras e de seu entusiasmo de
árabe obstinado, conseguimos a confecção
do 1° Plano Diretor desta cidade, tendo como grande
colaborador o jovem engenheiro agrônomo Carlos Alcy
Cardoso e o início do calçamento de uma quadra
com pedra irregular, dava a partida desta grande aspiração
de nossa gente, partindo para a solução, que
veio muito lentamente, dos atoleiros de nossas barrentas
e arenosas ruas.
Este homem foi o grande destaque nos trabalhos da administração
municipal, fazendo realizações que agora,
vemos de grande conseqüência para o desenvolvimento
local.
Já no fim de sua estada por aqui, solteirão
convicto, contraiu núpcias com uma senhora mato-grossense
que residia em São Paulo e com ela teve um filho.
Premido pela ação da esposa, deixou todos
os seus grandes negócios e após completar
seu período a frente da vice-prefeitura, transferiu-se
para a capital paulista onde veio a falecer.
Ainda hoje a população mais antiga recorda
com carinho e admiração da figura do seu Ibrahin,
o “turco” que, naturalizado brasileiro, além
de uma profícua atuação como mascate,
comerciante e empresário, adotando a nossa terra
como a sua, vislumbrou o futuro por estas bandas e teve
fé em tudo que realizou para o bem de todos e fez
do trabalho em plagas tão longínquas, grande
meio de vida e sua passagem pelas campinas do extremo sul,
a prova da dedicação de homem, aliás,
característica da raça e o grande amor por
todos que o cercam em nossa Santa Vitória do Palmar
que ele julgava ser “o lindo e progressista começo
do Brasil”.
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