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São Miguel: passagem da ocupação militar e do comércio nesta zona

Existe na área fronteiriça do sudoeste santa-vitoriense uma região conhecida como São Miguel. O nome foi dado ao forte fundado pelo brigadeiro José da Silva Paes, quando da instalação dos redutos militares que vieram a ser, depois, as cidades de São José do Norte e Rio Grande, precursoras da ocupação luso-brasileira neste extremo sul do País. Um arroio de 40 km que vem da Lagoa Negra, no Uruguai, e desemboca na Mirim, passando pelo contraforte de um cerro que também leva o nome daquele santo da igreja católica.
Era um ponto estratégico, já que nestas planuras, da Lagoa dos Patos até o Chuí, nada havia que servisse de base para uma fortificação, no sedimentar pampa, até que se avistasse de longe este ponto alteroso e o riozinho que passava abaixo e servia de comunicação até as enseadas da hoje Fortaleza de Santa Tereza, único ponto da costa Atlântica, onde os barcos poderiam provocar o desembarque.
São Miguel foi sempre um elo para estabelecer a ocupação dos terrenos dos Campos Neutrais, já que na segunda década de 1800 um fidalgo português, a serviço da coroa, agora no Brasil, desencadeou uma ação de conquista. Vencendo os espanhóis e integrando essa região ao solo pátrio, transformou a antiga Colônia do Sacramento em possessão lusitana com o nome de Província Cisplatina, isto significando "além da prata", e fazendo com que nosso município, território tão disputado, ficasse no domínio deles e que posterior a nossa independência, se transformasse em região nacional.
Noutro momento, já em fins de século 19 e adentrando o XX, São Miguel foi um ponto de transbordo de produtos brasileiros que, pelo mesmo arroio, entravam na República Oriental, como café, erva, álcool, cachaça, fumo, etc. Em troca chegavam aqui, o couro, a graxa e a lã.
O comércio de Santa Vitória do Palmar, em especial, era de invulgar tamanho, pois não tínhamos desenvolvimento para que o volume de cargas se fizesse tão expressivo. No porto existiam grandes galpões das firmas comerciais de maior destaque no meio. Estas provocavam uma movimentação dos iates maiores que abasteciam a cidade e depois em barcos menores, que se dirigiam ao sul, para realizar o famoso "trabalho" que ainda existe por aqui, que é o contrabando.
São Miguel florescia até que o governo do vizinho país construiu a Ruta 9, ligando Montevidéu ao Chuí e fazendo com que todo o movimento passasse pelo litoral e se ligasse mais diretamente a nossa cidade, advindo disso uma decadência do povoado que recentemente havia sido fundado.
Embora isso tudo, essa região de São Miguel foi transformada a partir de 1918 num grande parque de recreação e história, com a recuperação do pequeno Forte São Miguel, que serve de base a um projeto de turismo e cultura que engrandece a região.
A área brasileira ficou somente como local de desenvolvimento das culturas do arroz e do gado, e como não podia deixar de ser, ainda com ações de caçadores e contrabandistas que fizeram e continuam em ação, embora mais fiscalizados pelos meios modernos de prevenção.
São Miguel é uma região muito bonita e que vale a pena visitar, a fim de desfrutar da natureza e conhecer os vestígios dos momentos passados nesta zona neutra de tantos acontecimentos para a vida dos estados.

 

A figura de D. Diogo de Souza, integrador dos Campos Neutrais ao Brasil.

 

Forte de São Miguel já restaurado


Pergunta da semana:

Quem foi Serafim Pires e onde atuou na maior parte da sua vida ?

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br