EURIDES – O PADEIRO
UM PERSONAGEM QUE ANDOU POR NOSSAS RUAS
BARRENTAS E ARENOSAS
Revivendo o passado de nossa cidade vamos lembrar a figura
do “ORIDES”, pois, assim é que era chamado
este trabalhador incansável que percorreu as ruas
de difícil trânsito.
EURIDES CORRÊA possui uma tradição familiar
no mister de ligar-se ao mais importante produto da alimentação
e que desde a antiguidade formou a base de sustentação
dos povos, o pão.
Sua gente sempre esteve atrelada, na parte masculina, ao
serviço de fabricação do produto, desde
o momento em que o sr. Loureva Corrêa, cujo verdadeiro
nome era Lourival, depois, de passar por todas as etapas
no ramo, terminou a sua labuta dirigindo uma carrocinha,
a famosa “Carrocinha do Padeiro” que transitava
em nossas vias numa ação cotidiana, sempre
nos horários previstos e nada interrompendo o seu
compromisso de colocar ao meio dia e a tarde, o rico manjar
que sempre foi a satisfação de ricos e pobres.
Nas padarias do italiano Gaspar e Nardi, mas principalmente,
nas dos também, de origem peninsular, Padaria Valli,
dos irmãos Valli e na Padaria Progresso de Abílio
Rota, ambas colocadas na rua Barão do Rio Branco,
esquina com a Dr. Osvaldo Anselmi, fazendo frente uma a
outra, numa competição saudável. Era
interessante conhecer os gostos dos habitantes da nossa
cidade, com a preferência do “pão sovado
dos Vallis e o pão d’água do Abílio,
além das bolachas feitas com graxa e que ensacadas,
percorriam todo o nosso interior e inclusive, por ocasião
dos veraneios, onde iam para o Hermenegildo mais do que
para a Barra do Chuí, devido ali, a concorrência
com as “gajetas” do Chuí, uruguaio.
O “Velho Loureva” que tanta saudade deixou na
gurizada de então, mesmo meninos como meninas, que
no trajeto da quadra em que viviam, subiam na Carroça
do Padeiro e andavam os cem metros da distância, guiando
o cavalo manso e atento com as paradas que deveria fazer
para que o condutor deixasse nas portas dos fregueses o
tão desejado manjar. Era uma verdadeira façanha
guiar o esperado veículo.
Terminado o trajeto estes eram substituídos por um
ou mais pequenos da quadra seguinte e assim se fazia essa
via maravilhosa que nunca mais saiu da memória daqueles
que desfrutaram de tão empolgante passeio.
Lá se foi o Velho com sua bonomia e calma e veio
a substituí-lo seu filho, o não mais admirado
Eurides, que na fonética citadina era chamado de
“ORIDES”, o Padeiro e que, na realidade, apresentava
muitas características de seu genitor. Era mais moço
e portanto, se integrava rápido com a vizinhança
que dependia dele para receber o benefício. Na parte
de trás da carroça que era diferente das demais
graças a sua formatação de madeira,
totalmente fechada, que lhe dava um aspecto sem igual.
Somente os carros de distribuição de gelo
da firma Anselmi é que eram parecidos, talvez, até
numa imitação delas.
Eurides sempre passava na hora certa e muitas vezes fazia
questão de “dar uma carona” à
turma que vinha do Colégio Elementar Manuel Vicente
do Amaral, se o caminho fosse aquele nesse instante. As
portas das residências sempre estiveram abertas para
o “ORIDES”, que dentro delas sabia onde deveria
colocar o pão.
Pronto tinha uma conversa amiga com os poucos assuntos do
dia e se encontrava um amante do futebol, o tema enveredava
para ele, já que era, inicialmente torcedor fanático
pelo E.C. Vitoriense e depois que os clubes da capital passaram
a desbancar os do Rio e São Paulo, tornou-se um ardoroso
fã do Internacional. Jamais perdia, porque, sempre
numa derrota, apresentava argumentos, que invalidavam a
vitória do adversário.
Constantemente estava nas conversas caseiras e se integrava
nas alegrias e nos dramas das famílias, pois, era
considerado um elemento a mais, no círculo que atuava
na casa. O tempo passa! As padarias foram se multiplicando
por toda a cidade e as ruas, agora calçadas, cederam
passo para os veículos motorizados e desse modo,
o trabalho do “ORIDES”, o Padeiro, perdeu em
velocidade e com a mudança social do meio, esse serviço
deixou de existir.
O cavalo amigo do “Eurides”, não está
mais, como também a carrocinha. Os demais irmãos
foram deixando o serviço tradicional. O seu “LOREVA”,
partiu para não mais retornar e muitas casas mudaram
de donos, pois o tempo passa, mas o nosso querido EURIDES
CORRÊA, o “ORIDES”, ainda é visto,
lá no fim da Saldanha Marinho, onde mora e vive com
a sua famosa capa preta e a boina, cuidando galos num cercado
que se defronta com a rua onde ele não mais exerce
o seu profícuo trabalho, mas que deixou uma grande
saudade nos corações da gente desta pequenina-grande
cidade do sul do Brasil.
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