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A formação do banhado do Taim vista pela História

No extremo norte de nosso município as lagoas Mirim e Mangueira aproximam-se no sentido leste-oeste, deixando uma nesga de terra por onde nos comunicamos com Rio Grande. Por ser de relevo um pouco mais elevado, passou a chamar-se Curral Alto, pois as duas massas d'água doce formavam um anteparo.
Depois de 1878, com o surgimento do banhado, ficou sendo um verdadeiro curral, somente precisando os tropeiros guardar o lado sul. Por ser menos úmido, servia de abrigo durante meses de chuvas para os grandes rebanhos de gado vacum que seguiam para o norte, primeiro, para a região de Sorocaba, em São Paulo, e mais tarde, para as charqueadas da cidade marítima e de Pelotas.
Esta parte líquida nem sempre existiu, porque vários arroios serviam de deságüe da Mangueira para a Mirim, que saía pelo canal do Sangradouro (canal do São Gonçalo), e daí para a lagoa dos Patos que por sua vez desemboca mar, regulando as vazões.
Os arroios eram conhecidos por Taim, Figueira Torta, Convivência, Bananas e outros, até que em 14 de novembro de 1878, quando um grande temporal que durou muitos dias causou o soterramento da maioria deles e impediu o livre acesso das águas nesta localidade setentrional. Isso provocou a criação de um grande banhado que ficou conhecido como Taim, dificultando a passagem para o resto do país, a não ser pela costa da Mirim e que iria sair na Capilha, nome dado a capela pelos espanhóis, onde está em franca restauração a igreja que marcou a zona.
Conta Tancredo Fernandes de Mello que, além desse vultuoso desastre geográfico, a família inteira de José Bernardes Cardoso desapareceu para sempre em meio ao turbilhão de águas que matou grande quantidade de animais dos campos, inclusive silvestres, acabou com plantações e deu formas definitivas na geografia de então.
Como a História vale-se muito da tradição, fui informado há muitos anos atrás por um velho morador da região que uma lenda era contada a boca pequena sobre um fato que deu início a uma superstição religiosa que funciona até os nossos dias.
Contava-me o senhor curral-altense que, tentando escapar da fúria da natureza durante o temporal, muitas pessoas se abrigaram na cumeeira dos ranchos, sofrendo os maiores dissabores e angústias, já que a palha do telhado os feria e a chuva, o frio e a falta de comida tornavam muito mais penosos aqueles momentos.
Nessa ocasião, um menino de tenra idade, sentindo-se perdido, começou a invocar um santo de sua devoção para que o salvasse junto com sua gente, que já havia toda desaparecido no rigor da tempestade.
Em dado momento houve um estrondo no céu (talvez um meteorito) e uma bola de ferro cortou violentamente uma árvore chamada de Coronilha, muito comum nos alagados, alojando-se em seu seio e formando um objeto parecido com um machado. Desse momento em diante a chuva cessou, o vento virou para o sudoeste (pampeiro), o dia começou a ficar azul e as águas foram descendo lentamente, até voltar ao local.
As lagoas Caiabá e Flores ficaram separadas das maiores e os arroios não mais serviam de escoadouro para as grandes extensões de água, que são a segunda e terceira maiores do Brasil.
Diz o informante que este menino recompôs a sua vida, embora na orfandade, mas cada vez que prenunciava um grande temporal, ele, usando aquele objeto cortante, seguia para uma ponta do rancho e aí, fazendo sua a oração com sal e em cruz para sua Santa Padroeira, sentia o temporal se desfazer.
Coisas da lenda religiosa. Ainda hoje é comum ver pessoas idosas e de fé praticando a mesma manifestação, na esperança de que as nuvens se afastem cada vez mais para o mar.
Em resumo, ficou demonstrada a formação geográfica, o novo manancial de água e a crendice que até os nossos dias se perpetua. São fatos de uma grande História.


Capivaras na Estação Ecológica do Taim

 


Pergunta da semana:

Quem foi Alcides Maia e o que esteve fazendo em nossa cidade? Qual o ano dessa visita?


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br