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A VOZ DA INFÂNCIA – SERIA O PRIMEIRO JORNAL ESCOLAR DE NOSSA TERRA?
VOZ DA INFÂNCIA – Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste (Olavo Bilac)

Este jornal escolar saído da inteligência de nossa gente que cursava os bancos escolares do Grupo Escolar Manuel Vicente do Amaral, desde a 1ª série até o 5º ano do chamado, então Ensino Primário, representava esse educandário maior de Santa Vitória do Palmar em 1945 e que seria o destaque até 1950 quando foi criado o curso secundário com o Ginásio de Santa Vitória.
Sempre soubemos, quando bem orientados, emergir no meio estudantil gaúcho, com grande eficiência, onde tivemos conterrâneos, que foram para outras cidades fazer a continuidade de seus estudos. Estes em grande maioria, depois de cursarem os bancos universitários, foram figuras profissionais aqui e em outros rincões da Pátria.
A escola MVA era a referência dos estudos na cidade e do interior, de onde chegavam alguns “mergulhõeszinhos”, que depois, graças ao seu férreo empenho e aplicação, passaram a atuar como, muitos deles, “doutores” termo referido para aqueles que chegavam às faculdades do Estado, outras partes do Brasil, mesmo no Uruguai e Europa.
Estávamos recém saídos da última guerra (39-45) e da ditadura fascista de Getúlio Vargas. O ardor cívico era enorme, prática de interesse das autoridades para manter o povo unido à nova ordem instalada entre nós.
O jornalzinho Voz da Infância, não poderia ser diferente e os nossos professores estavam imbuídos de divulgar as máximas patrióticas do torrão verde-amarelo.
Aqui comento este jornal que tive a oportunidade, um ano depois, entrado nessa lembrada escola, de também colaborar com a verve poética e literária de então.
O seu número 1, periódico mensal, saiu do prelo no dia 30 de agosto de 1945, sendo impresso (talvez gratuitamente) nas oficinas de João Luiz Botto, localizadas na rua barão do Rio Branco 423 e tendo como diretora do mesmo a professora Gelsa Ustra, sub-diretoras as mestras Zulma Romeu e Maria Glaura Rotta, a querida profa. Dadá. Dizia, também, que os colaboradores eram os alunos das 3, 4 e 5 anos.
Cabe ressaltar que por trás dessa peça editorial, estava a figura ímpar do grande intelectual paulista, de Serra Nagra, o prof. Tancredo Frederico Blotta, misto de ex-sacerdote, poeta, teatrólogo, músico e compositor, que havia deixado naquele momento a direção do Grupo Escolar Manoel Vicente do Amaral.
É bom ressaltar a filosofia desse jornal estudantil que tanto incentivou a todos a seguir pelos caminhos da escrita e do saber. Era um momento de grande ardor nacional, porque nossos irmãos estavam voltando dos campos da Itália onde foram lutar e alguns deixarem suas vidas por lá, tentando ajudar a defender a Democracia e que ironia, faltando-nos no território brasileiro.
Chegaram vitoriosos e com consciência do dever cumprido!
Passemos aos tópicos de destaque do “mensário” forjado pelos alunos do MVA:
“Ama com fé e orgulho a Terra em que nasceste”, poema imortal do grande vate apelidado de “O príncipe dos Poetas Brasileiros”; seguindo, lemos um texto da aluna Tereza Sandim, do 5º ano cujo título era O Expedicionário; temos o grande destaque da Semana da Pátria desse ano, onde comemoramos a nossa Independência. Vamos encontrar trabalhos de Ronald Stigger, do 3º ano, Elmo Farias de Albernas e outros. Faziam parte do grupo feminino os já citados colegas, mais Mari Santos, e Naldy Echartea, e outros. Etc.
Afirmava-se a fé na melhoria da Biblioteca da Escola, máximas de Moral da época e a vida social que eram muito divulgadas e apreciadas, numa imitação dos jornais locais, o Sul do Estado e Liberal. A vida desportiva não poderia faltar e nele está transcrito o resultado futebolístico quando o Grêmio Esportivo Brasil, derrota a grande equipe do E. C. Vitoriense, o destaque até o fim da década, quando perdeu a hegemonia desse esporte para o rival E. C. Rio Branco.
Complementando, lemos um poemeto cantado “Recordação de dois dançarinos”, letra e música do prof. Blotta e a coreografia de Zulma Romeu.
O estamento profissional da localidade participou com ajuda financeira para a execução do jornalzinho, como os advogados Mario Anselmi, Francisco Cava, Jorge Calvete e Marcus Melszer, mais o Bazar da Moda, clínica dentária de Agober Costa, Casa Brasil, Farmácia Carmen, dentista Marcus Stigger e Loja Vitoriense.
Tudo isso passou no período da década de 40, forjando muitas capacidades estudantis e orientando os novos rumos da Nação que agora entrava pelos caminhos da liberdade.
A VOZ DA INFÂNCIA foi um marco de civismo, cultura e de esperança em nossos destinos, saído das planícies desta terra palmarina que tanto nos orgulha e que muito amamos.

 
Ilustração – Páginas do jornal A VOZ DA ESPERANÇA.
Nota – Este material pertence ao acervo da profa. Zulma Romeu e que chegou ao autor numa cortesia do ex aluno do MVA Dácio Acosta, também, residente na Noiva do Mar.

 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br