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FERROL – O ARTISTA, PINTOR E MÁGICO DE NOSSOS PALCOS

Nascido no Uruguai e chegando até aqui, depois de uma estada de sua infância em Jaguarão, o cidadão Estanislado Gonzáles, conforme está em sua certidão de casamento com a srta. Cantalícia dos Santos nossa conterrânea (cujos dados foram-me gentilmente entregues por seu neto Luis Gonzaga Nunes, um dos guris mais terríveis que conhecemos pelos anos de 40 e 50, filho do Ascelino Nunes, o famoso Sacristã, e cujas peraltices acompanhei quando fomos contemporâneos no MVA.)
Estanislado Gonzáles veio com um apelido artístico de FERROL, também era conhecido fora de nossa terra, por FERROLI.
A minha geração infantil e depois na adolescência viu-o trabalhar no Cine Theatro Independência fazendo “de tudo”. Era o “passador” de filmes, quando naquele local somente existia uma máquina projetora (que será contada essas situação em outra crônica). Fazia pinturas artísticas nos cenários para as peças teatrais de muito bom gosto e que caracterizavam a vida de palco. Era um cenógrafo de mão cheia sendo ajudante de Chico Almeida e depois, seu substituto naquele período mais fértil de nossa no canto, teatro, poesias e obras dos mais renomados autores, tanto brasileiros, como do exterior.
Preparava a casa de espetáculos quando vinham caravanas de arte desde lugares mais diversos. Era o reflexo da guerra onde nossos atores deveriam apresentar-se conforme o momento tão agitado.
FERROL pintava nas paredes laterais do cinema a propaganda dos filmes que passariam durante o ano e muito interessante, eram dos títulos que ele fazia em painéis de pano colocando-os nas grades dos camarotes.
Mais uma atividade desse gênio do desenho e da pintura. A propaganda do “dia a dia” da passagem dos filmes ou apresentação ao vivo, era colocada ao público num quadro negro com dois pés e amarrado a um poste da rede do telefone na rua Treze, depois, Rio Branco. Todos os dias de “cinema”, lá vinha um anúncio feito pelas mãos habilidosas do FERROL.
Mas, o que mais nos agradava era quando, de tempos em tempos, talvez para aumentar a sua renda particular, FERROL, fazia uma apresentação de um dos seus famosos trabalhos e que era a motivação por alguns dias: “O FERROL vai se apresentar fazendo as suas Mágicas!” A gurizada e também os adultos, esperavam o dia da apresentação e entre a turma, quando terminada a sessão, voltando para casa ou então, no outro dia no Colégio Elementer, praticávamos suas habilidades que duravam por várias semanas. Éramos os “Mágicos – mirins!”
As vezes mudava o nome para ESGON variando o personagem, mas sempre do agrade de todos. Ia ao Chuí no teatro Rio Branco da da. Elvira Rota que também foi um centro de cultura na fronteira.
Os BOLETINS, que eram folhetos impressos nas gráficas locais em especial no Sul do Estado e na Livraria Apolo, do João Boto, ficavam distribuídos entre a população. Recordo-me ainda, com emoção, dos números, como, ENTRE A CADEIRA E A ESPADA – UMA VIAGEM AO MUNDO DO FAQUIR o que mais nos dava medo era o O FANTASMA NA PLATÉIA;
ESTANISLADO GONZALES – O FERROL ou FERROLI mudou-se em meados dos anos 50 para a capital do Estado e lá, ainda, apresentou-se em muitos lugares, em especial, no GRÊMIO GAÚCHO, de POA. e entre as cidades visinhas, acreditando que, provocando grande entusiasmo, medo e seguidores entre a meninada.
Terminou seus dias na grande cidade dos rio-grandenses, mas vindo da fronteira deixou entre nós o exemplo de arte e de habilidades no pincel e ainda agora é lembrado com muito carinho por todos aqueles que assistiram o seu trabalho no cinema, nas pinturas do teatro e em suas mágicas que nunca sairão da memória da gurizada que atentos, de boca aberta “meio assustados”, viram desfilar por esta terra um gênio popular como existem tantos por aqui.

 

Boletins feitos por ele, a mão, para depois passar à gráfica.
 
Boletins de uma de suas apresentações com os nomes diferentes.
 
Esquina da Barão com Mirapalhete vendo-se o cartaz do cinema amarrado ao poste do telefone.
Estanislado Gonzáles, o FERROL ou FERROLI

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br