A FAMÍLIA REAL BRASILEIRA
PERNOITOU NA BARRA DO CHUÍ
Corria um mês frio do outono no fim dos anos 30,
talvez 35 ou 36 e a lua cheia estava serenamente iluminando
esse pedaço de terra no extremo sul do Brasil. Barra
do Chuí, onde naquele instante ninguém se
encontrava pelas redondezas e, como presença mutante,
somente se ouvia, ao longe, o constante marulhar das ondas
nas barrancas. Instante mágico que somente as noites
à beira mar podem produzir e principalmente nestes
rincões de nossa extremadura.
Hora da ceia quando as poucas pessoas que residiam no hotel
de seu Farinha, agora Atlântico e outras que habitavam
nas redondezas, se agrupavam em torno de um farol Aladino,
jogando cartas ou conversando assuntos do cotidiano e as
poucas novidades que por ali existiam. Restos de um lindo
verão com muita gente, festas, banhos no mar, fim
do carnaval e sobretudo, a espera da possibilidade de algum
fato inusitado alterar a monotonia do lugar.
Seu Farinha e dona Helena, acompanhados pelos empregados
Veríssimo e sua esposa Obdúlia, ele, grande
cozinheiro e ela, dedicada aos serviços domésticos
do estabelecimento, que agora estava transformado numa mansidão
bonita, mas inquietante. Nesse grupo, presentes duas moças
da sociedade santa-vitoriense, já entradas nos anos,
que prestavam serviços públicos na localidade:
Clara Pinto, filha de Arthur Pinto e dona Palmira, responsável
pelo posto telefônico que unia nossa cidade àquela
região e Enóe Portallupi, professora primária,
lecionando em pequeno rancho um reduzido número de
alunos.
Foi delas que ficamos sabendo do fato pitoresco que revolucionou
o ambiente tão isolado; grande agitação
de todos os membros hoteleiros com a chegada de uma caravana
composta de dois ou mais automóveis, não sabendo
dizer, se do Brasil ou Uruguai, mas que naquele horário,
pediam cômodos para o pernoite e no “lufa-lufa”
de todos, o dono do estabelecimento agitado, providenciava
o melhor atendimento aos hóspedes da ocasião.
Arrumar os quartos, preparar a comida e como curiosidade,
dizia sua esposa que deveriam abrir umas latas de “compota”
e garrafas de champagne, porque os turistas eram pessoas
de alta linha e que preferiam passar incógnitos pela
região.
As moças e os outros membros da reunião foram
convidados para voltarem para suas casas a fim de deixar
essa gente mais a vontade, para que não soubessem
que eram, mas Clara, Enóe e outros, foram ver as
pessoas que chegaram e ao depararem-se com uma grande bagagem
colocada no corredor, notaram que em todas as malas havia
impresso “o brasão da FAMÌLIA IMPERIAL
BRASILEIRA” que depois de 1922 recebia a permissão
da volta do exílio, assinado pelo Presidente da República
Arthur Bernardes, num decreto importante e justo, anulando
a proibição da vinda e permanência da
realeza brasileira destronada em 15 de novembro de 1889.
Era uma reparação, embora tardia, com aqueles
que comandaram a vida nacional desde a Independência
e que tanto fizeram a nossa Pátria.
Nunca ficou esclarecido quem passou por aqui se Don João,
Pedro ou Luiz Bragança de Orleans, netos de D. Pedro
II, filhos de Isabel, a Redentora e do conde D’EU,
mas que por estes lados estiveram, conforme as provas apresentadas,
para dirigirem-se à Petrópois e viver para
sempre no solo nacional.
Se foi verdade, há dúvidas e a história
deve ser sempre narrada com provas ou alternativas, baseando-se,
também, na informação oral, que as
mocinhas Clara e Enóe, relataram, graças a
curiosidade de jovens e que proporcionaram esta crônica
de que os descendentes da FAMÍLIA REAL BRASILEIRA,
estiveram neste chão, tão bonito e querido
de Santa Vitória do Palmar.
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Vista do hotel
tendo a frente o ônibus Ford 34 da empresa Atlantica
(do acervo de família Zareti) |
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Enoé na
década de 80 cercada de seus primos Newton
e Osvaldo Vasques Pereira |
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Foto de Clara Pinto
em 1924 |
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Brasão da
coroa Imperial Brasileira que fazia parte da Bandeira
do Império (1822 - 1888) |
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