AS BALINHAS JOÃOZINHO
“não
me venhas engambelar com BALINHA JOÃOZINHO”
A História que narramos, na maioria das vezes, é
protagonizada por adultos. Sempre são eles que exercem
o forte movimento dos fatos que ficam no passar dos tempos.
Hoje, nesta crônica, os participantes são os
meninos da década de 40, que marcaram o seu viver,
livre e irresponsável, no bom sentido, de sentir
os acontecimentos.
O mundo estava agitado pela crise que desembocou na terrível
guerra, por sinal, a última, o quê não
quer dizer, que os homens deixaram de lutar. Depois da bomba
atômica, os conflitos ficaram localizados porque,
de outra maneira, as conseqüências provocarão
a extinção da humanidade. A ditadura de 30
com seus rigores, fazia com que os indivíduos sofressem
muito e as crianças eram constantemente reprimidas,
tanto em casa, como na rua, onde a força pública
tinha sérias restrições à liberdade.
Para comprovar isso, destacamos as célebres e tristes
figuras do “delegado Molina e do soldado Caburé”,
que eram o terror da gurizada. No entanto, os folguedos
eram muitos e sempre havia um meio de escapar da vigilância
das forças da ordem, aliás, seriam da ordem?
Um dos momentos mais procurados pelos meninos de nossa cidade
e em outros lugares, também, era o fato de colecionarmos
coisas das mais diversas origens, como, carteiras de cigarros,
gibis e as figurinhas dos álbuns. Ainda hoje assistimos
essa prática, claro, que com o modernismo galopante.
O nosso maior deleite era juntar as estampas das BALINHAS
JOÃOZINHO, onde o nosso pequeno herói fazia
as mais diversas ações e que eram retratadas
nessas guloseimas. Exemplo: JOÃOZINHO no colégio,
de bicicleta, a cavalo, etc, no entanto, quem completasse
a coleção, ganharia um “patinete”,
que era a coqueluche dos filmes americanos da época.
Que faina a nossa, de comprarmos o produto doce e quando
as “figurinhas” eram repetidas, fazíamos
trocas, principalmente na escola e no matinée. Daí
chegaram as expressões, “figurinha repetida”...”Vamos
trocar figurinhas”. Em todas as comunidades, onde
os garotos estavam em grande número, a situação
acontecia e é bem de se dizer que, em todo o Brasil,
esta prática ainda é uma constante.
As BALINHAS JOÃOZINHO eram compradas nas vendas de
nossa cidade, como a do Pichinguinha, Silvio, Alberto Maragalhoni,
Demétrio, Osvaldo Carvalho, Orcina, Aparício
Chaves, no lado sul e no Brás Guarino, Estrela, Anselmi,
Patella, Rotta, Donato, Malvino Corrêa no norte e
tantos outros, que escapam da memória. Custavam quase
nada! Era interessante ver o atendente que, ao receber os
“cem réis”, colocava a mão num
recipiente e de lá tirava, para o nosso deleite,
um punhado de balas. Os adultos achavam que as mesmas eram
de gosto intragável, mas todos dizíamos ser,
um manjar dos deuses, por causa do Joãozinho.
Havia outra mania que nos agradava, que eram as famosas
carteiras de papelão, formadas por duas pequenas
cartelas e ligadas, de um lado por duas cintas de pano e
no outro, por um. Nelas, eram colocadas as “figurinhas
do Joãozinho” e as levávamos no bolso
trazeiro, a imitação dos adultos, com as suas,
de dinheiro.
Nunca soubemos de algum moleque que houvesse conseguindo
completar o número de “figurinhas do Joãozinho”e
era voz corrente que os fabricantes, como acontece até
hoje, produziam milhares de balas, mas algumas situações,
eram mínimas. Diziam que o JOÃOZINHO SENTADO
NO URINOL era a mais difícil. Nunca vimos algum companheiro
que fosse o vencedor.
Ainda não encontramos alguém que tivesse algum
exemplar das figurinhas, embora muitos se lembrem delas
e com saudade. Recorremos a emoção destacada
de um artista da terra, que é o jóvem Vilson
Rodrigues Corrêa, que já muitas ocasiões
colaborou com nossas matérias e o mesmo, fez os desenhos
que ilustram o trabalho. Ao nosso modo de ver e sentir,
herói retratado nos leva àqueles tempos da
infância. Valeu Vilson!
Não se sabe se as mesmas eram fabricadas em Pelotas,
terra doceira, Porto Alegre, ou em algum outro local do
pais e contamos com os leitores que nos ajudam a conseguir
um exemplar do nosso ídolo.
A bala era de gosto duvidoso, mas a faina de completar o
álbum era operosa, principalmente para ganharmos
o desejado “patinete”, mas se fomos enganados,
com a manobra de produzir para poucos o “vulto no
pinico”, vamos dizer que era um gosto na boca e na
ânsia da vitória que não importou se
o mesmo chegou para algum companheiro, mas um ditado ficou
na mmória de muitos e na voz do boêmio Lidio
Lima, o da rodoviária, ouvimos, dizer quando alguém
desejou enganá-lo com alguma promessa ou coisa que
tal, ...NÃO ME VENHAS ENGAMBELAR COM BALINHA JOÃOZINHO,
que na realidade, quantas vezes o fomos na vida que nos
deixou muitas mágoas, mas que a do JOÃOZINHO
foi um engodo gostoso que perdura até hoje no ideário
da história daquela gurizada em Santa Vitória
do Palmar, do século passado.
|
Desenho do artista
conterrâneo Vilson Rodrigues Corrêa onde
vemos na parte de cima o JOÂOZINHO: no urinol,
na escola, jogando bola, bolinha de vidro e embaixo,
de bicicleta e num petiço |
|