CAIXONARIAS EM SANTA VITÓRIA
DO PALMAR
A Arte e a Atenção na Viagem para a Última
Morada
O
termo Caixonaria não se encontra nos dicionários
de nossa língua, como também, na do país
vizinho. Mesmo assim, o uso dessa palavra foi muito difundido
nestas paragens até ser modernamente trocada por
Agência Funerária.
Desde os tempos coloniais a morte sempre foi vista como
um ato de fé no imponderável do “nunca
mais” e mesmo assim, as cerimônias fúnebres
eram feitas de maneiras simples em locais variados, até
que surgiu a República Brasileira e os cemitérios
tornaram-se reduto obrigatório, devendo-se deixar
os corpos inanimados naquele próprio público.
Em nosso município as sepulturas eram feitas inicialmente
nos arredores das grandes estâncias, dependendo da
pomposa edificação dos redutos, via-se a categoria
do finado.
Desde a simples “enrolada” num poncho ou colcha,
até caixas de madeiras construídas no lugar
que ficava notabilizando o modo de morrer do distinto, que
também, poderia acontecer nas igrejas do campo ou
da cidade.
As primeiras empresas para a prática dos enterros
surgiram quando no fim do século XIX uma grande epidemia,
talvez, do tifo ou difiteria, pôs em pânico
a comunidade santa-vitoriense, por medo e até pavor,
do contagio que estava ceifando tantas vidas.
Não há informações fidedignas,
mas aconteceu o aparecimento delas quando as autoridades
municipais convocaram um grande artesão alemão,
Manoel Gottlob de Auch, que aqui era popularmente conhecido
por o Duque Auch, para começar a fazer em série
os caixões para executar um ato seguro e assim, talvez,
na década de 1880 surgiu a primeira firma que ficou
conhecida por Caixonaria Duque.
Um grande estancieiro, Floriano Faustino Correa proprietário
do sobrado, hoje conhecido pelo dos Terras (Plácido),
localizado na praça Gal. Andréa, ao lado do
Banrisul, proporcionou o funcionamento de tão importante
instituição e também, o local onde
aconteceu um grande episódio da feitura da “Chave
de cadeia” para a fuga de Gumersindo Saraiva.
Provavelmente em 1923 a Caixonaria dos Duques, como era
popularmente conhecida, veio para a atual rua Neyta Ramos,
quase esquina 7 de setembro e depois transferiu-se para
a Barão do Rio Branco, também da última
rua nomeada, quando passou às mãos de um filho
do fundados chamado Osvaldo, para posteriormente, ficar
nas mãos dos irmãos Ildefonso e José
Cândido Cardoso Ribeiro, e ao fim, ser incorprada
na Funerária São Jorge, de Rubens Carrasco.
O primeiro Carro fúnebre foi construído pelo
próprio Duque de Auch, puxado por dois carbosos cavalos,
o Picasso e o Zaino.
O comando dos animais e da carruagem era feito por um funcionário
de confiança da família , da raça negra,
conhecido pelo nome de Domingos Cabral.
Posteriormente foi comprado outro móvel de origem
francesa que era usado na cidade de Livramento e que durou
até o final da entidade quando a mudança moderna
foi para os “carros” movidos a motor.
A outra firma do gênero foi a Funerária Torino,
de Joaquim Torino, genro do criador do Balneário
do Hermenegildo, José Antonio Fontes, fundada em
1° de novembro de 1884. Este homem vindo da Itália,
passando por Portugal e aqui consorciou-se com a Srtª.
Itelvina Rocha Fontes que gerou a grande descendência
dos Torinos desta cidade.
Mais adiante esta Caixonaria passou às mãos
de Mauricio Morrone casado com uma filha do casal, Jurema,
indo após o falecimento mesmo, a ser dirigida pela
viúva e seus filhos, os pranteados médicos
Jurandir e Grécio Morrone.
A entidade em questão localizou-se inicialmente numa
casa onde, mais ou menos, é o popular Chico’s
Bar do oriundi Francisco Morrone, para depois, instalar-se
no sobrado dos Torinos, hoje na Don Diogo de Souza, quase
esquina Gal. Osório e terminar a sua atuação
sob o comando do empresário Vitor Joaquim Torino,
neto do primeiro proprietário, ficando finalmente
estabelecido na mesma rua Gal. Osório, até
quando foi, adquirida pelo homem do ramo já citado,
Carrasco.
O antigo cemitério da cidade foi transferido da região
onde hoje estão o Colégio Manoel Vicente do
Amaral e Colégio Estadual de Santa Vitória
do Palmar, para o lado sul nas ruas Mirapalhete e Cel. Dedeus
e não mais recebe as pomposas carruagens com seus
fogosos cavalos, mas suas portas sempre estão abertas
para a chegada da gente das Caixonarias antes dos Duques
e a Torino, quando estas cumprem o doloroso ato de levar
nossa gente para a “sua última morada”,
onde seremos transformados em agentes da História
desta grande Terra.
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