Pedro Terra – O Pedro
Nariz
El Diós Chico
Ficou conhecido em nossa costa, desde as Maravilhas até
o Farol do Sarita (limite nordeste de nosso litoral, fronteira
com a de Rio Grande) este homem que fazia do seu passar
pela beira mar ou nos cômbros a sua faina diária
e tirava dali o seu sustento. Sem origem conhecida, talvez,
saído de alguma família do interior leste
de “fora das areias”, onde criou-se no trabalho
da pecuária como peão de estância e
que depois de moço, passou a fazer o seu trabalho
na “costa do mar”.
Tinha um rancho no Hermenegildo, lá para o lado norte,
onde terminava o “Acampamento”, tendo como vizinho,
o velho Serafim Pires, tronco de uma grande família
que por muito tempo residiu ali.
Casou tarde e teve um filho, o Luiz, que era conhecido por
Luiz do Pedro Nariz, homem que está entre nós,
morando na mesma zona e que foi por muito tempo pedreiro
da localidade.
Pedro Terra, possuía uma carrocinha de madeira que
era puxada por ele e dela fazia o seu instrumento de trabalho.
Seu perfil era diferenciado: baixo, atarracado e musculoso,
vestido com uma calça cortada pelo joelho e no verão
usava uma “camisa de física”, no inverno,
um jaquetão, a conhecida “japona” e nunca
prescindindo de seu característico chapéu
de palha. Era um andarilho que nenhum temporal o empedia
de percorrer esses longos e solitários caminhos do
mar. De longe, sua figura era conhecida, por diferente e
possuidor de um ar desconfiado, como os homens solitários
tem e sua marca registrada, um grande nariz adunco, que
lhe dava o apelido e que ele não gostava de ouví-lo.
Repetia que se chamava Pedro Terra.
Andava acompanhado por um cachorro amigo e sempre levava
atravessada na cintura, uma faca muito afiada numa das pedras
lisas, que encontrava no caminho e sempre estava pronto
para usá-la.
Grande figura o seu Pedro! Juntava madeiras depois das grandes
ressacas de vento sul que saiam dos barcos que passavam
e cujo valor era relativamente alto; bóias, cordas,
outros objetos e raridades que encontrava alhures, mas o
marisco e os peixes eram o seu ganha pão maior, naquela
época, quando os barcos no mar e as redes na costa,
ainda não haviam devorado tudo e também, antes
da mentira oficializada da “Maré Vermelha”,
não haviam devastado esta parte do litoral brasileiro
que era um santuário de frutos marítimo. Hoje
é uma lástima e muito mais do que isso, transformou-se
num deserto que mostrará as trágicas conseqüências
num futuro breve.
Passava dias e dias palmilhando a costa, deixando sua família
na casa da “Estação”. Era o seu
traquinar constante e assim vivia. Ia muito longe, varando
distâncias por mais de 150 km, que na realidade, muitas
vezes aproveitava caronas quando por aqui o tráfego
de caminhões e autos era diário e muito mais
segura era a passagem, duas vezes por semana do ônibus
de empresa ATLÂNTICA, que fazia a nossa comunicação
com a cidade portuário no canal da lagoa dos Patos.
E é com o proprietário da “linha”,
através de uma de suas narrativas, que queremos contar
a história do PEDRO NARIZ, transformado em “EL
DIÓS CHICO”.
Certa ocasião o Ford 41 ou 42 que fazia a rota Barra
do Chuí ao Cassino, pelos rigores da travessia, sempre
dava uma parada com o motor virado para o lado do vento,
a fim de esfriá-lo. Geralmente num ponto especial
como o Passo da Lagoa, o Albardão, o rancho dos Andrades
(misto de paradouro e local de socorro aos viajantes “atolados”
ou impedidos de seguir por causa da viração
sul). Os viajantes desciam do coletivo para fazerem suas
necessidades e “esticar as pernas”, primeiro
as damas, depois, os cavalheiros, bem longe, atrás
das dunas alterosas e de dentro dos banhados surgia a figura
do sr. Pedro Terra, o Pedro Nariz, empunhando o varal de
seu carrinho. Chegava junto a todos e muito poucas palavras
pronunciava, a não ser com os motoristas ou com o
seu José Santos. Era bem recebido e muitos lhe forneciam
mantimentos ou alguma garrafa de cachaça, que ele
tanto apreciava. Quando o carro partia ficava a beira dele,
a espera que o mesmo seguisse seu destino.
Em dado momento, alguns viajantes que por primeira vez se
dirigiam no trajeto, penalizados ao deixá-lo naquela
solidão, pediram ao seu José que permitisse
ao velho andarilho acompanhá-los, já que o
carro de transporte estava com a sua lotação
não completa. Ele murmurou, negando-se de tão
amistoso oferecimento e o proprietário da linha disse
aos preocupados viajores que o mesmo não aceitaria,
porque ele possuía o dom de viajar etereamente e
que o veriam na próxima parada. Ninguém acreditou,
mas a caravana seguiu. Quando o carro chegou no “paradouro
dos Andrades e fez um círculo por detrás da
casa e parava numa “patente” (local que servia
de banheiro) e as senhoras e senhoritas, deveriam ser as
primeiras a descerem, de trás de uns galpões,
aparece Pedro Terra, puxando a sua carrocinha, para espanto
de todos. Repetiu-se a cena, com o mesmo convite e quando
ouve outro momento de descanso no Sarita, tudo aconteceu
novamente para a estupefação de muitos. Era
realmente uma proeza do chamado EL DIÓS CHICO!
Na realidade, o caminhante, antes do veículo dar
a partida, ele com a aquiecência dos motoristas e
do chefe, subia na escada que o ônibus possuía
para que as malas fossem colocadas no teto e quando este
parava, ele descia.
Era uma brincadeira usada por todos para impressionarem
os novatos que faziam “a linha”, por primeira
vez”.
Esta cena, por não existir nenhuma fotografia, foi
retratada pela arte da grande artista plástica, poetisa,
escritora e outros atributos, que também viveu muitos
anos de sua vida ao lado do oceano com o inesquecível
homem lírico que foi Daniel Diano e refiro-me a Evanir
Ferrari, laureada conterrânea que nos orgulha por
sua capacidade já citada e pelo grande amor ao mar
do Hermenegildo.
Vemos no desenho, o PEDRO TERRA – PEDRO NARIZ-EL DIÓS
CHICO que perambulou por nossas praias sem fim e que deixou
sua marca em seu modesto trabalho e que serviu para o temário
metafísico de nossa terra litorânea, subindo
ao topo do automóvel.
Como grandes homens podem ficar na memória de muitos,
pelo seu trabalho e dedicação ao que fazem,
como o castelhano José Benito de Los Santos e o PEDRO
TERRA, o mesmo PEDRO NARIZ, que peranbulava pelas areias
salgadas e que por causa de uma brincadeira do amigo, foi
transformado numa divindade do mar, cognominado de EL DIÓS
CHICO?
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