QUANDO UM HOMEM É
SÍMBOLO DE SUA COMUNIDADE
REINOLDE CORRÊA - O NONO OU AMARELINHO
Este
homem que já assistiu passar pelos seus olhos quase
um século de nossa História entusiasma-se
ao registrar fatos do cotidiano nesta cidade tão
pequenina geograficamente, mas de uma grandeza enorme em
nossos corações.
De origem humilde sempre vivendo no lado sul dela soube
conquistar a simpatia de todos que o cercavam, principalmente
por sua postura franzina e quieta, mas, mais do que isso,
por seu jeito contestador e altivo quando defende suas posições.
Possui lembranças queridas da infância quando
freqüentava a Escola João Pessoa, lá
no campo do Sarapico, na esquina da Bento Gonçalves
com a João de Oliveira Rodrigues, conhecida pelo
apelido de Burro Branco onde teve como professoras, que
jamais esquece, a da. Jaquinha, Irene Azevedo e a incansável
mestra sra Felicidade com seus imensos temas para a casa,
que faziam o terror da gurizada porque não sobrava
tempo para as suas molecagens.
Desde cedo teve que se voltar para o trabalho e com vontade
férrea e uma inteligência fulgurante, principalmente
em matemática, foi atender provisoriamente nos salões
do café Tupy e como o local estava ao lado da Agência
Ford de José Santos, despertou vontade no grande
empresário e o levou para lá trabalhar.Ali
se encontrava a sede da Varig e o menino vivo e perspicaz
teve sua conduta profissional reconhecida e naquele estabelecimento
foi de tudo, atendente, operador de rádio e como
havia passado a morar naquele local, ficou incumbido de
anotar as condições do tempo na zona e ainda
hoje se diverte quando lembra que a sua importante função
técnica era, na madrugada, olhar para o céu
e ver que tipo de nuvem o cobria. A “cúmulos-nimbus”,
a mais perigosa por trazer a chuva e os fortes ventos sempre
provocava cuidados e na manhã que chegava fazia o
contato com Jaguarão alertando os pilotos que se
dirigiam para cá.
Uma outra curiosidade era, também, quando a mesma
função era avisar a firma em Porto Alegre
para assegurar bom trânsito na linha da capital até
Montevidéu.
Depois dessa atividade onde granjeou muitos amigos, tanto
aqui, como dos chefes em todas as cidades onde sua voz era
ouvida, a convite de um grande amigo, o folclórico
Peri Castellano foi desempenhar suas atividades laborais
como Representante Comercial função esta,
muito necessária devido as grandes distâncias
e as dificuldades para chegarem por estes lados.
Figura conhecida por seus apelidos que do primeiro-NONO,
não sabe a origem, mas o de AMARELINHO, trata-se
de sua atividade no Café Tupy, quando os seus freqüentadores
em determinadas horas desejavam que fosse ligado o rádio
para ouvirem o resultado das carreiras de cavalos ou da”Quinela”(o
nosso jogo do bicho) do Uruguai, cujo produto patrocinador
era o “fumo Amarelinho. Como não havia o controle
remoto,a incumbência quase sempre recaia no menino
REINOLDE.
Homem de fortes convicções políticas
à esquerda fez parte, primeiro do PTB de Getúlio
Vargas e depois, do PDT de Leonel Brizola.Embora vivendo
por os lados da coxilha transformou-se num fanático
torcedor do E. C. Vitoriense.
Organizou sua nova vida familiar, já que fora criado
com seus avós, contraindo núpcias com a jovem
Ilda Dias, que lhe deu duas filhas, Tânia e Virgínia
Beatriz.
As mais lindas recordações da infância
foram o “tempo da molecagem” e dos jogos e brinquedos
e deste, leva a doce lembrança de um imigrante italiano,
CHICHO CAVA que, sendo marceneiro fabricava, de graça,
bilboquês, ioiôs os e muitos outros produtos
do gosto dessa gente pequena.
No entanto, foram os amigos, alguns de toda a vida, que
embalam a alma numa recordação saudosa, entre
eles, Henrique Rodrigues, Vicente e Ítalo Giudice,
Alberto Maragalioni, os alfaiates Souto e o Chico Marzzulo,
Carlinhos Leonetti, Elci Trota, Lolota Corrêa, Marico
Lima, Oscar Petruzzi, Edi Acosta e tantos outros.
Por fim, REINOLDE, o NONO ou mesmo o AMARELINHO, figura
destacada entre tantos cidadãos santa-vitorienses,
faz questão de destacar os tempos passados, ao ficar
entusiasmado com o atual progresso e desenvolvimento, mas
sempre há de lembrar o tempo em que se dormia de
janelas e portas abertas, quando os poucos automóveis
não possuíam chaves, como também as
residências e quando o ser humano era mais respeitado
dentro do âmbito em que vivia, mas isto são
cousas que não teremos mais.
Soltar pandorgas, ver o mocinho derrotar o bandido no
Independência, jogar futebol, mas acima de tudo,ter
a consciência tranqüila que foi mais um mergulhão
que passou por outros lugares,mas sempre vislumbra a sua
Terra como um centro de amizade e ternura.
Vale a pena de ser conterrâneo de um indivíduo
com esta índole e que viu a vida, quase secular,
por seus olhos esperançosos, passar rumo ao futuro.
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