Santa Vitória
do Palmar – Conhecida como Terra Violenta
Até os inícios de 1930, quando a ditadura
de Getúlio Vargas, impôs uma grande repressão
social e política e havendo um rigoroso desarmamento,
nosso chão começou a mudar de aspecto, pois,
era conhecido no Rio Grande do Sul, por um município
de alta periculosidade a agressões à mão
armada, como aliás, era em todo o país. Tínhamos
essa fama porque o isolamento daqui provocava uma idiossincrasia
entre esta gente.
Ataques à propriedade e ao indivíduo, eram
uma constante e valentes a soldo dos mais importantes caudilhos
da terra, faziam suas atividades profissionais, levando
pânico à comunidade e ficaram famosas famílias
de bandidos valentões que, depois do fato narrado
acima, começaram a desaparecer.
Dois momentos ilustram essa realidade que passamos a contar.
Chegou aqui, de Jaguarão, um rábula do Direito,
chamado Armando de Melo Tinoco, trazido pelo conterrâneo
Dr. Renato de Freitas, médico abalizado e de grande
prestígio entre seus pares e entre nós, começou
a atuar em sua profissão, mas sua conduta nunca foi
a das melhores, embora tivesse sagacidade para tal mister.
Também havia um Chouffeuer de “carro de aluguel”,
conhecido por haver sido um dos primeiros que aventurou-se
em fazer corridas pela costa do mar, ligando-nos à
Rio Grande. Dinâmico e trabalhador, era conhecido
por mentiroso, sendo inclusive incluído em nosso
folclore local, com a “história da baleia”,
que em outra oportunidade será comentada neste espaço.
Conforme as informações mais diretas do nosso
historiador maior, que é o bel. Anselmo Amaral, amigo
de infância de seu filho Geraldo, que o advogado mantinha
uma dívida acentuada com o dito, que residia onde
foi a Continental e que graças a sua perícia
ao volante e a força de seu potente Overland, muitas
vezes, carregou o informante até os confins do Arroito,
no arroio D´EL Rei. Dessa situação,
começou uma pendenga que durou muito tempo e parece
que, em determinada ocasião, ali, pelas imediações
da rua Treze com a 7 de Setembro, onde foi o famoso “Bar
Tabajara”, a cobrança foi muito violenta e
Tinoco deu uma bofetada em Afonso que, sacando de um revolver,
saiu em perseguição do causídico, que
começou a correr em direção à
“Cadeia Velha”, onde agora está o Sindicato
dos Trabalhadores Rurais e o motorista começou a
atirar e o bacharel também, foi defendendo-se até
que num instante, este virando a arma para o perseguidor,
mesmo de costas, “a la Far-West”, deu um tiro
e acerta a testa do mesmo, que caiu mortalmente ferido e
depois socorrido, foi levado numa padiola improvisada para
casa, já morto. Houve procissão tétrica
nesses anos de 1927 ou 28!
O segundo assunto, relacionado com este, é que o
“turco” Ramão Suaya, mascate pelas cidades
da zona sul, pretendendo estabelecer-se com uma loja, aliás,
costume de então entre os imigrantes árabes,
resolveu deslocar-se com a família para cá
e seus filhos, ao irem na escola de Jaguarão, afim
de se despedirem dos colegas e professores, receberam o
horrendo aviso que por estas bandas, o banditismo era tão
violento, que matavam as pessoas em plena luz do dia e que
aquilo entre nós, era cousa corriqueira. Os meninos
chegaram em casa chorando apavorados com a vinda para o
sul. Ramão e Célia, sua esposa, procuraram
tranqüiliza-los e a viagem foi feita na maior tranqüilidade,
pois pelo vapor Rio Grande, chagava-se em Santa Vitória
do Palmar, em segurança e comodamente. Ao descerem
do navio foram transportados por uma “diligência”,
condução coletiva que deslocava os viajantes
desde o atracadouro até a cidade. Quando o carro
dobrou a esquina já citada, em direção
ao norte, para chegarem em casa, onde hoje é a residência
da viúva de Osmarino De Marco, Alva Silva de Marco,
depararam-se com aquela cena que já lhes havia sido
notificada. Foi um pânico, porque o alerta estava
realizado.
Posteriormente esta família ficou por aqui e nestas
plagas deixaram-se estar formando uma grande descendência
e puderam, pessoalmente comprovar, que o quê diziam
de nós, não era tão grave assim, na
realidade, o fato da violência era uma situação
que imperava entre todos os povos do mundo e que, por estes
lados sulinos, não poderia ser diferente.
Fatos de nossa gente e desta Santa Vitória do Palmar,
pacata, ordeira e trabalhadora, símbolo e guarda
da gente brasileira.
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O Turco Ramão Suaya e seu filho Èlias.
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Propaganda da inauguração
da loja Suaya, feita
no jornal sul do Estado de 17 de abril de 1928. |
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