Quem somos
Coberturas
Notícias
Revista
Entrevistas
Enquetes
Arquivo
José Golgerci
Políbio Braga
Colaboradores
Zero Hora
Correio do Povo
Diário Popular
O Globo
Gazeta Esportiva
Clima Tempo
Weather Channel
UFPel
Tempo Agora
Banco do Brasil
Banrisul
Bradesco
Caixa Federal
Santander
Secretaria Fazenda RS
Receita Federal
Proc. Geral da União
TRT
TRE
INSS
Detran-RS
Consulta CEP
Lista Telefônica
 
 

A SANGA DA MADAME
A Formação de duas famílias nos Campos do Sul

Este mundo é pequeno e é por isso, que as casualidades se apresentam para o desenrolar de uma historia cujos protagonistas saíram da Europa combalida por tantas lutas, dificuldades econômicas e a grande marginalização da sociedade desesperada pelas guerras e a falta de perspectivas que muitos somente vieram a encontrar com as grandes levas de emigração do Velho Continente e no Brasil das grandes extensões de terras não ocupadas e das grandes riquezas que ainda hoje possuímos por estes lados do Atlântico.
Uma expressão francesa, a de Madame e o termo bem gaúcho, o de Sanga, unidos caracterizam a permanência e o desenvolvimento de duas famílias saídas da França para por estes lados, no Porte do Escorrega, marcarem uma caminhada dando tantos descendentes na formação da gente santa-vitoriense.
Misteriosamente ou mesmo, sem saber porque e qual a razão de chegar à Santa Vitória do Palmar, depois de desembarcar em Montevidéu uma moça de nome Maria Tugne, grávida veio acompanhada por seu irmão, chamado Francisco.
O parto em questão aconteceu na capital uruguaia e não foi encontrado indício, em que ano, mas sabemos que a jovem mãe veio aportar onde hoje é o porto de Santa Vitória do Palmar em 1865 e devido , talvez, aos recursos que trazia, estabeleceu-se nos campos de Joaquim Gomes Campos, onde agora está a estância dos herdeiros de Otílio Amaral, comandada por seu filho Tito Lívio.
Transformou-se numa referencia de mulher dinâmica que ai desenvolveu um profícuo trabalho pecuário, inclusive aproveitando as bases de uma charqueada que foi do primeiro proprietário, cujas ruínas ainda estão na beira da lagoa Mirim, local conhecido por pontal da Capinchas e mais ao sul, do Paraguai.
Criou sua filha que se chamou Paulina e passou a realizar um grande trabalho além das lidas do campo, sendo uma modista de grande destaque, inspirada nos trabalhos de roupas femininas ao modelo europeu, inclusive possuindo pra os trabalhos narrados.
O destino sempre nos bate à porta, para bem ou para mal e no de Dª. Maria Tugne, foi diferente, pois, um dia qualquer chega numa embarcação um viajante de nome Pedro Dupuy, também, sem saber-se quais os motivos de sua vinda para o extremo meridional da pátria e não sabendo falar o português e o espanhol, através de dificuldades contato, procurou saber se não haveria nas redondezas alguém que se expressasse em francês e na ocasião foi informado que logo ali, frente ao desembarcadouro, havia uma senhora conhecida por Madame, que era originaria de além mar.
Feito o encontro agradando a todos, inclusive a Francisco que havia casado com uma “megulhona”, Francisca Garcia, o inevitável aconteceu. Pedro Dupuy foi deixando-se ficar na propriedade e sentiu-se atraído pela mocinha, filha de Maria Tugne, a Paulina e o casamento aconteceu ali, gerando uma enorme família, Tugne-Dupuy e que trouxe uma grandeza de pessoas que se instalaram em diversos pontos do município, em especial, nas redondezas do Porto.
Daí é que aparecem os filhos de Pedro e Paulina, iniciadores do clã nomeado e que foram: Pedro filho, Bernardino, José, Gustavo e João.
Os filhos de Francisco e Francisca foram Araci, Brasiliano, Domingos, Amazildo, Agustina, Amélia, Egídia, Eulália e Lúcia, uma das mais conhecidas pelo seu matrimônio com Otávio Martins que depois foi residir nas propriedades familiares das Porteiras de Ferro na belíssima localidade à beira da Lagoa Mangueira.
Mas, dito isto, porque a Sanga da Madame?
Do estabelecimento às margens da Mirim, havia um pequeno arroio que lá desembocava e como era de habito, o pessoal da hoje Vila Darci Varcas, por serem as águas da Mirim mais doces, iam lavar as roupas na “beira da praia” e com a Madame Maria não foi diferente, aproveitando a famosas Sanga, para lá se deslocava com suas carretas, escravas e outros ajudantes para fazer o trabalho principalmente nas roupas que eram encomendadas pelas clientes da cidade.
Dª. Maria Tugne, sua filha Paulina, esposa de Pedro Dupuy, seguiram a vida de progresso, amizade e desenvolvimento na zona, formadores da gente dos Tugne e Dupuy, cujo trabalho e dedicação, nunca deixando de seguir nos trabalhos masculinos do campo e na arte maravilhosa de compor as roupas, principalmente, das damas, cujo local preferido era a Sanga da Madame.
Por isso, ainda está aqui como grande testemunho de nossa vida social e a econômica, o pequeno filete de água que identifica um momento de nossa historia, na expressão que mostra a junção de duas famílias gaulesas eternizadas na expressão franco-gauchesca de uma grande dama, a Madame e a Sanga que leva um costumeiro nome geográfico regional.
O destino em seu desígnio embalado ao acaso ainda hoje mostra para quem quiser ver a Sanga, mesmo que a Madame Maria não esteja mais conosco o valor dessa mistura em terras brasileiras de Santa Vitória do Palmar.

 

 
A Sanga da Madame vendo-se ao fundo a Mirim e o pontal das Capinchas
 
Sanga da Madame vendo-se no lado norte o Porto de Santa Vitória do Palmar
As Famílias Tugne e Dupy
 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br