A SANGA DA MADAME
A Formação de duas famílias nos Campos
do Sul
Este
mundo é pequeno e é por isso, que as casualidades
se apresentam para o desenrolar de uma historia cujos protagonistas
saíram da Europa combalida por tantas lutas, dificuldades
econômicas e a grande marginalização
da sociedade desesperada pelas guerras e a falta de perspectivas
que muitos somente vieram a encontrar com as grandes levas
de emigração do Velho Continente e no Brasil
das grandes extensões de terras não ocupadas
e das grandes riquezas que ainda hoje possuímos por
estes lados do Atlântico.
Uma expressão francesa, a de Madame e o termo bem
gaúcho, o de Sanga, unidos caracterizam a permanência
e o desenvolvimento de duas famílias saídas
da França para por estes lados, no Porte do Escorrega,
marcarem uma caminhada dando tantos descendentes na formação
da gente santa-vitoriense.
Misteriosamente ou mesmo, sem saber porque e qual a razão
de chegar à Santa Vitória do Palmar, depois
de desembarcar em Montevidéu uma moça de nome
Maria Tugne, grávida veio acompanhada por seu irmão,
chamado Francisco.
O parto em questão aconteceu na capital uruguaia
e não foi encontrado indício, em que ano,
mas sabemos que a jovem mãe veio aportar onde hoje
é o porto de Santa Vitória do Palmar em 1865
e devido , talvez, aos recursos que trazia, estabeleceu-se
nos campos de Joaquim Gomes Campos, onde agora está
a estância dos herdeiros de Otílio Amaral,
comandada por seu filho Tito Lívio.
Transformou-se numa referencia de mulher dinâmica
que ai desenvolveu um profícuo trabalho pecuário,
inclusive aproveitando as bases de uma charqueada que foi
do primeiro proprietário, cujas ruínas ainda
estão na beira da lagoa Mirim, local conhecido por
pontal da Capinchas e mais ao sul, do Paraguai.
Criou sua filha que se chamou Paulina e passou a realizar
um grande trabalho além das lidas do campo, sendo
uma modista de grande destaque, inspirada nos trabalhos
de roupas femininas ao modelo europeu, inclusive possuindo
pra os trabalhos narrados.
O destino sempre nos bate à porta, para bem ou para
mal e no de Dª. Maria Tugne, foi diferente, pois, um
dia qualquer chega numa embarcação um viajante
de nome Pedro Dupuy, também, sem saber-se quais os
motivos de sua vinda para o extremo meridional da pátria
e não sabendo falar o português e o espanhol,
através de dificuldades contato, procurou saber se
não haveria nas redondezas alguém que se expressasse
em francês e na ocasião foi informado que logo
ali, frente ao desembarcadouro, havia uma senhora conhecida
por Madame, que era originaria de além mar.
Feito o encontro agradando a todos, inclusive a Francisco
que havia casado com uma “megulhona”, Francisca
Garcia, o inevitável aconteceu. Pedro Dupuy foi deixando-se
ficar na propriedade e sentiu-se atraído pela mocinha,
filha de Maria Tugne, a Paulina e o casamento aconteceu
ali, gerando uma enorme família, Tugne-Dupuy e que
trouxe uma grandeza de pessoas que se instalaram em diversos
pontos do município, em especial, nas redondezas
do Porto.
Daí é que aparecem os filhos de Pedro e Paulina,
iniciadores do clã nomeado e que foram: Pedro filho,
Bernardino, José, Gustavo e João.
Os filhos de Francisco e Francisca foram Araci, Brasiliano,
Domingos, Amazildo, Agustina, Amélia, Egídia,
Eulália e Lúcia, uma das mais conhecidas pelo
seu matrimônio com Otávio Martins que depois
foi residir nas propriedades familiares das Porteiras de
Ferro na belíssima localidade à beira da Lagoa
Mangueira.
Mas, dito isto, porque a Sanga da Madame?
Do estabelecimento às margens da Mirim, havia um
pequeno arroio que lá desembocava e como era de habito,
o pessoal da hoje Vila Darci Varcas, por serem as águas
da Mirim mais doces, iam lavar as roupas na “beira
da praia” e com a Madame Maria não foi diferente,
aproveitando a famosas Sanga, para lá se deslocava
com suas carretas, escravas e outros ajudantes para fazer
o trabalho principalmente nas roupas que eram encomendadas
pelas clientes da cidade.
Dª. Maria Tugne, sua filha Paulina, esposa de Pedro
Dupuy, seguiram a vida de progresso, amizade e desenvolvimento
na zona, formadores da gente dos Tugne e Dupuy, cujo trabalho
e dedicação, nunca deixando de seguir nos
trabalhos masculinos do campo e na arte maravilhosa de compor
as roupas, principalmente, das damas, cujo local preferido
era a Sanga da Madame.
Por isso, ainda está aqui como grande testemunho
de nossa vida social e a econômica, o pequeno filete
de água que identifica um momento de nossa historia,
na expressão que mostra a junção de
duas famílias gaulesas eternizadas na expressão
franco-gauchesca de uma grande dama, a Madame e a Sanga
que leva um costumeiro nome geográfico regional.
O destino em seu desígnio embalado ao acaso ainda
hoje mostra para quem quiser ver a Sanga, mesmo que a Madame
Maria não esteja mais conosco o valor dessa mistura
em terras brasileiras de Santa Vitória do Palmar.
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