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QUANDO UM BAR É REFERÊNCIA NO LADO NORTE DA CIDADE
ARTURITO BARBOSA – DE TIJOLEIRO À FIGURA DE HOMEM FOLCLÓRICO

Tanta gente anterior aos finais de 1940 conheceu o Sr. Artur Barbosa, tendo por apelido Arturito, como um grande empresário do ramo dos tijolos. Formou uma família numerosa e muitos de seus filhos do sexo masculino o acompanharam no trabalho artesanal de fabricador de tijolos.
Suas filhas dedicaram-se ao magistério e três delas foram figuras destacadas no ramo de ensinar, fazendo parte da galeria das grandes mestras santa-vitorienses.
Quantas “campanhas” foram palco do trabalho do Arturito, com seus cavalos mansos, bois lentos e um trabalho estafante e que por força das dificuldades de locomoção para o interior, o serviço era feito no local, onde o grupo de tijoleiros, acampava por vários dias, disfrutando da hospitalidade do senhor da gleba que lhe cedia carne, leite e ovos, para que realizasse suas funções.
O amassar do barro misturado com bosta e depois palha de arroz, era admirado por todos que viam surgir pirâmes de produtos retangulares do material citado e ficavam a espera quando era coberta, também, pelo lodo trabalhado de que no centro e na parte de baixo fosse colocada a lenha de eucalipto para que o fogo provocasse a queima do material. Era um tempo lento e paciensoso.
Quando o forno ficava queimado era descascado o produto que saia das pilhas e iam para as construções e nesse momento o grupo voltava para a cidade e lá no norte da periferia urbana onde o industrial possuía uma chácara, começava tudo de novo. Era a rotina desses homens.
O tempo foi passando e Arturito Barbosa, comprou um prédio na rua Osório, esquina Dom Diogo de Souza e lá se instalou com um estabelecimento comercial popular que ficou conhecido pela comunidade como o Bar do Arturito; aliás, Bar Rio Branco, nome do clube que ele era ardoroso torcedor.
Que tal força possuía esse local para tornar-se famoso entre os habitantes da cidade e da campanha? É que aí se concentrava a turma da boêmia, atraída pelas bebidas populares e mais a personalidade de seu proprietário que era um misto de “carrancudo e diligente, atendendo a todos incansávelmente.
Dava abrigo aos “borrachos, aos indivíduos pobres das cercanias, nas duas características formaram uma fisionomia do seu bar, aliás, todos se referiam a ele como o Bar do Arturito: as noitadas de música brejeira e popular com velhas canções seresteiras, tangos, gauchescas e as românticas, sempre acompanhadas por instrumentistas amadores que centrados na figura do dono, que “arranhava” um bandolim ou cavaquinho, sempre acompanhado pelo velho Pedro, o Volmer e outros que chegavam para se luzirem com sua verve lírica.
Nunca faltava um tango de cachaça ou outra bebida barata para saciar a sede e a mágoa de algum boêmio impedernido.
Outro momento era o de permitir que junto á mesa de bilhar, bem no centro do salão, todos jogassem carambola ou trinta e um, mas os fregueses delirantes eram os quase moços da redondeza, como os filhos do Volmer Torino, Chico Estrela, do Maurício Morrone, Carlos Rota Rodrigues, sendo que o José Vitor com a inclinação para escritor poético dedicou-lhe uma crônica maravilhosa contando esses lados dos meninos-fregueses de seu bar. A turma do lado dos Rottas, dos Cava, os brigadianos da Cadeia Velha, os Marzulos lá da esquina, sempre respeitaram este veterano homem da noitada e do comércio de bebidas.
Artur Barbosa, o Arturito, o notívago telúrico e de alma das canções, não resistiu aos anos e seu bar deixou de ser ponto de referência, mas que marcou tanta gente que até agora não acredita que momentos tão simples duram por toda a vida, numa pequena cidadezinha encravada na coxilha que se mira na lagoa Mirim.

 

Bar do Arturito tendo ao fundo a exposição das bebidas citadas e a frente, o velho Arturito referenciando três gerações de sua família, o filho Manuel, a nora e um dos tantos netos. Acervo de Manuel Barbosa
Bar do Arturito. Gentileza do engenheiro Mario Pereira Estrela e do jornalista Faustino Valdi Munhoz

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br