CARLOS SEABRA REVERBEL-UM
GRANDE DELEGADO DE POLICIA
Como um funcionário público tornou-se referencia
no sul do Brasil
Esse
homem da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, chegou em
Santa Vitória do Palmarem 1955 para exercer a sua
profissão de fé, tão difícil
e desgastadora, como a de Delegado de Polícia,numa
terra tão afastada de tudo,sem luz abundante, água
encanada, telefone, ruas pavimentadas,com exceção
da Barão do Rio Branco e a “faixa do porto”e,principalmente,falha
na ligação com o resto do país, não
havendo estradas e onde fazíamos o contato através
do avião da Varig,duas vezes por semana, quando o
tempo permitisse.Também por barcos impróprios
e vagarosos, além do transporte por automóveis
pelo litoral marítimo, quando as chuvas e o vento
sul não o transformasse em barreira intransponível.
Com este panorama sombrio, chegou com sua família
formada pela esposa e duas filhas já em idade escolar
no ginásio local, Marlise e Arlete.
A Delegacia de Polícia localizada na rua João
de Oliveira Rodrigues, entre 7 de Setembro e Gal Osório,
oferecia pequenas comodidades, tendo funcionários
dedicados e um Jeep que era destaque em meio aos atoleiros
citadinos, principalmente sub-urbanos,mas muito mais do
que isso, nos ínvio caminhos do imenso e barrento
interior do município.
O salário de tão importante chefe da delegacia
era, como do resto do funcionalismo público, muito
defasado, tendo como consolo, o aluguel ao lado da repartição,
a residência do recém chegado.
Se não existiam grandes problemas ao exercer tão
perigosa profissão na cidade,as dificuldades interioranas,como
o abigeato que sempre existirá, faziam com que o
pacato trabalho da ordem pública se transformasse
num martírio.
CARLOS SEABRA REVERBEL de imediato, devido a sua capacidade,e
integridade moral, contaminou os demais membros da”
delegacia” e aquilo, que era visto pela população
como um trabalho menor,passou a pontificar como esperança
de paz entre todos.
Ajudado por uma guarda municipal noturna e a sempre eficiente
Brigada Militar,a vida da comunidade santa-vitoriense seguia
na sua mansa passagem,onde pequenos atritos em salões
de jogo de azar proibidos,refregas futebolísticas
e crises pequenas na fronteira,, modificavam a vida de todos.
Foi fundador da Banda Lira dos Palmares e seu primeiro presidente
e dedicou-se a luta pela melhoria da Barra do Chuí
onde possuía residência e passava largas temporadas
á beira mar.
Outros dois momentos fizeram CARLOS REVERBEL destacar-se
entre seus pares. Um de caráter coletivo e outro
de menos importância, marcaram no seio desta longínqua
comunidade, a passagem desse homem que até hoje,
quando nossa Delegacia de Polícia está acéfala
d e seu titular,provocam momentos de saudade e,acima de
tudo,a lembrança desse homem que dignificou a sua
presença por estas Terras do Sul .
A primeira, quando nos anos de 56 ou 57, ainda na via urbana
então chamada Gal Câmara, numa cacimba “a
meia ação”como eram chamadas quando
as mesmas serviam á duas residências, separadas
por um muro limitador, dos senhores Emiliano e Bacelo, um
Humilde trabalhador conhecido como Adolfinho,fazendo a limpeza
de tão importante fonte d água , foi soterrado
pelas laterais. Chamado o delegado Reverbel para tal ocorrência,comandou
os trabalhos de retirada dos entulhos que fatalmente iriam
malograr o inditoso operário.Conta adolfinho que,por
sorte, ficou colocado entre uns paus e não teve morte,mas
que o ar iria fatalmente faltar e esta chegaria, sem dúvidas.
O mesmo, quando a noite já ia alta, ouvia quando
os trabalhadores diziam deixar o serviço para outro
dia, trazendo por isso o desastre fatal, e rezava ao ouvir
a voz serena do “Delegado Reverbel” dizendo
que enquanto não fossem removidos todos os entulhos,
os trabalhos não seriam paralisados .Adolfinho viveu
muitos anos após esse incidente que poderia custar-lhe
a vida.
O outro momento, que hoje pareceria ser de somenos importância,
aconteceu na esquina da Osório com a Câmara,quando
em dezembro, numa quente e escura de verão, um grupo
de estudantes,onde se encontrava o autor desta crônica,
na frente da residência do “seu Acy e dona Miroca”,
falavam alto, gargalhando e, as vezes,cantando, aproveitando
as férias.
Num determinado instante aquele grupo de jovens alegres
e notívagos viram chegar , do conhecido prédio
do Posto do Selo, um sujeito calmo e com um caminhar rengo
que identificou-se com um ”boa noite”, dizendo
: Rapazes, vocês estão desfrutando de merecidas
férias e amanhã vão dormir até
meio-dia, mas este pessoal que mora em volta deve começar
a trabalhar bem cedinho,por isso espero que ajudem na tranqüilidade
de nossa cidade. Mais uma vez disse boa noite e retirou-se
para sua casa, ao lado da delegacia.Toda turma nada falou
e cada um dirigiu-se para sua casa sem dizer uma palavra,
transformando aquela noite num momento de paz e tranqüilidade
novamente.
Daquele incidente em diante ficamos, os agora velhos cidadãos
desta “barulhenta cidadezinha do interior”,respeitando,
mais do que medo de menino, esta figura que ainda nestes
tempos de violência e desrespeito entre os homens,
serve-nos como marco de dignidade e reconhecimento por tão
digno homem da lei.
CARLOS SEABRA REVERBEL, voltou para a capital graças
a uma merecida promoção, mas deixou entre
nó a família aderida do reverenciado conterrâneo
Osvaldo Fernandes que se casou com a Marlise e deixou três
filhos, Carlos, o André e Daniel que são dignos
continuadores desta família que para cá veio,
principalmente, na imitação do chefe da clã,
o delegado amigo, eficiente e competente conterrâneo
por adoção.
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