EDI ACOSTA – O ANJO
DA GUARDA DOS ESTUDANTES
DE ACOSTA À COSTA
Edi Acosta, o popular Negro Edi do Ônibus, da Rodoviária,
do Jornal, que ficou encravado no ideário da população
santa-vitoriense, principalmente nos anos 40 e na primeira
década de 50, quando as viagens pela “Costa
do mar” deixaram de existir, graças a travessia
do Taim, primeiro como “Estrada do Inferno”,
depois, como uma das melhores vias do país.
Negrinho de mandalete, afeiçou-se ao uruguaio Jose
Benito de Los Santos, quando este o trouxe para trabalhar
junto a ele, primeiro na loja de peças e na mecânica
da Empresa Atlântica, símbolo de progresso
e integração destas lonjuras, depois, no anexo
da Varig.
Sempre cuidou dos afazeres das firmas e nela foi-se encarnando
a vida dessas heróicas atividades profícua
e progressistas, onde a velho timoneiro Jose Santos, tinha
a gravitar em torno dele valentes homens que ficavam na
retaguarda como Andico Plá, mecânico Cláudio,
auxiliar deste, George e os destemidos motoristas que eram
chamados pelo nome francês de “Choffeurs”
e que conduziram quase toda a nossa população
que demandava às cidades do norte, como Rio Grande,
Pelotas.
Edi, nunca dirigiu um automóvel, sempre ficando primeiro
na base das firmas citadas e depois, maiorzinho, sendo a
auxiliar de grandes condutores dos “Ônibus da
Atlântica”, como Paulo Guerra, Bolinha (o pai
da Vera Orcina Rodrigues) do Amadeu, Valter e Rassende Rodrigues
e mais alguns nesta fase inicial que ora retrato.
Era interessante e aflitivo ver o Edi, descer do coletivo
em andamento quando a costa estava cheia e este fazia curvas,
esperando que o menino franzino ajudado por outros viajantes,
tirasse de baixo da armação dos Fords, tábuas
para colocá-las na beira dos primeiros combros, hoje,
chamados de “dunas primárias”, para fazer
o carro subir a rampa e ficar a salvo da maré que
crescia.
Feito isso, era o primeiro que saia a procura de madeiras
para fazer fogo, afim de suprir de calor e energia para
aquecer a água para o mate ou comida. Organizava
as caravanas de senhores e moças que se dirigiam
para as dunas fora dos olhares provocativos dos homens.
Quando terminou a linha o Edi já estava trabalhando
como distribuidor de revistas e jornais que trazia de Rio
Grande, e também, produtos conseguidos nos navios
surtos no porto. Mais tarde, já inexistente a empresa
de transporte, ficou estacionado na Estação
Rodoviária do seu Balbino (Mosquito) e Lídio
Soares de Lima, primeiro na rua Gal. Osório, entre
a Barão do Rio Branco e Conde de Porto Alegre, aliás,
a primeira feita na cidade. Acompanhou a mudança
da mesma para a rua Osvaldo Anselmi e lá parou de
trabalhar quando veio a merecida aposentadoria.
No entretanto, a maior contribuição de Edi,
de tantas que ele apresentou, inclusive torcedor do Vitoriense,
sendo eterno massagista, acompanhando o time do coração
em quase toda a sua peregrinação, desde meados
de 30, foi a de Anjo da Guarda dos estudantes que naquele
tempo, faziam as viagens para as cidades maiores com o intuito
de estudar e ele era o responsável por todos, junto
com seu José Santos e os demais motoristas. Resolvia
os problemas do percurso, sempre, atento às preocupações
com a chegada no fim da linha, com os incômodos e
nervosismo de tão jovens criaturas que se deslocavam
inquietos para um período longo de afastamento de
seus lares.
Quando os estudantes já estavam acomodados em suas
casas, principalmente na cidade marítima, sempre
estava o Edi em contato com eles, fazendo o intercâmbio
numa ponte segura entre os dois pontos de parada. Nunca
houve queixas de relaxamento ou abusos no relacionamento
dos envolvidos nas epopéias daqueles tempos tão
difíceis. Edi casou com a professorinha Alice Mendes,
neta da Lucrécia Alves, veneranda senhora que arregimentou
uma parte da comunidade que se localizava na zona do cemitério
de tão importante na sua presteza ao amparo viventes
da Regina e que a Câmara de Vereadores resolveu homenageá-la
colocando-lhe o nome em uma rua do norte de nossa cidade.
Desse matrimônio surgiram os filhos, o Henrique e
a Claudia, indivíduos partícipes da comunidade
de nossa terra.
Mas o Edi Acosta deixou lembranças entre os, hoje
veteranos, membros de nossa comunidade, quando ele desafiando
todas as adversida das viagens pela beira da praia oceânica,
foi um elemento que se propôs e cumpriu com seu destino
de ajudar a todos que se aventuravam em tão difícil
deslocamento nos ônibus da Atlântica. Tinha
uma dedicação pelas crianças viajantes
e mais ainda, os estudantes fragilizados pela separação
de seus lares, onde iam a procura de realizar as suas inquietações
e o difícil e sublime ato de estudar.
Tudo passou, os coletivos não andam pela “costa
do mar”, esses homens que pontificaram ao dotar Santa
Vitória do Palmar de um seguro contato físico
com outros pontos mais ao norte não mais estão
conosco, mas Edi Acosta, como o próprio nome se relaciona,
sempre seguirá na lembrança daqueles que precisaram
percorrer a orla arenosa e perigosa do nosso território
mais no leste.
Foi um fator muito importante em nosso meio, mas simplesmente
o Edi Acosta tornou-se o ANJO DA GUARDA de todos que precisaram
um dia passado do seu amparo, na Costa.
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