Prof. Tancredo Frederico Blotta
A Fé, o Amor, e a Cultura despejados nas terras
meridionais
Este indivíduo teve uma cruzada como poucos, desenhada,
desde as alterosas plagas de Serra Negra, em São
Paulo, peregrinando na fronteira oeste de nosso estado,
para repousar, finalmente nos campos e no grande mar de
Santa Vitória do Palmar.
Sacerdote de origem, doutor em Teologia, predicando nos
idos de 1910 e 20 na cúria metropolitana de São
Paulo, capital, mas sobretudo, vislumbrando um mundo melhor
que poderia ser construído, com mais justiça
social e oportunidade. Para isso, sua pena de grande escritor
e jornalista, foi contundente, principalmente no ataque
às velhas instituições conservadoras
que, sem modificação radical, até a
própria Igreja, ficaria submetida aos grandes interesses
dos poderosos que continuariam, “cada vez mais ricos
e os desprovidos de fortuna, cada vez mais pobres”.
Era evidente que este jovem padre estava tornando-se um
grande estorvo para o meio industrial e injusto da grande
urbe paulistana e, como muitas vezes acontece em quase todos
os lugares, foi mandado para os confins do Rio Grande, tirando-o
da cena burbulhante da política nacional e nas distantes
esferas do sul, acalmaria as suas inquitações
e não estaria escrevendo verdades que não
deveriam ser estampadas e que com sua voz, contundente e
clara, deixaria, por estes lados gaúchos, de ecoar
com estas meridianas afirmações.
Em São Gabriel, continuou desde o púlpito
de sua paróquia, a predicar, quando a política
acerbava as mentes e os grandes rumos iriam desembocá-la
na Revolução de 30, foi tornando-se um ponto
de referência, mas ai, o destino coloca-lhe outro
grande desafio: o celibato ou o coração. Uma
jovem de família destacada do meio, mesmo sabendo-o
impedido para os lados do sentimento amoroso, entrega-lhe
o seu sentir para sempre. O padre Blotta, abandona a batina
e une-se pelo matrimônio com a mocinha Carmem Berchon,
provocando um grande escândalo na comunidade rigorosamente
moralista da cidade fronteiriça e como o jovem ex-clérico
era um elemento de grande valia com sua capacidade, dedicação
e identidade partidária com os mandatários
do momento, foi enviado para bem longe, onde, devido as
dificuldades de comunicação e grande distância,
ficaria temporariamente fora dos focos sociais que não
admitiam tal união.
O ex-padre, agora professor e da. Carmem chegam até
nossa terra, com família constituída e a prole
crescendo, para por estes lados, formar um clã importante
na comunidade santa-vitoriense, cujos descendente, em sua
maioria, estão para sempre, por estas bandas.
Prof. Blotta, começa a lecionar no Colégio
Elementar, funda o jornal Liberal, que ainda aqui está
apontando caminhos entre nossa gente e que é um dos
mais antigos, em circulação, no Estado. Dedica-se
ao sacerdócio do magistério, é poeta,
músico, autor de peças teatrais, grande esportista,
aderindo fervorosamente ao futebol e inserindo-se nas hoste
do E.C. Rio Branco e o grande veranista do Mar do Hermenegildo.
Foi referência por mais de cinqüenta anos entre
nós e dele se contam muitas histórias que
agora, ficam guardadas no ideário mergulhão.
Cito uma que gosto muito:
“estava um grupo de jovens estudantes conterrâneos
que faziam o ginásio nas escolas de Pelotas e deveriam
partir para lá, em pleno verão, já
que haviam “rodado” em Latim, matéria
da língua dos romanos e que foi a mãe do Português
e por estes lados não existia alguém, naquela
época, que pudesse ensinar-lhe tão difícil
conhecimento, para os famosos “exames de 2ª época”
e lamentando-se o grupo, alguém disse-lhes, na costa
do balneário, que se quizessem, aquele velhinho de
chapéu de palha, casaco surrado e uma velha calça
arremangada, talvez pudesse revolver tão angustiante
problema, Foram ao seu encontro e o idoso professor prontificou-se
a ajuda-los, mas com uma condição, que as
aulas fossem dadas à beira mar, em frente a sua casa,
durante os longos instantes em que ele estava pescando.
Assim foi feito e os “vagabundos” alunos de
2ª época, foram todos aprovados em tão
difícil tarefa.”
Tantas cousas o prof. Blotta proporcionou à nossa
comunidade, muitas facetas de sua vida errante, deixou para
nós e sua memória ficou entre todos como a
sua passagem por aqui, para, por fim descansar seus restos
entre os verdes palmares, sempre contribuindo com sua retidão
de caráter, sabedoria e que mais uma vez, identificou-se
com estas planícies, à margem, que no dizer
dos romanos, quando dominaram todo mar Mediterrâneo,
o chamaram de “Maré Nostrum”, agora,
do Atlântico, onde ele, em suas líricas pescarias,
de uma simplicidade monástica, ensinou a gramática
dos latinos, os seu grandes versos, declinações,
mas muito mais do que isso, demonstrou o grande amor pelo
jornalismo, pela educação e um profundo sentimento
de gratidão por esta terra, onde veio, para ser afastado
da arena política e do “escândalo amoroso
mas que aqui plantou um senda de saber, onde sempre dignificou
o local onde atuou, criou um grande família e deixou
os seus ossos, nesta cidade que hoje completa 150 anos de
fundação.
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Prof. Tancredo Frederico Blotta |
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