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SALÃO AZUL – PONTO DO BARBEIRO QUIQUINHO
Um local de encontros na Rua Barão do Rio Branco

Todas as cidades pequenas dos tempos passados possuíam locais, onde se reuniam jovens ou veteranos, para desenvolverem suas preferências, paradas que estavam sempre a provocar reuniões e delas, as mais diversas discussões.
Santa Vitória do Palmar não poderia fugir a essa prática tão ao gosto de seus habitantes e nessa panorâmica, armazéns, praças, lojas, clubes ou cafés, se prestavam para que, a sua maneira, nossa gente, ai deixando-se ficar, para seguir a rotina diária e estar a par das noticias corriqueiras.
As barbearias da rua principal sempre foram ponto de estacionamento e em outros momentos descrevi esses estabelecimentos tão especiais que estavam na “Rua Treze”, antes que esta tivesse mudado o seu nome.
O Salão Azul, de José Francisco Naparo se estabeleceu nos primórdios dos anos 40, primeiro, na Conde de Porto Alegre, 377 e após um breve tempo mudou-se para a principal, no nº 411, onde agora esta a Loja de Variedades da Srª. Lisarbe Teixeira Gonzalez, no centro pulsante da cidade, ladeado pelo Café Central, do Elias Squef e de Dª. Rosa e no outro, Livraria Apollo do João Botto.
Esse estabelecimento ficava na casa do barbeiro em questão e como era de costume, dividia-se entre o lar do proprietário e o próprio comercial com comunicação interna, fazendo disso, uma interação dos clientes e a família, porque naqueles tempos, quase todos os habitantes da pequena urbe, de uma maneira ou outra, possuíam laços familiares ou de amizade.
Quiquinho, esse era o seu apelido carinhoso que levava desde a infância, pela sua pequena estatura e fragilidade e a sua delicadeza em seu manifestar e tratar os seus concidadãos que revoavam por aquele centro de beleza masculina, onde eram feitas as barbas quase que diárias e os cortes de cabelo. Possuia duas cadeiras, onde o mesmo era o comandante e quase sempre teve a colaboração do argentino Orestes Leonetti Petruzzi, o Galinha, também estampa popularíssima, em especial, por sua habilidade como jogador de futebol, especialista na meia direita e quando feita uma pesquisa entre os torcedores daqui, para formar uma seleção de todos os tempos, este moço, foi guindado ao melhor avante naquela posição, quando jogador do E.C. Vitoriense e também do E. C.Rio Branco.
Quiquinho era uma figura impagável, como se dizia na época, porque de seus ouvidos aguçados, as noticias da hora eram divulgadas por ele, porque a posição da barbearia lhe facilitava isso. Na esquina da praça estavam as agências da Varig e da empresa Atlântica, que faziam com que as pessoas que chegavam na povoação, fossem identificadas pelos olhos e ouvidos atentos do Quiquinho, que se não sabia na hora o que tal viajante estava fazendo por estas bandas, quando o mesmo chegava para usufruir de seus serviços, era, presa imediata para dar tal informação.
Outra característica da função dos barbeiros era a solidariedade dos colegas, já que na outra esquina, para o lado leste, colado ao hotel do Duque de Auche, depois, a loja do turco Ibrahim Boabaide, ficava uma congênere, a barbearia do Dorval Brayer, onde atuavam, além deste, mais o castelhano Moreno e o Lecica. Quando precisavam de uma máquina ou material, ambas as casas os trocavam para realizar suas funções com presteza e mais ainda, a razão deste parágrafo, os “chismes” e desse modo tudo se tornava atualizado.
A Barbearia do Quiquinho possuía fregueses assíduos como o Dr.º Jorge Calvete, Pedro Costa, o Pedrinho da Renner, o boêmio etílico, também colega de profissão, Amador e mais ainda, gente que se informava das noticias diárias.
Quando da fundação do Ginásio de Santa Vitória, a Barbearia do Quiquinho passou a ter uma vida maior porque os estudantes durante os recreios, passavam por ali em direção ao Correio ou a livraria Apollo e a “Faixa” se tornava barulhenta, alegre e mais bonita.
Sua família era composta pela carinhosa e prestativa Dª. Julia, mais as filhas Eli e as moças Terezinha e Marilda que acompanhavam aquele grupo no vivenciar constante de nossa cidadezinha.
A Barbearia do Quiquinho apresentava outros serviços, como o de vender serpentinas, confetes e os inocentes para a época, lanças perfumes, durante os dias de carnaval.
Mas a grande tarefa do Quiquinho era dar assistências a uma classe de trabalhadores, os meninos engraxates, que depois de sua faina diária, guardavam as suas caixas de trabalho na barbearia sob os cuidados do mestre da tesoura e também, durante o Natal, o mesmo preparava presentes para eles com a condição de todos rasparem a cabeça “a zero” gratuitamente, afim de evitar o piolho e manter a higiene.
José Francisco Naparo, o Quiquinho, trabalhou até o ano de 1975, quando num triste mês de outubro, na capital do Estado, depois, de uma violenta e rápida enfermidade no deixou.
Hoje está na galeria daqueles que ajudaram esta comunidade com seu exemplo, sua maneira gentil e gozadora de ver a vida e de informar, notícias boas ou más, afirmações verdadeiras ou “fofocas”, o cotidiano de nossa Terra.

 

Terezinha Chapper filha do seu Quiquinho junto com os netos do mesmo Fábio e Renata em frente a Barbearia.
Francisco Naparo – o QUIQUINHO
Interior do Salão Azul, onde estava o Barbeiro Quiquinho cortando o cabelo do seu neto Fábio Chapper.

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br