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NOVAMENTE A FASE HERÓICA DO GINÁSIO DE SANTA VITÓRIA
Rêmolo Fontes – Um Educador

Esta é a frase que está gravada no bronze de uma placa posta numa grande pedra na entrada, a esquerda, do prédio o do agora, Colégio Estadual Santa Vitória do Palmar.
Foi a simples homenagem que a direção, professores e alunos, do educandário citado, encontraram para dedicar a sua gratidão ao homem que soube conviver por mais de 25 anos com tanta gente com sede de aprender, pais ansiosos pelo futuro dos filhos e mestres que sempre acreditaram que a “EDUCAÇÃO É A ÚNICA HERANÇA IMPERECÍVEL”.
Ficou marcado, dessa forma, o reconhecimento àquele cidadão santa-vitoriense que dedicou toda a sua vida em prol da educação em tão extremas paragens.
Quem foi RÊMOLO FONTES para receber tão significativa prova de amor e gratidão dos que conviveram com ele no contato diário dentro do grande estabelecimento de ensino?
De poucas luzes culturais, freqüentado, por pouco tempo os bancos escolares, não completando o curso primário, mas que soube dedicar toda a sua existência procurando conduzir fora das salas de aula, as cabeças jovens daqueles que estavam em sua volta.
Começou com o Ginásio que amou tanto e na Casa Rural, local onde por 11 anos esse colégio funcionou graças a ação futurista e patriótica dos ruralistas conterrâneos, na função de INSPETOR DE DISCIPLINA e terminou o seu trabalho profícuo, mesmo antes de aposentar-se quando uma terrível enfermidade truncou-lhe a vida e não lhe deu a possibilidade do merecido descanso para assistir os antigos e jovens pupilos que, ensaiando os primeiros passos profissionais ou com as carreiras estabelecidas, viriam a dar sua contribuição para nossa Terra.
RÊMOLO FONTES era figura imprescindível no diário passar dessa escola, servindo ao diretor, professores e alunos numa incansável maneira de ser, agitado, responsável e principalmente amigo de todos.
Um misto de servidor de confiança dos que precisavam de ajuda. Por consentimento do 1° diretor Euclides Osório, nos começos dos anos 50, em baixo da escada, construiu um pequeno barzinho, ponto de encontro de todos, vendendo refrigerantes, merendas, balas e os livros que eram necessários para a função pedagógica.
Por sua personalidade, estando sempre em volta com os fatos do ambiente, RÊMOLO, foi apelidado na juventude pelos amigos do Clube Caixeiral, de LERO-LERO, dada a sua atuação em todos os assuntos que se comentavam.
Torcedor fanático do Rio Branco, inclusive sendo em outras épocas de sua mocidade um grande “ponta esquerda”. Depois, como expectador, quase nunca assistia aos jogos porque, nervoso, andava na beira do aramado do campo com os bolsos cheios de amendoim, discutindo com os adversários e quando acontecia um gol e não via. O Grêmio Footbol Porto-alegrense foi outra de suas paixões e quando após um Grenal, os recreios do colégio ficavam agitadíssimos, principalmente se do outro lado estava o malogrado estudante, de uma inteligência privilegiada, Solismar Gonçalves, ardoroso seguidor do Internacional.
Reto em suas ações e nunca faltava aos compromissos assumidos perante aqueles que lhe diziam respeito, mesmo sendo os imberbes estudantes e as mocinhas colegiais que lhe dedicavam total confiança, inclusive vindo, também, dos familiares dos mesmos.
Na comunidade era respeitado e quando as cooperativas locais, os bancos, o comércio e mesmo outros setores que precisavam de uma informação a respeito de um estudante para o trabalho, lá estava o seu RÊMOLO com sua indicação segura e dificilmente errava no seu veredito. Muitos cidadãos de ambos os sexos, ao lerem esta crônica, relembrarão que, da palavra dele, saiu a recomendação para o seu encaminhamento no setor profissional.
RÊMOLO não se aposentou, já disse, e a morte veio ceifá-lo quando estava a espera da finalização docente, porque não!
Seu velório aconteceu na biblioteca do Colégio Estadual Santa Vitória do Palmar, local onde atuou honradamente por tanto tempo.
Seu destino final emocionou os presentes porque quando o caixão estava por ser fechado, os colegas, familiares e amigos se postaram em volta dele e como no meio onde estavam, por força da profissão, existiam muitos com o dom da palavra, esperou-se que um discurso comovente saísse do coração de algum deles, mas a emoção foi tanta que nenhum falou...
E para completar tão triste momento, ao retirarmos seu corpo dentro do féretro, do Colégio Estadual, a sirene da escola soou marcando um final de trajetória daquele que soube merecer a distinção de seus pares. Acionar a campainha foi um fato que sempre praticou avisando aos alunos para o início ou fim das aulas.
Todos perdemos, mas ainda, da tristeza que se nos abateu, ficou o consolo de que aquele individuo, dignificou a sua terra e merecidamente recebeu, naquele instante, o título que lhe faltava conseguir, o de um trabalhador que mesmo não freqüentando os bancos escolares na juventude, tornou-se, unicamente por seus próprios méritos, um educador. Grande seu Rêmolo.
Orgulhamo-nos todos, quando vemos na frente da escola que tanto amou, a placa que simboliza o diploma conseguido com honra e dignidade —— REMÔLO FONTES – UM EDUCADOR.

 

Seu Rêmolo (3° da direita) no auditório do Colégio Estadual acompanhado pelos amigos e colegas, Homero, Élbio e Jamil (Foto do autor).
 
Visão da frente do Colégio Estadual vendo-se a pedra onde encontra-se a placa homenageando ao seu Rêmolo.
Placa com os dizeres “Rêmolo Fontes” - Um Educador.” As duas últimas fotos pertencem ao acervo do Jornal LIBERAL.

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br