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ATANAGILDO SETEMBRINO BONFIM – UM DESBRAVADOR DE NOSSO INTERIOR

Existem pessoas que passam por essas paragens do sul, ficam um tempo e depois, partem, sem deixar nada que os identifique. Outros que, nascidos aqui, pouco representam para a comunidade e muitas vezes, partindo de seu torrão natal para estudar ou trabalhar, falam tão mal de sua terra e da gente, que nada aportam para todos. No entanto, por estes lados, vão chegando indivíduos que recorrem grandes áreas geográficas e muitas populações, no afã de conhecer coisas a ao virem por estes lados, nunca mais sairam daqui. Estão mimetizados com nossa vida, famílias e em especial, com a maneira de ser dos mergulhões.
Este é o caso do são-borgense, ATANAGILDO SETEMBRINO BONFIM, que fugiu de casa aos oito anos de idade e se internou na Argentina, passando o rio Uruguai e depois, voltando para o Brasil, começou uma epopéia de existência, fazendo de tudo para poder subsistir. A sua última aventura foi seguir desde Santiago num Parque de Cavalinhos, como se dizia antigamente e que tinha o nome pomposo de Parque Oriente, em direção à Bagé, Pelotas, Arroio Grande e Jaguarão, via terrestre, para depois daí, seguir no “vapor” Rio Grande até a nossa cidade de Santa Vitória do Palmar.
Este grupo de diversão, tão em moda e requisitado na época, se instalou na rua gal. Osório, quase na esquina onde é conhecida por Selo e depois, o Calçadão.
Ai, Astanagildo Setembrino Bonfim, trabalhou por seis meses, período em que o grupo esteve na terrinha, em 1945. Fez muito dentro do estabelecimento, como “peludo”, cuidador dos animais, como uma dupla de cachorros que jogavam futebol, com uma bola presa em um arame e também, representava com galã, no teatro.
Recordo que uma noite, os cachorros foram fardados com as camisetas do Rio Branco e do Vitoriense e o resultado foi favorável para este último, com a mágoa dos tricolores, tendo que agüentar a “flauta” dos verde-negros.
Depois de uma estada no local, o Parque Oriente partiu em direção ao seu destino, aliás, como o de todos os parques e circos, nunca mais voltando para divertir a população da fronteira sul.
Atanagildo ficou e como tinha grande aptidão manual e fazia todo tipo de serviço, começou a nova faina de sapateiro, para concomitantemente, ser motorista de táxi, os famosos “chouffers de carro de praça”, em sociedade com Tito Rodrigues, conhecido por Canha. Nesse trabalho incetou viagens para o interior do município, principalmente com um horário fixo, grande avanço para o momento, isto é, as quintas feiras e saia bem cedo para chegar a Curral Alto, na casa Anselmi, no fim da tarde, quando o tempo e os caminhos permitiam, mais muitas vezes, finalizando no outro dia.
Incentivado e mais do que isso, ajudado pelos moradores do interior, foi buscar em Porto Alegre seu primeiro pequeno micro-ônibus, marca Studebaker e ai deu início a uma empresa interiorana que chamou-se Expresso Bonfim e depois, o Flecha do Sul, também fazendo recorridos para os lados do Arroito. O primeiro coletivo possuía o apelido jocoso BALANÇA MAIS NÃO CÁI. Nome de um programa de rádio do Rio de Janeiro.
Quando em 1953 foi construido o “DIQUE” do banhado do Taim, a linha, que tinha ponto final em nossa zona nordeste da região, começou a tranpor o difícil passo e foi culmina-la em Pelotas.
Corria o ano de 1950 tendo começo o transporte de ônibus de nossa gente “dentro do interior”, como se dizia então, e que foi até 1963, quando a firma Potim e Irmãos conseguiu a concessão da rota, com a estrada bem melhor, embora, ainda de grandes dificuldades de trânsito e recebendo por isso, o nome de BR – 471 – a Estrada do Inferno.
Astanagildo, finda a empresa de transporte, começa a servir a comunidade com uma bem montada oficina na avenida Justino Amonte Anacker, quase em frente ao Genaro Morroni, passando depois, para serralheiro e finalmente chegando à merecida aposentadoria.
Logo de sua chegada enamorou-se da mocinha Lucila Calixto e casou-se, para viver com ela, por toda sua vida, entre nós. Fernando Bonfim é seu filho, pessoa atuante em nosso meio e também, vivendo na área comercial, como o seu genitor.
Como outra paixão, além do seu trabalho e das correrias pelo município de estradas barrentas, Atanagildo, é um ardoroso torcedor do G. E. Brasil, chagando a ser presidente e em sua gestão, com abertura da avenida onde mora, com as sobras de areia e argila, transformou o estádio Cardeal, do rubro-verde, de um banhadal, em pista para jogar-se o futebol de qualidade, que entre nós se praticava.
Lembra com saudades as apopéias acontecidas em sua linha de ônibus e destaca o fato de muitas vezes ser “atacado” por moradores do caminho para receber informações e notícias da cidade e a mais constante era que eles queriam saber o resultado das carreiras de cavalos e do futebol. Conta o sr. Derli Alves da Silva, morador nos “fundos de Curral Alto” que seu pai, quando o relógio da casa estava parado ou muito atrasado, mandava os guris para pedirem ao “seu Atanagildo”, a hora certa que vinha do “Povo”.
ATANAGILDO SETEMBRINO BONFIM, que leva o nome intermediário por haver nascido no dia 7 de setembro, dia da Pátria, transformou-se num verdadeiro filho desta terra a ao ser-lhe perguntado em que ponto mais gosta daqui, ele emocionou-se e chegou às lágrimas. Lições de vida desse grande cidadão que saiu das margens do rio Uruguai para afincar-se nesta planície verdoenga, entre o Atlântico e a Mirim, serpenteada de palmeiras, território este em que pastam enormes rebanhos e cresce a riqueza deste torrão, o arroz.
Este homem ama a localidade que lhe deu abrigo e nas suas emotivas palavras, lhe guardará os restos e nós estamos, recompensados, por convivermos com tão insigne figura, radicada na terra dos 150 anos, que muitas vezes recorreu no seu “Balança mais não cái”


Os dois primeiros coletivos que passaram pelo "dique" do Taim ainda em construção.
Ônibus da Empresa Bonfim, atravessando o local em obras.
A família de Atanagildo Bonfim, vendo-se da esquerda para a direita, sua esposa, sua nora, filho e ele.
Primeira oficina de Atanagildo na rua Justino A. Anacker.
Propaganda do Expresso Bonfim.
Tabela e horários da empresa Flecha do Sul.
Reunião da turma do G. E. Brasil, num 7 de setembro, aniversário do homenagiado.
Atanagildo com sua primeira caminhonete.

 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br