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O Último Impulso na Navegação Nacional e Internacional.

Os Vapores Laguna Merin e Rio Grande

Qualquer pessoa de mais de sessenta anos, ao ler esta crônica, sentirá saudades das viagens pela Mirim, rumo ao Uruguai e centro do Brasil.
Dois grandes buques de passageiros transformavam a penosa viagem de tantos dias e mais do que isso, grandes sacrifícios e perigos, num momento da vida desta comunidade, em que o deslocamento constante, começava a ser uma necessidade, porque não poderíamos mais abdicar de estarmos em contato com o resto da civilização.
O navio Laguna Merin era uma pequena embarcação que, construída peça por peça na Alemanha, em 1911, veio para Montevidéu e lá foi sendo armada e transformada para as águas interiores de nossa lagoa e que agora, devido ao Tratado de Petrópolis, o país irmão tinha acesso ao mar, via canal do Rio Grande e possuía uma parte dela. Veio para o porto de Charqueadas e daí, começou sua vida profícua, até os estertores da década de 40, quando a melhoria das estradas de ferro e a nova política das vias rodoviárias, deixaram-no sem serventia por velho, desatualizado, sendo restrito à esta parte do território. Estes dados estão no excelente livro dos moradores da vila 18 de Julho, ao pé de cerro de São Miguel, jornalista Alcides Romero, químico Aécio Fernandez e do músico e poeta, Julio “Pico” Decuadra e que denominaram São Miguel- Ita Purejei Tava (A pedra e o povo que canta) de obrigatória leitura para todos aqueles que desejam conhecer uma parte desta zona.
O vapor oriental aportava nas águas daquele país e também na Enseada das Capinchas, futuro porto daqui, quando tinha passageiros para a capital vizinha.
Os mesmos iam até Cebollati e de lá, em automóveis, chegavam à 33, grande polo rodoviário e nos velhos trens, deslocavam-se para o sul, quando também, atravessando o estuário do Prata, poderiam rumar para Buenos Aires.
Já o vapor Rio Grande, construído em Uruguaiana, para servir a navegação do Rio que banha aquela cidade, foi o maior navio de carga e passageiros que navegou na Mirim, Jaguarão e no São Gonçalo. Foi comprado da firma Bárbara e Filhos pelo Lloyd Brasileiro e possuía, além de um pequeno calado, para o seu tamanho, pás laterais que lhe davam mais segurança, velocidade e também, grande número de camarotes, dotados das mais modernas conquistas, como isolamento acústico, individualidade, ventiladores e além disso, poderia transportar cargas em grande tonelagem, e servia de lazer e entretenimento aos viajantes, com um enorme salão refeitório, que era ao mesmo tempo, de festas e saraus. Possuía um ótimo piano, com pianista efetivo a bordo e que também usado pelos navegantes com dotes artísticos que desenvolviam suas potencialidades.
Sua envergadura era de 45,15 mts. de comprimento e viajava numa velocidade de 14 e meio de milhas por hora. Era fantástico para o momento. Paradas obrigatórias nas cidades do sul?
Foi contato seguro para nossa comunidade, desde o ano de 1916 até 1950, quando já velho e com a abertura da Br-471, na passagem dos diques do Taim, tornou-se obsoleto, principalmente pela vagarosidade em chegar ao destino.
Terminou seus dias de glória e útil serviço, em prol de nossa gente, transformado em uma barcaça que carregava pedras nas águas de São Gonçalo, nas proximidades da vila de Santa Izabel, comprado pela firma Matarazzo que possuía pedreiras em Arroio Grande e delas industrializava o cimento. Isto hoje, está completamente desativado e a empresa paulista, não mais funciona por aqui, como tantas outras que se foram da Metade Sul. Que pena!
Foi prometido outro navio, o Vitória dos Palmares e que já comentamos neste espaço.
O vapor não veio, mas a lembrança da Laguna Merin e do Rio Grande, ainda estão vivos, como a recordação grata ao deputado federal Fernando Ferrari, que lutou por dotar nossa terra desse enorme recurso.

 

Navio Laguna Mirim fundeado no Arroio São Miguel, junto a ponte do mesmo nome.(do livro São Miguel).

 

Vapor Rio Grande, na enseada da Capivara ou Capinchas, mostrando em lateral, as pás que o tornavam com aqueles similares do Mississipi e Amazonas. Do acervo de Rubens Carrasco

 

Pergunta da Semana: O que era a Barra Preta?Porque lavava esse nome e onde se localizava?

 


Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br