A VIDA BOÊMIA NO HERMENEGILDO
Clube Recreio dos Veranistas no momento de um fim de baile
Em
tempos passados os clubes recreativos eram centros de grande
importância para a sociedade, principalmente nas cidades
pequenas do interior, vilas, balneários e tantos
outros locais onde a gente vivia aglomerada.
No Hermenegildo não poderia ser diferente e tanto
esse fato era de grande relevância que sucessivos
clubes foram edificados, através dos tempos, mais
modernos, espaçosos e chegando ao ponto que nessa
“Estação de Banhos”, existiram
dois ao mesmo tempo – o do Carrasco nas imediações
do hoje, largo Paulo Guerra e o outro, Venceslau Rocha,
onde agora é a praça Nelson Vasques Rodrigues,
sem falar no início de tudo que estou contando, que
foi talvez, com o nome de Clube Esperança, que ficava
em frente, onde está no momento a residência
do saudoso Lindico Saraiva, à beira do riacho da
Juraci e que nada mais era que uma cobertura de palha sem
paredes e que tive oportunidade de narrar em outra crônica.
Na realidade, o próprio social que mais teve impacto
na vida do pequeno povoado debruçado no oceano, foi
o Clube Recreio dos Veranistas, cercado do lado sul, por
uma grande área de areia e no outro, por uma cobertura
de gramínea, conhecida por “Campinho”
onde os esportes ali eram praticados quando o tempo não
permitia estar no mar. Também, moças e rapazes
em tempos de grande calor, pela tarde, se encontravam juntos
com uma gurizada terrível que circundava a sociedade
referida.
Em 1951 o prédio do clube deixou de possuir cobertura
de palha, janelas sem vidros, pequena comodidade, para transformar-se
num cômodo de cobertura com telha “Dolmenit”,
pois vinha do Uruguai, ventanas envidraçadas, bar
confortável, peças separadas do corpo central
para facilitar as reuniões de jogos de carta e uma
moderna conquista: os banheiros masculinos e femininos,
já que o anterior não os possuía e
para tais necessidades, deveriam contar com a complacência
da vizinhança ou então nos combros.
No ano de 1953, sendo rainha adulta e mocinha Santa Jair,
filha de Olívio Silva e Dona Marcela, houve um grande
baile que era realizado na data da fundação
da entidade, 24 de fevereiro de 1924 ou no sábado
mais próximo.
Contou esta festa com as grandes novidades já apontadas,
mais ainda, iluminação elétrica, graças
a um gerador que fornecia a luz, mais geladeira, deixando
de serem colocadas as bebidas num poço feito na areia
dentro do bar, cobertas com água da cacimba.
Foi um encantamento lotando as dependências do clube,
pois junto com a gente festeira da praia vinham bailarinos
das Maravilhas, Barra do Chuí, Chuí e arredores
e os costumeiros veranistas os forasteiros de “Fora
das Areias”, gente que sempre estava abrilhantando
as festas, principalmente dos fins de semana, quando atravessando
os alterosos areais, chegavam famílias muito grandes
que se postavam dentro do salão ou na copa para a
salutar diversão, mesmo que as vezes, algumas brigas
assustadoras acontecessem, principalmente no fim das noites
agitadas.
E aconteceu num final de baile que a máquina atenta
do fotógrafo popular que era o Vitório Giudice,
amigo de todos, mas que em determinado momento possuía
o dom de esquecer o filme, fato que até hoje pertence
ao folclore local. Grande Vitório! Focalizou a boêmia
de presentes que deixavam-se ficar até o dia chegar
com brincadeiras etílicas ou mesmo ouvindo música
que um dos componentes da orquestra do Darci Blotta ficava
executando no seu sax, de uma maneira que agradava a todos.
Era o Caxias, filho do Carmelito, que veio de Jaguarão
e por aqui esteve por muito tempo com sua arte no mesmo
instrumento e dirigindo uma grande orquestra.
O local da fotografia era a copa do clube, na parte oeste
onde atualmente passa a rua da Saudade, em frente ao Carrasco.
Reparem a atenção daqueles moços deliciando-se
com a divina arte do Caxias transformando os sons do saxofone
nas belezas melódicas que naquele tempo se escutavam.
Fim de noite! Momento mágico onde as mocinhas iam
dormir um lindo sono povoado de encantos pelos momentos
que passaram no Baile da Rainha do Clube do Hermenegildo,
em 1953.
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