SANTA VITÓRIA DO
PALMAR VAI À GUERRA
OS MEDOS DO CONFLITO – O BLACK-OUT
"marcha soldado cabeça
de papel,
se não marchas direito vais preso
pro quartel" (cantiga popular)
Nosso município, pela sua posição
estratégica, durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945)
foi importantemente visitada no trânsito de agentes
da espionagem e da inteligência militar.
A Argentina, com a ditadura de Perón, era simpatizante
inicialmente aos nazistas e o Uruguai, como neutro, favoreciam
essas ações, ligando-se à colônia
alemã do centro do estado.
A costa brasileira desabitada, era atraente para que as
incursões inimigas se fizessem sentir, tanto por
terra e pelos mortais submarinos, sem falar na aviação
do Eixo e que era ponto de cuidados para uma hipotética
invasão inimiga. Tudo na imaginação
coletiva!
Como todo o Brasil, esta gente do sul estava apreensiva
pelo desenrrolar da luta e os governantes nacionais eram
rigorosos nos cuidados pela nossa soberania. No momento,
estávamos sob uma terrível ditadura e interessante
se fazia, que todos os cidadãos estivessem ligados
ao governo e assim esqueciam, por um momento, a falta de
democracia.
Quanto mais era o medo de ataques a nosso território,
mais forte se tornavam os laços entre governo do
povo, numa euforia patriótica, com a exposição
de fotos dos horrores acontecidos no Velho Mundo e mais,
a exaltação de nossas autoridades e a cantoria
de hinos cívicos, a moda das ditaduras que graçavam
no mundo, como por exemplo, o mais popular deles que dizia...
“nós somos da Pátria Amada, fiéis
soldados”.... Estava plantada uma histeria coletiva
e que ironia, “combatíamos o fascismo e nazismo
no outro lado do mar e por aqui, havia um rigor e a ausência
de liberdades”.
Relembro quando declaramos guerra ao Eixo, nosso litoral
passou a ser alvo de grandes cuidados e nesse momento surge,
por ordem policial, que deveria ser feito o BLACK OUT, nada
mais que, durante a noite, as pessoas observassem estremas
medidas de segurança, principalmente no litoral e
evitar o trânsito de automóveis com faróis
acessos, lanternas individuais e mais que isso, chegando
ao cúmulo, da pilícia local, controlar as
residências para que não fizessem fogueiras,
colocassem luzes internas à beira das portas e janelas
e mais, uma grande pantomima, como panos pretos servindo
de anteparo onde pudesse haver uma saida de iluminação.
Era o caos e o terror noturno, principalmente na mente da
gurizada de então.
Fato curioso aconteceu numa determinada ocasião,
mais ou menos pelas 15 horas, numa tarde tormantosa, quando
começamos sentir um ruido de motor de avião
que vinha do lado do mar. Seria o ataque fulminante das
forças de Hitler? O ato simples, mas aterrador, provocado
por um pequeno aeroplano que patrulava as águas marítimas,
trouxe um pânico entre todos. Imaginem! De que porta-aviões
se deslocariam tão ferozes armas?
Os noticiosos das rádios do outro lado da fronteira
e de nossos Pilots, Zenniths, American Boch e tantos outros,
alimentados pelas baterias e os carregadores, deixáva-nos
em contato com o horrendo conflito e até hoje, ouve-se
dos mais velhos a expressão, “vou pegar no
rádio, o Repórter ESSO”, da Farroupilha,
Gaúcha, Carve, Rural e tantas outras emissoras de
então.
Para angustiar ainda mais os nossos munícipes, um
grupo de soldados recém ingressados no exército,
como o Joaquim Américo Torino e o mergulhãozinho
de Curral Alto, Rubens Pedro Dias de Oliveira, foram destacados
para defender o porto de Rio Grande, o primeiro na 5ª
Secção da Barra e o segundo, no balneário
do Cassino. Outros profissionais das armas ou mesmo alguns
que estavam entrando na caserna, foram para os campos da
Itália e lá servir de alvo ás forças
bem treinadas dos alemães e italianos, mas, também,
mostrarem a bravura dessa gente dos Campos Neutrais.
Felismente o grupo comandado pelo capitão Nestor
Corbiniano de Andrade, do sub-tenente Hipólito Viana
e dos sargentos Armando Silveira e José M. Teixeira,
atuaram na península itálica e todos voltaram
aos seus pagos, mas, mais de duzentos brasileiros, deixaram
seus rastos por lá e foram descansar no cemitério
de Pistóia e depois, transladados para o Panteão
do Flamengo em plena baia da Guanabara.
Aqui, os jornais fizeram uma justa homenagem aos “pracinhas”,
com a colocação de suas fotos estampadas para
o nosso orgulho e posteriormente, na praça Gal. Andréa,
foi construido um monumento com uma placa nominando os heróis
desta terra que se orgulha deles, esperando que nunca mais
tenhamos que participar de atos bélicos tão
indígnos e injustos.
Os nossos 150 anos, sempre deverão ser iluminados
com seus exemplos para um futuro grande de paz.
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Quadro
colocado a exposição trazendo as fotos
de nossos conterrâneos |
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Monumento
na praça Gal. Andréa destacando a honrosa
atuação de nossos patrícios |
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