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NO TEMPO E NO ESPAÇO
“OS TERCEIRO” DO RIO BRANCO

Corria o ano de 1948 na cidadezinha do Rincão sulino. O futebol era a grande coqueluche da comunidade e por isso não existia “um domingo chato”, já que a população voltava-se para esse esporte, mais as carreiras e o matinê de tarde e cinema ao começar a noite. Jogar o esporte bretão sempre foi a motivação maior da gurizada desde o fim do século XIX, quando sua pratica foi introduzida entre nós, os brasileiros, por Charles Muller, que vindo da Inglaterra, de onde sua família era oriunda trazendo a primeira bola de couro. Estava feito o desenvolvimento do maior jogo do mundo, sendo espalhado pelos campinhos vizinhos do Uruguai.
Hoje vemos essa atividade definhando, primeiro, quando recebeu um impacto das duas grandes agremiações esportivas, o Grêmio e o Internacional, de Porto Alegre e na década de 60, o radinho japonês a pilha e logo a seguir, a televisão. O Interior voltou-se para a capital e quase ninguém separa do seu domingo e campeonato brasileiro e os nossos campos ficaram às moscas, servindo apenas para a periferia da cidade. Nossas tradicionais equipes futebolísticas, como o Vitoriense, o mais antigo, seguido do Rio Branco, o de maior numero de campeonatos e finalmente o Santa Cruz e Brasil, os mais jovens, nada mais representam no ideário dos torcedores daqui.
Os tempos mudaram, mas as tradições e lembranças de décadas passadas ainda emocionam os corações dos mais antigos e é para eles, que hoje é trazido este momento desportivo, diversão e rivalidade, a procura de glórias que o mais fanático torcedor, muitas vezes, não sabe explicar o porquê de tanta devoção e fidelidade clubística.
Retrato a emoção dos confrontos nos nossos estádios, mas vêem a lembrança de uma categoria de jogadores que vestiram a gloriosa camiseta tricolor, verde, amarela e encarnada, como se dizia antigamente e por possuírem pouca idade, de 12 e quinze anos, faziam parte do “time” do terceiro Quadro.
Até hoje existe uma maneira local de referir-se às categorias dos clubes, quando se diz que: eu vou jogar “nos primeiro”, segundo e não dito “Terceiro”, sempre no singular, como querendo ligá-lo ao grupo e não ao indivíduo. É uma curiosidade no linguajar de nossa gente que faz da língua uma forma de se manifestar e, mais ainda, afirma-se no regionalismo que sucede a tantas localidades.
“Os Terceiro” do Rio Branco foi formado por uma figura carismática que pertencendo à Brigada Militar nesse período, veio desde Jaguarão realizar suas funções de soldado e daqui nunca mais saiu. Trata-se do soldado Olgaides Dutra que ainda, relativamente jovem, por força de uma enfermidade tão comum na época, foi aposentado e já que havia casado com uma moça conterrânea, acercou-se às hostes tricolores e passou a residir em baixo do pavilhão de madeira, fato muito comum, inclusive no verde-negro, e com sua família ficou prestando serviço ao clube onde ele jogara e que agora lhe dava uma mão.
Como era um homem de bem, cordial e de uma psicologia nata, arrengimentou um grupo de garotos e com eles formou o seu querido e imbatível “Os Terceiro”.O tempo já foi consignado nesta crônica e agora justifica-se o espaço para o desenvolvimento de tão poderoso time mirim.
A zona do Demetro, que centralizava a molecada, onde hoje esta a rua Neyta Ramos e cortada pela Andradas, limitando-se ao sul com o riacho que corta a cidade e tendo ao norte os campos da Maria José, onde estava encravada a desejada aguada do mesmo nome e mais a curva dos Patellas e nesse espaço, tendo como centro de irradiação a “venda do Demetro Maragalhoni”, eram feitas as grande “peladas com bola de pano, de goma e as cobiçadas de couro, primeiro com a número três e o ápice, com a de pneumático (pelomática) e tentos pra fecha-la e que tanta dor dava quando era cabeceada
Essa área estava ligada com o campo rio-branguista que se localizava na subida da Coxilha e de onde também, jogavam “Crakes” da bola e na disciplina, vigor e técnica, “Os Terceiro” do Rio Branco, que foi formando a turma e tornou-se a base daquele clube que tanto orgulhou gerações.
Quando chega a era de 1950, esses meninos, praticamente todos, envergaram a camiseta dessa agremiação da zona do cemitério e passaram a ser os grandes jogadores que viriam a participar com muito orgulho no quadro “Dos Primeiro”.
Cito com saudade de aficionado a essa entidade e reconhecimento ao esporte que deram junto com valores de outras cores da cidade, o arqueiro Edson, o poeta, o Alvin, que ao terminar 48 mudou-se para o centro do Estado, e o popularíssimo Cassino, um dos maiores Zagueiros que nossos gramados viram correr. Os “Alfes”, Faustino, o Dico, voluntarioso e vibrante lateral direito, Socialino, o Soci, de centro-médio, filho de um jogador conterrâneo do mesmo nome que, segundo os esportistas da época, teria inventado a jogada que caracterizou Leônidas da Silva, a “bicicleta” muito antes deste tê-lo feito, e o Oldemar Camejo lateral esquerdo, misto de jogador, cantor e poeta. Na ponta direita, um dos bailarinos desse quadro, o Edson Machado, o Durinho, de uma finesa incomparável e de uma técnica elegante, daí o apelido; Valnai Marasco, o meia raçudo, o artilheiro, apesar de sua pequena estatura; como centro-avante o Holmis, irmão do lateral esquerdo, alto, espadaúdo, clássico e fogoso, que era o terror dos arqueiros; Osvaldinho Martino, pequenino, driblador, cerebral e o grande ídolo e respeitado Mario Maragalhoni, incomparável, saído com a categoria dos Calvetes que tantos jogadores deram em nosso campos, inclusive o Calvet, do grande Santos de Pelé. Completando vemos o “Negrinho” Martelo que era o xodó da turma, por sua camaradagem com todos.
Essa foi “Os terceiro” do Rio Branco, nascido na baixada do riacho e nos altos da Coxilha, empolgando as multidões sob a batuta do sereno, responsável e amigo “Cabo Dutra”.

 

Foto do acervo do Jornalista Faustino Valdi Munhoz, o Dico, que compunha essa equipe e que vai apresentada conforme a ordem de posição.
De pé: Osvaldinho, Valnai, Sociolino, Holmis, Mario e Martelo
2ª. Fila – Alvim, Dico e Oldemar.
3ª. Fila – Edson Machado (Durinho), Edson (o Poeta) e Gaudência (o Cassino).

 

Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br