EDUCANDÁRIO AUGUSTO
ÁLVARO DE CARVALHO
A Escola Municipal 34 – O Colégio do Hermenegildo
Nas primeiras letras o impulso do coração
O
balneário do Hermenegildo era, no início da
década de 1950, um pequeno agrupamento de ranchos
que se estendiam por dois Km na beira da costa devido ao
areal que dificultava a ocupação humana.
Os primeiros moradores foram ocupando à beira dos
riachos, os campestres, para desfrutar da água e
da verdura que facilitava a distancia da terrível
areia que ao sabor dos ventos, movia-se , inclusive soterrando
as casas, fato visto de um verão para o outro, sendo
necessário usar pás para fazer a ocupação
de seus interiores.
Uma pequena entrada para longe do mar foi ocupada quando
os primeiros moradores em fins do século XIX, acamparam
e daí começa a saga dessa localidade ao lado
do riacho da Dª. Juraci.
Os clubes que se sucederam nesse ponto foram o centro de
referência, como o Wenceslau Rocha e depois, o Clube
Recreio dos Veranistas. Neles, a pequena comunidade fazia
ponto de parada para passar os dias, principalmente, quando
os rigores dos ventos e chuvas transformavam as habitações
diminutas num amontoado de pessoas.
Na administração operosa de João de
Oliveira Rodrigues e Ibhrain Boabaid, em 1953, foi instalado
na capela do Hermenegildo o colégio pioneiro conhecido
por Escola 34, que hoje, tem como patrono, Augusto Álvaro
de Carvalho, rio-grandino, militar, que em nosso município
foi destacado, inclusive sendo primeiro prefeito na era
republicana.
A igrejinha que estava localizada na linha da costa e devido
aos rigores do clima, sem falar na maré destruidora
que terminou levando-a ao derrubamento, serviu por alguns
anos, para que os poucos estudantes começassem a
sua vida escolar e dessem os primeiros arranques no ato
do saber.
Posteriormente, pelas dificuldades do prédio religioso,
o ponto de ensino foi transferido para um rancho grande
ao lado que ficou conhecido, primeiro pelo Rancho da dona
Clotilde, depois, do Crespo, do Varinho, e finalmente quando
o Clube Recreio dos Veranistas, transformou-se num moderno
prédio de madeira macheada e telhado de Brasilit,
conhecido por Dolmenit, devido a origem uruguaia e com forro,
o modelar e diminuto colégio foi desativado e seus
poucos alunos transferidos para a localidade de João
Gomes, na Escola Estadual Dr. Osvaldo Anselmi.
Nos anos 80, no governo de Hugo Guimarães Soares
voltou a funcionar na praia do Hermenegildo com modernas
instalações para o desenvolvimento do estudo.
As primeiras professoras no ano heróico de 1953 foram
a mestra Elinha Cabreira Naparo e outra, da família
Cruz, sobrinha do Galego Cruz, que possuía uma “venda”
na Barra do Chuí e mais tarde, em 1956, quando Ademar
Pereira estava construindo o hotel do João da Aldara,
foi a sua esposa, Ilda Ramona Rodrigues Pereira, que o acompanhava
naquelas regiões bonitas, mas de uma solidão
total, que dirigiu a parte docente do mesmo.
A mestra Elinha foi a que transmudou-se com sua diminuta
turma para o clube até o seu fechamento.
Mas, o que a Escola 34, tem a ver com o título desta
crônica?
Nas primeiras letras o impulso do Coração
A Elinha era, além de educadora, a companheira de
todas as manhãs daqueles pequeninos e esperançados
alunos e mais do que isso, a preceptora dos mesmos, cuidando
da higiene que era feita nas águas do riacho, principalmente
aos sábados, dia de cortar as unhas, cabelos, cuidar
da aparência daqueles que chegavam atravessando as
areias, desde os campos limítrofes, a oeste e que
eram popularmente conhecidos como “os de fora das
areias” vindos quase sempre a pé, numa distância
de mais de cinco ou seis Kms, para desenvolver o anseio
de estudar.
Aqui é que está a razão do título
apontado:
As meninas saiam de suas casas nos distantes campos que
margeiam a estrada que leva à nossa cidade, às
7 horas e os meninos, 30 minutos depois.
A dirigente, preocupada com a caminhada das mocinhas que
começavam a trajetória ainda não clareando
o dia, propôs que fosse feita a saída no sentido
inverso, porque os rapazinhos, começariam a caminhada
com noite escura ainda.
Essa atitude provocou uma comoção nas famílias
dos alunos “de fora das areias”, o que fez com
que as mães das estudantes chegassem até ao
Prefeito Municipal para fazer sentir suas preocupações.
Depois de um contato das autoridades educacionais citadinas
e entre a educadora e os pais dos alunos, ficou esclarecido
o motivo de tão “profunda apreensão”
e que foi o seguinte:
“a turma das moças passava entre os combros,
por dentro do riacho que saia das areias e depois vinham
os guris. Com a modificação de dona Elinha
que tinha por finalidade resguardar a integridade feminina,
os jovens andariam sempre primeiro e como já estavam
aprendendo a escrever, aproveitando as camadas pretas da
turfa que encontravam no solo cobertas com uma camada fina
e branca como um lençol de poeira, facilitava o fato
para que a turma dos meninos apaixonados deixassem escrito
ali, diminutas mensagens de carinho e amor.”
Talvez fossem somente poucas letras conhecidas com expressões
que ainda vemos riscadas nas classes escolares, árvores
ou muros dizendo, na sua profunda simplicidade.....”meu
amor....” fulana, eu te amo ou ainda .......... meu
amor.....
Cousas de um tempo que não volta mais!
Mas a escola ai está, pujante e como um marco de
saber tendo como apoio na Casa do Livro, que leva o nome
da professora Elinha.
A capelinha à beira-mar e o rancho da dona Clotilde,
ruiram no desastre de 1958 e já não atestam
esse passado, mas a moça da família Cruz da
Barra do Chuí e a veneranda e querida Ilda Ramona
que está conosco, mais a professora Elinha, fizeram
a história do ensino e da educação
nos terrenos arenosos de balneário e ainda os alunos,
como a turma do Caetano Viana, o Chico e o Jesus, do Cododácio,
a gente do Tertuliano, o Luis, do Pedro Terra, o lembrado
Pedro Naris e alguns mais, que ai estão para confirmar
este lindo conto quando as primeiras letras serviram para
expressar carinho e amor entre os jovens.
“sicrana.....eu te amo..... fulana....meu amor”......
palavras que o vento apagou entre dunas altas que dificultavam
a passagem, mas que para nós, que sempre vamos recordar,
desde os campos de nossa Terra até as margens do
riacho onde estava a Escolinha 34, marco de uma florescente
sede de saber e amor....
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