UMA FAMÍLIA DE BELÉM
DO PARÁ EM TERRAS SANTA-VITORIENSES
O ESPIRITISMO
Corria o ano de 1933 quando Maurício dos Santos
saiu da capital do Pará, sentindo na carne as agruras
de perseguições políticas que tanto
prejudicaram a vida cotidiana de cidadãos, por terem
uma linha ideológica contrária aos donos do
poder no momento e chegou com sua família neste ponto
extremo do Rio Grande do Sul.
Depois de navegar no ITA (navio que fazia a linha para os
diversos pontos da costa brasileira e no interior) chegou
até Porto Alegre, com uma breve estada no Rio de
Janeiro. Depois singrou as águas sulinas da laguna
dos Patos, canal de São Gonçalo e terminou
a sua epopéia no atracadouro do Escorrega, na enseada
das Capivaras ou Capinxas, e desembarcou com sua gente assustada,
numa terra plana e chã que viria, depois, a servir-lhe
de local de descanso eterno.
Assisti ao sol morrer placidamente em terras orientais cercado
por palmeiras diferentes daquelas que embelezavam o norte
do país, no rio Pará.
Maurício dos Santos trouxe consigo a sua esposa Olímpia
Cardoso dos Santos e os filhos, Maris Barros, Expedito,
Maguarina, Raimundo e Apolônia passando a residir
por estes lados e exercer a sua função na,
hoje, Receita Federal.
Esta gente ficou eternizada entre os membros desta gleba
e desenvolveram as atividades por largo tempo entre nós.
Maris Barros, Expedito e Apolônia partiram de nossa
cidade e os demais ficaram.
Olímpia Cardoso dos Santos trazia do setentrião
um apelido muito comum na língua negra que era Da.
Yayá, que significa senhorinha, dona da casa de branco
e mais carinhosamente, aquela que sempre estava admirada
por todos.
Com a morte de seu esposo, esta senhora com forte mistura
de sangue índio em suas veias, por aqui desenvolveu
o trabalho de manobrar a sua gente, fazendo-a pessoas de
bem e querida por todos até os dias de agora.
Foi tanta a sua adaptação, como dos demais,
que, a não ser por sua cor de pele escura-azeitonada,
diriam todos, que os mesmos eram oriundos dos primeiros
povoadores de nossa terra, não dando a imaginar que
haviam chegado de tão longe.
Mas, uma das partes mais interessantes, foi que esse casal
desenvolveu por aqui uma atuação religiosa
e que manteve um grande número de adeptos, que foi
a implantação da doutrina de Alan Kardec,
o Espiritismo.
Fazer prosperar essa fé era uma tarefa muito espinhosa
porque o meio em que vivíamos era fundamentalmente
do âmbito católico e a Igreja e seus padres
e freiras, dominavam a situação religiosa,
mas mesmo assim, com alguns companheiros que cito, como
Ilma Mazul, Elodina Plá (da. Potota) e posteriormente,
Emigdio Martino, foi caminhando na afirmação
desse credo que hoje está muito procurado em nossa
comunidade.
Como por estes lados a gente vivia em comunhão próxima
de todos, embora veladamente perseguidos, os espíritas
eram tolerados com suas prédicas e “sessões”
e muitas vezes, para solucionar dificuldades da alma, muitos
recorriam à da. Yayá e seus seguidores e havendo
de lembrar, quando a meninada estava “endiabrada,
arteira”, como era fim de recuperarmos a conduta,
costumeira.
Também, muita gente socorria-se desses trabalhos
para melhoria na saúde, negócios e inclusive,
nos famosos “mal de amores”.
Da. Yayá foi desenvolvendo a sua vida neste pagos
do sul e nunca mais voltou para as terras do norte, nem
seus filhos, mas adaptou-se ao “Ser Mergulhão”,
adorando nessas frutas silvestres, em especial o Butiá,
o Churrasco e o gosto maior, o Chimarrão.
Todos nós gostávamos dela e por sua vez, a
recíproca era verdadeira já que eles fomentaram
grandes amizades e com exceção de Apolônia,
formaram famílias com gente daqui que muito honraram
a terra que adotaram.
É certo que os coronéis, políticos
paraenses, não imaginaram que aquela virulência
autoritária ia fazer com que uma família do
Pará chegasse ao ponto sulino do Brasil e que se
transformasse em gente tão querida de todos, considerados,
novos conterrâneos.
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