A CHARQUEADA COMO REFERÊNCIA
DA CRIAÇÃO DA POVOAÇÃO DE ANDRÉA
São
controvertidas as hipóteses sobre o desenvolvimento
de nosso município em relação a produção
básica de nossa atividade econômica.
Culpa-se o fato de, desde a chegada dos primeiros brancos
nestas paragens, a pecuária e muito mais tarde, a
agricultura, foram as responsáveis por não
estarmos na vanguarda da riqueza e desenvolvimento como
se apresentam os municípios do lado norte do Estado.
Na realidade, o grande vilão dessa situação
não é o tipo de material manuseado e cuidado
para fazer progredir a zona, mas sim, a concentração
de renda nas mãos de poucos, motivada pela norma
fundiária que se perpetuou por quase duzentos anos,
a doação de grandes extensões de terras
aos fidalgos portugueses, militares aqui afincados e outros
amiguinhos das autoridades.
Estes desertos de gentes eram cenários propícios
para que um só indivíduo possuíssem
terras, as vezes, tão grandes quanto algumas comunidades
municipais recém florescentes. Os homens as comandavam
como pequenos reis, donos de tudo, cujas fortunas foram
sendo aumentadas quando as mudanças na vida comercial
passou a tomar um rumo de maior velocidade e mercados, em
especial no Uruguai, apareceram.
Durante o período dos Campos Neutrais e devido as
descobertas das minas no centro do país, a nossa
economia ficou conhecida por passageiros que demandavam
das férteis campinas da Cisplatina e de nossos ubérrimos
campos, como nada mais do que território onde se
preava o gado para levá-lo até a região
falada, mas a grande abundância dele foi terminando
e necessário aconteceu que surgissem os primeiros
povos onde começava a criação da vaca
e do cavalo, sendo que a ovelha chegou mais tarde. Eis a
origem da “Estância”, palavra oriunda
de Estada, ou seja, permanência.
A região onde hoje localiza-se a cidade de Santa
Vitória do Palmar estava dividida entre alguns sesmeiros
muitos conhecidos em nossa História, como Carvalho
Porto, José de Lemos e o centro deste trabalho, Joaquim
Gomes Campos, o Escorrega, apelido que levava este português,
por causa de uma rodada da montaria, fazendo com que uma
das pernas perdesse o movimento e para ativá-la devia
arrastá-la e por isso chegou-lhe o apodo.
Tendo a sede de sua estância, mais ou menos, no quadrilátero
onde hoje estão as ruas Neyta Ramos, Andradas, Deodoro
e Barão do Rio Branco, há 5 kms da Mirim,
esta posição deu-lhe um local estratégico
para a comunicação através dela com
as cidades brasileiras de Jaguarão, Pelotas e Rio
Grande, mais todo o leste Oriental.
Desfrutava o grande proprietário de uma avantajada
posição, porque os rios São Miguel,
São Luiz, Cebollati, Taquari e outros, davam-lhe
trafegabilidade para exportar seus produtos e posteriormente
desenvolver a mais remuneradora prática de troca
que era o contrabando a fixação militar para
resguardar as fronteiras conflitantes até meados
de 1850.
Este homem citado construiu um pequeno atracadouro no Pontal
das Capinchas ou Capivaras que também ficou conhecido
por Pontal do Escorrega, localizado a esquerda de nosso
porto de agora e ai, vislumbrando uma nova era de comércio,
construiu a beira da lagoa Mirim, uma grande charqueada,
antes da fundação da Povoação
de Andréa, já que este a encontrou quando
aqui esteve em 1852.
Nesse mesmo lugar, no início do século XX,
José Estrela, também organizou um estabelecimento
saladeiro, talvez aproveitando as bases do primeiro complexo.
São de admirar a portentosa feitura dos galpões
desse complexo que passou por várias mãos,
mas que mesmo com as grande enchentes das águas,
resistiram a fúria do tempo e mais, embora não
se saiba ao certo, restou ainda uma parte do material de
ferro que era conhecida por, “a Caldeira”, aliás,
vários componentes desse tipo.
Esse conjunto industrial foi recentemente retirado daquele
local onde esteve por largos anos, para ser recuperado e
servir ao museu municipal, Tancredo Fernandes de Mello.
Em nosso litoral lacustre da Mirim foram encontradas outras
evidências de que, mesmo em tempo longínquos
de nossa formação, social, política
e econômica, a industrialização já
se apresentava como uma parte da solução para
o engrandecimento de desenvolvimento das riqueza e potencialidades
destes extremos locais dos confins brasileiros.
A Charqueada de Joaquim Gomes Campos foi um marco no começo
de nossa existência produtiva e que suas ruínas
ainda estão lá para que possamos admirá-las,
lembrando um tempo áureo dos recursos Santa-Vitorienses,
mostrando que, se existem entraves para o nosso progresso,
os mesmos advém da concentração de
rendas nas mãos de poucos e não do determinismo
geográfico ou culpa dos produtos que por aqui vicejam,
como a vaca, ovelha e mesmo o arroz.
As riquezas nas mãos de poucos vão em detrimento
do desenvolvimento de todos.
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