Artur Vega
O Hotel Miramar e
o Grande Nadador antecipado ao seu tempo
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ARTUR VEJA,
quando moço (foto do acervo de sua neta Elaine
Nicoletti) |
No Hermenegildo, onde agora está o Mirante da Santa,
no largo Paulo Guerra (o Paulo da Paz), vemos além
da beleza do oceãno, algumas áreas que caracterizam
o litoral e que impropriamente são chamadas de Cedro
e que durante muitos anos, antes da Prefeitura Municipal
e a SAPH fazer o florestamento com as Acácias marítimas,
era a única espécie arbórea juntamente
com o Transparente que embelezavam o local. Nesse ponto
existiu um grande rancho em forma de L que serviu de um
hotel chamado Miramar, cuja propaganda estava nos jornais
locais em 1928 e que ultimamente serviu à família
de Bernardino Orcina.
Esse próprio era de um argentino que aqui chegou
e se instalou na cidade e depois na orla do mar, com esse
referido estabelecimento que, além de servir de hospedagem,
também funcionava uma padaria e armazém-bar.
Chamava-se ARTUR VEGA e veio até nós, depois
que a embarcação em que servia, porque era
marinheiro mercante, teve problemas no porto de Rio Grande
e a tripulação foi dispensada. Pode ser que,
tentando a viagem de retorno ao seu país, haja dado
com os costados em nossa terra e aqui ficando para o resto
de sua vida.
ARTUR VEGA foi cercado de uma auréola de fantasias
porque diziam que era o maior nadador que passou por nossas
águas, inclusive, dando-se ao luxo de “ir tomar
café com seu compadre, o JOCA DOCUMENTO, na Barra
do Chuí e voltava, mas pelas águas do Atlântico”.
Verdadeiro exagero, principalmente por sua estatura e composição
física, além da idade!
No entanto, o fato mais pitoresco e curioso e que diziam
nas redondezas, era que em determinadas ocasiões,
despedia-se dos entes queridos e avisava que passaria muitos
dias dentro do mar, pois, iria nadar mais ou menos 200km
em direção ao sudeste, a fim de visitar o
local “onde se formam os ventos”, numa zona
de redemoinho e constantes nuvens. Coisas do folclore local
e que ainda hoje, os mais antigos, lembram-se dessa narrativa.
Já o conheci velho e, portanto, era uma figura de
meu ideário e quem sabe, mais um de meus heróis
preferidos, quando dava as minhas primeiras braçadas
para tornar-me igual em minha inocência, como as figuras
do cinema, em especial, Tarzam.
Essa era uma de minhas histórias favoritas contadas
pelo meu pai que também se dava muito bem nas lides
do mar, mas sempre narrando o fato, alertava-me para a impossibilidade
do mesmo acontecer.
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Recorte de uma foto de boletim
metereológico da ZH, onde no local, aparecem
grandes quantidades de nuvens.
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Uma vez, quando os satélites metereológicos
popularizaram as fotos espaciais e a previsão de
tempo tornou-se com muitas possibilidades de acerto, vi
numa as fotos, que sempre naquela direção
do Atlântico, conforme narra a lenda, nuvens existiam
no local, atestando uma zona de baixa pressão onde
os ventos, principalmente o furioso, úmido e frio
Vento Sul, se formavam. Levei o recorte do jornal com a
foto em questão para aquele contador maravilhoso
de contos e, como professor de Geografia, pude informá-lo
orgulhosamente que, o ARTUR VEGA, ou melhor, que aquilo
que ele contava, mesmo que não fosse lá, era
a pura verdade.
E hoje, quando os órgãos de imprensa fazem
aquele sensacionalismo com avisos tétricos de grandes
calamidades metereológicas, que na maioria das vezes
não acontecem, para o nosso bem estar, fico lembrando
do pequeno-grande homem do Prata que aqui se instalando,
serviu com seu hotelzinho Miramar e com idéias fantásticas
de seus passeios, mas com a certeza de que, lá para
os lados do sudeste, encontra-se o LOCAL ONDE SE FORMAM
OS VENTOS NO MAR DO HERMENEGILDO.
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