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As Curiosas Participações dos Cordões Carnavalescos

Neste mundo de hoje, em especial, no país do carnaval, onde a parte poética e musical deixou de ser um referencial e a cujos grupos, que nem sei se apresentam nomes, os idos finais dos anos 20, poderiam parecer algo inusitado e de outro planeta. No entanto, quer pelo isolamento, por capacidade lírica dos membros da sociedade de então, onde se versejava e musicava-se com grande brilho, “os Carnavais de então”, eram, pelo menos, diferentes.

“Os cordões” pareciam como as escolas de samba. Possuíam uma rivalidade, tanto nas apresentações, como nas músicas que na maioria das vezes, estavam compostas por nossos poetas e a musicalidade saia de peças da atualidade, em especial, dos carnavais do Rio de Janeiro ou das gravações em discos da moda.

Esses blocos tinham sua formação especial e de uma fidelidade severa, onde as trocas de entidades eram vistas como alta traição. Muitas ocasiões, as guerras eram praticadas por versos agressivos ou jocosos, guerra de lança perfume, confete e serpentina e devido aos excessos do álcool, em dados momentos, aconteciam, também, ataques a punhos, quando as diretorias dos clubes deviam interferir, ou quando também, a polícia local.

O cordão, chamado “Grupo Carnavalesco os Pesados”, se apresentava nos salões da cidade e possuindo uma orquestra própria. Liderada desde a batuta pelo Carmelito Goulart e cujos bailes eram iniciado com a indefectível Polonaise e terminava numa batucada furiosa e contagiante.

Os “Aí vem eles” com suas marchinhas de inspiração do hilariante e brilhante poeta Amaro Martins Neto e na nº 2 dizia assim:

Nós somos o “ahi vem elles”
Um grupo pequeno, mas original.
Que continuamos sempre
tomando parte no Carnaval

Salve cordões amigos
Salve também aquelles
que formam o conjunto
deste grupo “Ahi vem elles”

Estes grupos quase sempre eram patrocinados por figuras de destaque da sociedade e na foto exposta vemos o mesmo, na hoje estância do Dr. Jorge Figueiredo, em 22 de janeiro de 1928.

Mas a associação mais curiosa ao nosso ver, era o chamado “Grupo Carnavalesco SUNGA CALÇA”, cuja razão do nome não foi possível descobrir, mesmo na nota transcrita no Sul do Estado de 5 de fevereiro de 1928. Era composto por operários do Theatro Independência, das obras da Santa Casa, dos trabalhadores do palacete do Cel. Brasiliano Correa e dos barraqueiros da firma Anselmi.

Deve dizer-se que era formado pela camada foliã mais humilde da cidade e na sua maioria, constituído por “pardos e negros” e que tinham como sede o Clube Recreio Operário, localizado na rua Don Diogo de Souza, esq. Mirapalhete e que, já afirmamos isto antes, foi o início do Clube Liame Operário.

Com marcha de guerra de momo e sob a inspiração do grande Dorvalino, o conhecido NENITO, e cujo título, mais que sugestivo era LONGARINAS, serviu para abrilhantar o carnaval de 28 e retratar passagens do cotidiano de nossa cidadezinha.

LONGARINAS

Carnaval, sempre cada ano
Sai cordão fazendo graça
São tão novos arcanos
Para cantar pela praça.

Anda cá, diz Chico Plastina
Com todos seus honorários
Se a prateada Longarina
Canta bem os repensórios

Não posso “fazer mais fita”
Só Pedro Rotta e Chico Costa
Não tem gente bonita
Para nos dar resposta

Roderico, “Ahi vem elles”
Levarão de certo o tombo
Nosso club é o melhor deles
Não manda lavar o bombo.

E ainda mais um gracioso verso por ocasião da ausência do grupo “Vai ou Racha”, que dizia assim:

Que será feito do “Vai ou Racha”
Que este ano não se mexeu?
Foi atacado de hidrofobia
Devido a água que já bebeu

Esta marchinha foi cantada agora, pela Carnavalesca Ida Donato Castro que, mesmo passando tantos anos, ainda recorda.
Vivam os ecos de “Velhos carnavais que não voltam mais”.



 

“Os Pesados” num churrasco na Estância de Jorge Figueiredo

 

Carnaval na Rua 13 (atual Barão do Rio Branco)


Prédio atual onde foi o Club Recreio Operário



Homero Suaya Vasques Rodrigues
homero@planetsul.com.br