|
|
Artigo
Governo e Realismo
Germano Rigotto*
Se elaborarmos um rol dos estadistas que a humanidade produziu e se
buscarmos identificar o que todos tinham em comum, saltará perante
nossos olhos uma evidência: todos foram pessoas eminentemente
realistas. Ocupavam-se com fatos. As idéias – e de dois
séculos para cá as ideologias – lhes serviam como
instrumentos para intervir na realidade. Ninguém que tenha feito
o contrário, colocando a realidade a cabresto da ideologia, contribuiu
para outra coisa que não tenha sido fracasso e atraso, quando
não totalitarismo e opressão.
Sou um realista porque sei, também, que é através
da conduta realista que se alcançam os ideais mais elevados.
É desde essa perspectiva que vejo o Estado e, nele, a função
de governo que me cabe conduzir. É desde essa perspectiva que
compreendo a realidade, mesmo quando ela não tem o feitio que
mais me agrada. Reconhecer limites, quer sejam impostos pelas circunstâncias,
quer determinados pela conjuntura, quer ainda pelo quadro das instituições,
é condição para governar com realismo.
Foi assim que como deputado federal lutei por uma verdadeira Reforma
Tributária. Conhecia então, tanto quanto sei agora, a
injustiça que as atuais regras impõem aos entes federados
na repartição do bolo tributário e os ônus
que determinam à sociedade. É assim que, como governador,
venho nos impondo um programa de redução de gastos que
só não se esgota na possibilidade de aprofundá-lo
porque estamos abertos a toda sugestão legalmente viável,
tecnicamente aplicável e socialmente suportável.
Ao referir esses três limitadores também estou sendo realista.
Não posso fazer o que a Constituição Federal proíbe.
Não posso fazer o que seja tecnicamente irrealizável ou
cujo ganho resulte inferior ao dano que produza. E não posso
fazer o que seja socialmente insuportável nem deixar de fazer
o que seja socialmente indispensável.
Mas posso e estou fazendo, no governo, tudo que está ao nosso
alcance para manter ativas as funções do Estado, pois
sua paralisia é socialmente insuportável. Como governador
estarei rasgando solene juramento constitucional se permitir que se
sustem atividades que envolvem as insubstituíveis responsabilidades
do Governo para com os cidadãos.
Ouço, por vezes, afirmações pouco esclarecidas
sobre a utilidade do Estado. O viés em que são formuladas
dá a entender que se trata de uma estrutura que nada faz ou que
consome recursos em si mesma, como a máquina do feiticeiro que
operava 24 horas por dia sem produzir coisa alguma.
É preconceito ou desinformação desconhecer que
mantemos milhão e meio de alunos na rede pública, uma
estrutura de apoio à saúde pública que nos coloca
em primeiro lugar nos indicadores nacionais, dezenas de milhares de
policiais civis e militares atuando, no limite extremo de seus contingentes
e de possibilidades, para a segurança da sociedade; dois mil
e quinhentos técnicos que promovem permanente apoio e assistência
a um quarto de milhão de produtores rurais; poderes de Estado
sem os quais entrariam em colapso a justiça, os direitos individuais
e a democracia. Estruturas voltadas à promoção
do desenvolvimento, à tecnologia e ao apoio à atividade
privada. Ações de fiscalização indispensáveis
à preservação do meio ambiente e do patrimônio
histórico. Apoio à cultura e à sua difusão.
Programas irredutíveis de atenção social, sem os
quais seriam ainda mais agudos os padecimentos dos setores mais desprotegidos
da sociedade. Fornecimento de remédios às populações
carentes, e bem podemos avaliar as conseqüências de sua falta.
Tudo isso e muito - muito mais! - faz o Estado. E não pode deixar
de fazer sem gravíssimo dano social.
*Governador do Estado
|
|
|