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O primeiro gaúcho brasileiro teria
nascido na Barra do Chuí?
Esta história nos foi contada pela dona Laura, segunda
esposa do Joca Documento, criador do balneário da
Barra do Chuí, lá na longínqua década
de 1940, no século passado.
Quando Martim Afonso de Sousa, fidalgo português,
naufragou na foz de um arroio, talvez Chuí ou Solis
(no Uruguai), vinha na tripulação lusitana
um jovem marinheiro de nome Fernão Góes de
Almeida, originário da parte norte de
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Portugal e que tinha, como a gente daqueles lugares, uma
complexão alta, cabelos loiros e encaracolados e
olhos azuis.
Na epopéia daquele que depois viria a ser o fundador
do nosso primeiro núcleo populacional, a vila de
São Vicente, em São Paulo, narrada por seu
irmão, Pero Lopes de Souza em seu famoso "Diário
de Bordo", os tripulantes da nau São Gabriel
foram muito bem tratados pelos índios pampeanos,
que se autochamavam Querendis ou Carendis e que na descrição
do já citado Diário dizia: "Os ares e
as águas são tão puros que a caça
e a pesca que aqui fizemos levam vários dias para
se deteriorar (bons tempos aqueles!). Os homens eram varonis
e as mulheres mais bonitas que as do reino e andavam todos
totalmente nus, sem nada a tapar-lhes suas 'vergonhas'".
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Dessa situação houve um encontro romântico
entre o jovem Fernão e uma indiazinha de nome
Airã. Provavelmente entre as escapadas pelas
bonitas barrancas da Barra do Chuí a união
entre os dois amantes se realizou, nas luas límpidas,
e quando sem estas todas, as noites estreladas, e
os nascer e pôr-de-sóis tão bonitos
nestas terras mais ao sul do Brasil.
Desde outubro de 1531 até março de 32
a vida foi se desenvolvendo entre os primitivos e
a gente de além-mar, mas a hora da partida
chegou e todos tiveram a dolorosa contingência
de separar-se para nunca mais se ver. O casal viu
a triste separação: ela não podendo
partir e ele não tendo como ficar...
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Barra
do Chuí - Quando o arroio passava em
frente ao balneário, a ponte de madeira
ligava-o à costa
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Ponto final nesse encontro de brancos e índios.
No entanto, a vida corria normal, só que o
ventre de Airã começou a crescer e tempos
depois nasceu um guri (denominação pampeana
para criança) que passou a viver muito bem
aceito na comunidade daqui e a se distinguir pelas
suas feições, principalmente sendo mais
alto que os demais meninos e com cabelos loiros, encaracolados
e olhos azuis (embora como os dos mongóis)
e a pele morena sendo estes últimos resquícios
de sua origem materna. Era uma verdadeira mistura
entre o branco português e o silvícola
das barrancas do Chuí.
Este menino, o qual não nos foi dito o nome,
passou a ser chamado de Guaxo, que na língua
selvagem do sul quer dizer "animal sem pai ou
mãe" e que na fonética espanhola
é pronunciado "gáucho" e na
dos portugueses "gaúcho", idioma
no qual a palavra adquiriu o sentido que possui hoje.
Se continuou sua descendência com esse tipo
físico não sabemos, mas foi a mistura
de ambas as raças, a índia e a branca,
que talvez, numa noite bonita de lua nas barrancas
da Barra do Chuí, ao som vibrante do mar e
o espelho tranqüilo do arroiozinho que quer dizer
"o das tartarugas, do pássaro Xuéu
(que deve ser o cardeal ou o pintassilgo) ou vagaroso",
com eternas juras de amor que a sanha ibérica
de colonização ceifou tão precocemente
.
Desta maneira dizemos: foi o filho de Fernão
Góis de Almeida e Airã o primeiro gaúcho
do Brasil?
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